
Central do Timão
·15. April 2025
Diretoria do Corinthians não entrega contas de 2024 ao CORI; motivo seria imbróglio sobre balanço anterior

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·15. April 2025
Na noite desta segunda-feira, 14, o Conselho de Orientação do Corinthians se reuniu no Parque São Jorge para deliberar sobre as contas referentes ao exercício de 2024, o primeiro da gestão Augusto Melo. A reunião, no entanto, acabou frustrada pela não-apresentação do relatório final por parte da diretoria, impedindo que o órgão fiscalizador emitisse um parecer sobre as finanças do clube no ano passado.
Segundo apuração da Central do Timão, o presidente Augusto Melo esteve na reunião, acompanhado do diretor financeiro Pedro Silveira – este falou aos conselheiros em nome da gestão. Segundo o diretor, o balanço de 2024 ainda não pôde ser apresentado, pois dependia de ajustes que não haviam sido conciliados pela equipe responsável.
Foto: Reprodução
Ainda segundo apurado, os “ajustes não conciliados” têm relação com a polêmica levantada recentemente sobre uma suposta irregularidade contábil no balanço do Corinthians relativo a 2023, que teria sido encontrada pela atual diretoria financeira e que gerou reações diversas, com trocas de notas entre a diretoria e o CORI e posicionamentos tanto de Pedro Silveira quanto de Wesley Melo, ex-diretor financeiro do clube (ver abaixo).
O tema foi detalhado em matéria do ge.globo, cuja apuração revelou que a atual diretoria alvinegra alega ter identificado um “rombo não contabilizado” nas contas do último ano da gestão Duilio Monteiro Alves — algo que, até então, não havia sido apontado por nenhuma das partes envolvidas na análise e aprovação dos números: a auditoria RSM, as consultorias Falconi, EY e Alvarez & Marsal, além dos órgãos fiscalizadores do clube, como os Conselhos Fiscal, de Orientação e Deliberativo
A reportagem ainda apontou que a gestão corinthiana estima que os valores em análise giram entre R$ 150 e 200 milhões, referentes a dívidas tributárias “ainda em discussão na Justiça”, que segundo a diretoria deveriam ter sido incluídas nas contas de 2023. A tese levantada é de que, ao não fazer isso, a gestão anterior teria apresentado resultados financeiros mais positivos do que os reais em seu último ano de mandato.
Cronologia da polêmica
A polêmica em torno do tema, no entanto, começou dias antes. No dia 2 de abril, o Conselho de Orientação (CORI) se reuniu para ouvir Marcelo Munhoes, ex-chefe de TI do clube, sobre o escândalo envolvendo o Fiel Torcedor e as denúncias de desvio de ingressos e aumento do cambismo.
Na mesma reunião, o CORI recebeu da diretoria um draft com números preliminares do balanço de 2024. No entanto, o documento não foi analisado, por não se tratar da versão final — que, segundo compromisso firmado anteriormente, deveria ter sido entregue até 31 de março, prazo que foi descumprido pela gestão.
A Central do Timão chegou a publicar matéria sobre esta reunião, detalhando o depoimento de Munhoes e mencionando o envio do draft do balanço, sem, no entanto, revelar seu conteúdo. Em resposta, o clube divulgou uma nota oficial atribuindo indevidamente ao portal a publicação de informações do rascunho — divulgadas, na verdade, por outros veículos — e adiantou dados sobre as contas de 2024. Entre eles, o “reconhecimento, no balanço, de dívidas herdadas de gestões anteriores que não estavam contabilizadas”.
O CORI também se manifestou, por meio de nota, criticando o posicionamento da diretoria e lamentando o “enfrentamento a um órgão institucional” e reforçando que se manifestaria sobre a nota somente após a gestão entregar todos os demonstrativos necessários. Vale lembrar que o órgão se reuniu nesta segunda-feira para analisar o balanço de 2024, que também será avaliado pelo Conselho Deliberativo no próximo dia 28.
