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·7. September 2025
Antigo lateral do Sporting retira-se aos 32 anos: «A vida é muito mais do que uma carreira»

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·7. September 2025
Cristiano Piccini colocou um ponto final na carreira. Aos 32 anos, o antigo lateral direito do Sporting confirmou a retirada dos relvados, através de uma sentida mensagem publicada na respetiva conta de Instagram.
Numa espécie de narrativa escrita do presente para o passado e dirigida a si mesmo enquanto criança que fez crescer o sonho de ser futebolista, o internacional transalpino resumiu todas as etapas até ao presente.
«Caro Cristiano, escrevo-te de longe. De um tempo que tu, agora, nem consegues imaginar. Escrevo-te de balneários que cheiram a glória e lágrimas, de estádios lotados que fizeram as tuas pernas tremerem e de quartos de hotel onde te sentiste mais sozinho do que nunca», pode ler-se nos primeiros parágrafos.
«Queria dizer-te que conseguiste. Vestiste as camisolas que, quando eras criança, só vias na televisão. Viajaste pelo mundo. Aprendeste cinco idiomas. Viveste em cidades cujos nomes nem sabias pronunciar. E sim, realizaste o teu maior sonho: vestir a camisola da seleção nacional», acrescentou.
«Vais aprender que o futebol não é só dribles e aplausos. É também depressão, solidão, malas sempre prontas. É ser um número para quem te paga e um símbolo para quem te ama. Mas, acima de tudo, aprenderás que a vida é muito mais do que uma carreira», assegurou ainda.
Contratado pelo Sporting ao Betis por quase três milhões de euros no verão de 2017, Piccini cumpriu apenas uma época de leão ao peito.
Mesmo assim, tempo suficiente para deixar uma boa imagem, fruto dos 40 jogos, duas assistências e exibições de bom nível com a camisola verde e branca.
Depois da passagem por Portugal e com vários problemas físicos associados, Piccini representou o Valencia, Atalanta, Estrela Vermelha, Magdburg, Sampdoria, Atlético San Luís e Yverdon.
O discurso de Piccini na íntegra: «Caro Cristiano,
Escrevo-te de longe. De um tempo que tu, agora, nem consegues imaginar. Escrevo-te de balneários que cheiram a glória e lágrimas, de estádios lotados que fizeram as tuas pernas tremer e de quartos de hotel onde te sentiste mais sozinho do que nunca.
Sou o teu eu de hoje. E tenho muitas coisas para te dizer.
Lembras-te de quando pontapeavas o muro, no campo atrás de casa, convencido de que bastava sonhar alto para chegar ao topo? Não tinhas nada, a não ser uma bola e um coração que batia pelo futebol. Não sabias o quanto seria difícil. No entanto, nunca desististe. Muito bem.
Queria dizer-te que conseguiste.
Vestiste as camisolas que, quando eras criança, só vias na televisão. Viajaste pelo mundo. Aprendeste cinco idiomas. Viveste em cidades cujos nomes nem sabias pronunciar. E sim, realizaste o teu maior sonho: vestir a camisola da seleção nacional.
Mas nem tudo foi glória. Houve um lado que não te contaram. Aquele que não se vê nos sonhos de uma criança.
Vais quebrar. Literalmente. O teu joelho direito vai fazer-te conhecer o inferno. Estarás a um passo de desistir de tudo. Verás companheiros a ultrapassarem-te, contratos a desaparecerem, portas a fecharem-se.
Mas sabes que mais? Vais levantar-te. Sempre.
Vais aprender que o futebol não é só dribles e aplausos. É também depressão, solidão, malas sempre prontas. É ser um número para quem te paga e um símbolo para quem te ama.
Mas, acima de tudo, aprenderás que a vida é muito mais do que uma carreira. Descobrirás o amor verdadeiro. Serás pai de dois filhos que te olharão como tu olhavas para os teus ídolos. E compreenderás que o maior sucesso não é um troféu, mas voltar para casa à noite e sentir que, apesar de tudo, és o herói deles.
Hoje já não és o miúdo que acreditava ser invencível. És um homem. Tens cicatrizes, sim. Mas são elas que te tornam verdadeiro. São elas que contam a tua história.
E se posso dizer-te uma coisa, meu filho, é esta:
nunca deixes de acreditar. Mesmo quando te dizem que está tudo acabado. Mesmo quando te sentes perdido.
Porque cada vez que caíste, foi apenas para aprender a levantar-te mais forte.
Amo-te.
Com orgulho,
Cristiano.»