Futebol Latino
·14. November 2025
Defensor das SAFs, Verón reforça crítica ao futebol argentino

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·14. November 2025

Assim como já havia acontecido ao final da última temporada, o ex-jogador Juan Sebastián Verón, que é o atual presidente do Estudiantes, voltou a fazer duras críticas ao atual cenário econômico do futebol na Argentina.
“O negócio no futebol (argentino) chegou ao limite. Você pode competir com o futebol brasileiro, mas nas fases finais precisa de capital, que é o que o clube argentino não tem”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.
“(O futebol argentino) Está constantemente correndo atrás de dinheiro, vendendo cada vez mais jogadores, e isso simplesmente não é suficiente para competir no mais alto nível. Você monta uma equipe e já está endividado, trabalha durante o próximo ano ou semestre para ver o que tem para vender, paga as dívidas e continua se endividando”, agregou.
Em novembro de 2024, Verón havia criticado o valor das premiações no futebol da Argentina em comparação com o Brasil. Para ele, os prêmios “não pagam nem o ônibus dos torcedores”.
“E aqui entre o Torneio dos Campeões do Mundo e a Copa Argentina, nem cobre os custos de ônibus para os torcedores. Mas o clube pertence aos sócios”, comentou o dirigente nas redes sociais. Na época, ele fez alusão ao prêmio da Copa do Brasil conquistada pelo Flamengo, que chegou a R$ 93,1 milhões no total, sendo R$ 73,5 milhões somente na final.
Na Argentina, os valores das premiações estão muito distantes dos do Brasil. O campeão da Copa Argentina, por exemplo, recebe apenas 170 mil dólares (cerca de R$ 985 mil). Para se ter uma ideia, o valor de um clube que chega à terceira fase da Copa do Brasil ganha em torno de R$ 2,2 milhões. Já a extinta Copa da Liga Argentina, conquistada pelo Estudiantes (de Verón), oferece ao campeão um prêmio de 500 mil dólares, aproximadamente R$ 2,9 milhões.
Para especialistas, as críticas de Verón tem fundamento e teriam solução com a abertura para constituição das SADs (Sociedade Anônima Desportiva) na Argentina, que promoveria no país um conjunto de mudanças maior e mais célere do que vimos no Brasil. No entanto, com frutos sendo colhidos a médio e longo prazo.
“A irresponsabilidade, o paternalismo e a demagogia marcaram a politica e governos argentinos nas últimas décadas e destruíram a economia do país. Naturalmente, como todas as outras indústrias, a do futebol seria afetada por isso. Uma saída é viabilizar a constituição de SAFs, fazendo com que consigam equilibrar forças com brasileiros em uma década”, avalia Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil. A empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, gerencia a carreira de diversos atletas ao redor do globo.
“Vale destacar que a mentalidade dos dirigentes também impacta. Na Argentina, o futebol ainda é visto como um patrimônio cultural, com forte ligação à paixão popular e à resistência ao modelo corporativo, o que limita a exploração comercial do esporte. Por outro lado, o Brasil, mesmo enfrentando desafios, tem adotado uma abordagem mais pragmática, que une paixão à visão de negócios. O Brasil também tem conseguido atrair patrocínios de grandes marcas internacionais, inclusive para clubes menores, enquanto a Argentina enfrenta dificuldades em competir nesse mesmo espaço devido à sua fragilidade econômica”, diz Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios.
“A SAF permite a chegada de investidores mais qualificados, interessados não somente em emprestar dinheiro ou trocar dívidas com as obsoletas associações, como no passado. Os novos investidores do futebol brasileiro visam à compra de ações das SAFs, seguida pelo investimento em infraestrutura e/ou elenco, com objetivo de colherem frutos decorrentes do acréscimo das receitas ou da venda futura de um ativo valorizado”, aponta Cristiano Caús, especialista em direito desportivo e gestão do futebol.
“O Brasil é, sabidamente, o país mais rico da América do Sul e o futebol brasileiro é o resultado dessa condição. E a diferença com nossos ‘hermanos’ será ainda mais acentuada com o advento da Liga, mas para isso é necessária uma conversão de interesses dos dois movimentos hoje existentes em prol de um mesmo futebol nacional. Outro aspecto a se considerar também é o fair play financeiro, que nunca fez tanto sentido quanto neste momento, em que temos MCOs e a entrada de capital de investidores profissionais estrangeiros, entre eles fundos soberanos de países com recursos minerais inesgotáveis. O equilíbrio esportivo dependerá de bons regulamentos esportivos”, acrescentou.
O Estudiantes, time que Verón preside, foge à regra dos principais clubes argentinos e tenta ir na contramão das regras impostas pelo futebol do país. Sobretudo, da Associação do Futebol Argentino (AFA), no intuito de se tornar uma SAD (Sociedade Anônima Desportiva), equivalente à SAF (Sociedade Anônima do Futebol), no Brasil.
Talita Garcez, sócia do escritório Garcez Advogados e Associados e com mais de uma década de experiência na área, entende que o Estudiantes pode tentar romper as barreiras políticas e jurídicas que hoje impedem a criação de SADs na Argentina.
“Há um embate claro entre governo e AFA. O caminho passa por duas frentes: de um lado, a pressão política, aproveitando o discurso do presidente Milei, que já se posicionou favorável à abertura do futebol ao capital privado. De outro, a via judicial, questionando se a AFA pode de fato restringir a autonomia dos clubes em se organizarem como empresas. Portanto, sim, existem recursos e meios para avançar. Mas o êxito depende muito mais da correlação de forças entre AFA e governo”, explica a advogada.
Em julho de 2024, o governo da Argentina havia liberado o capital privado no futebol argentino a partir de novembro deste ano, autorizando a transformação em Sociedades Desportivas (SADs). Mas o principal entrave para essa mudança está na briga com Claudio Tapia, presidente da Associação do Futebol Argentino. Com seu poder de mobilização, ele conta com suporte dos clubes mais tradicionais do país, como o Boca Juniors, fazendo com que essas medidas cautelares parem na Justiça e barrem a liberação.
“A transformação dos clubes em SAF em todo o mundo (e o Brasil é uma prova recente disso) retrata que é um caminho sem volta de investimentos dentro e fora dos campos. E um sinal de esperança não apenas para os chamados grandes, mas também aos menores, que passam a contar com novas receitas para incrementarem seus elencos e estruturas. É preciso, no entanto, boa gestão. Alguns clubes sul-americanos têm seguido esse caminho, mas é uma minoria. A partir do instante em que isso se tornar uma realidade, principalmente aos argentinos, creio que o nível de competitividade terá um efeito maior de equilíbrio”, pontua Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, especializada no gerenciamento da carreira de atletas.
A troca de farpas não terminou por aí. Em julho deste ano, o presidente da Argentina, Javier Milei, usou suas redes sociais para elogiar o futebol brasileiro e falar da transformação dos clubes argentinos em SAFs (SADs, na Argentina), após a eliminação de Boca Juniors e River Plate ainda na primeira fase da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, disputada nos Estados Unidos. As críticas também foram um ataque ao presidente da AFA, Claudio Tapia, avesso a tal modelo de gestão:
“Nem River, nem Boca. Sem argentinos no Mundial de Clubes. O Brasil foi com quatro times, os quatro passaram. Até quando teremos que apontar o fracasso do modelo Chiqui Tapia? Um campeonato frágil, com 30 times, sem competitividade, sem SAD, sem incentivos. Não está a altura do tremendo público argentino que lota estádios ao redor do mundo. Insisto, Chiqui Tapia e seu minúsculo círculo fazem mal ao futebol argentino.”
Além da questão da SAF, o Estudiantes busca a captação de novas receitas para diminuir o atual distanciamento. Dentro do moderno Estádio UNO, o restaurante León se tornou um diferencial do Estudiantes, sendo um dos três estabelecimentos desse tipo em estádios de toda a Argentina. Localizado à beira do campo, o espaço funciona durante todo o ano e oferece uma experiência gastronômica completa, aproximando ainda mais o torcedor da atmosfera do clube.
“Hoje, estádios e arenas precisam ir além do futebol. Espaços como camarotes e restaurantes têm potencial para se tornarem verdadeiros pontos turísticos. Funcionando durante o ano inteiro com shows, eventos, jogos e até experiências gastronômicas, a ideia é transformar o torcedor ocasional em um frequentador desses ambientes e atrair outros públicos”, afirma Leo Rizzo, CEO da Soccer Hospitality, empresa especializada em ambientes premium dentro dos estádios.









