“Irresponsabilidade e leviandade”
Na nota divulgada por Wesley Melo, o ex-diretor relata alguns desdobramentos ocorridos após a reunião do CORI. Segundo ele, no dia seguinte ao encontro, o atual diretor financeiro Pedro Silveira o convidou para uma reunião, na qual informou sobre a identificação de “contingências passadas”, ainda em análise, que estariam motivando a atual gestão a considerar a reabertura das contas daquele exercício.
Wesley teria se colocado à disposição para entender e esclarecer essa questão, o que foi reforçado após a nota do CORI, já citada nesta matéria. Tal encontro ocorreu na última quinta-feira, 10, quando o ex-diretor foi recebido no Parque São Jorge por um grupo de representantes da gestão: o presidente Augusto Melo, o diretor Pedro Silveira, dois membros da Alvarez & Marsal, o superintendente financeiro Luiz Ricardo Alves (o Seedorf), o atual contador do clube, um membro do Conselho Fiscal e um consultor financeiro.
Neste encontro, alguns temas foram levantados, mas sem maiores detalhes. Então, no dia seguinte, a reunião continuou, dessa vez com Roberto Gavioli, superintendente financeiro que trabalhou com o ex-diretor e a quem a diretoria teria exigido a assinatura de um NDA (Non-Disclosure Agreement, ou acordo de confidencialidade) antes de lhe apresentar “relatórios não oficiais, planilhas e análises paralelas”, insuficientes para embasar as alegações sobre contingências não contabilizadas em 2023, segundo Wesley.
Ele também cita, na nota, que a essa altura já tinha ciência da matéria que seria publicada no ge.globo, por ter sido abordado pela reportagem, afirmando que somente poderia prestar esclarecimentos após a reunião com dirigentes atuais do Corinthians. A matéria acabou sendo publicada antes que o ex-diretor tomasse conhecimento dos fatos na sede do Corinthians.
Wesley Melo lembrou que, embora as contas de 2023 sejam relativas ao último ano da gestão Duilio, praticamente todo seu processo de análise e aprovação aconteceu na gestão Augusto: a auditoria feita pela RSM, a validação do Conselho Fiscal, composto por aliados da gestão, e a aprovação por unanimidade no CORI, onde oito dos nove membros eleitos faziam parte da situação àquela época, e também no Conselho Deliberativo por ampla maioria de votos.
O ex-diretor também ressaltou que o balanço de 2023 foi fechado apenas em abril de 2024, ou seja, quando a gestão atual já estava em seu quarto mês de mandato, com pleno acesso aos números. Wesley argumenta que qualquer irregularidade deveria ter sido detectada já neste momento, afirmando que os profissionais à frente da diretoria financeira de Augusto tinham capacidade para fazê-lo.
Wesley concluiu sua nota lamentando a condução desta situação, dizendo que a atual gestão “cria factóides para encobrir o aumento astronômico do endividamento e seu completo descontrole das contas e de sua demonstração”.Resposta de Pedro Silveira
O diretor financeiro Pedro Silveira respondeu à nota de Wesley Melo com outra nota, na qual lamentou a manifestação do ex-diretor e negou suas afirmações. Segundo ele, a reunião com Wesley foi motivada pela detecção de uma discrepância entre os valores das contingências financeiras de 2024, parte integrante do balanço, e os valores do ano anterior. Ele também alegou que o documento final não foi entregue ao CORI na data combinada (31 de março) devido a essa inconsistência.
Então, o diretor optou por entregar um rascunho ao órgão fiscalizador e solicitar um novo prazo para a entrega do relatório final, dando início a um trabalho conjunto com as consultorias Alvarez & Marsal e GF Auditoria, empresa que substituiu a RSM.
Pedro confirmou que convidou Wesley para uma reunião, que ocorreu de fato no último dia 4, na qual ele foi aconselhado a informar a RSM, que auditou o balanço de 2023, sobre o tema. Além disso, a nota confirma a contratação de pareceres técnicos, advogados e também de Eliseu Martins para analisar a questão.
O diretor financeiro também confirmou as reuniões dos dias 10 e 11, afirmando que pediu a Wesley que elaborasse uma nota técnica sobre o tema com justificativas a respeito, afirmando que houve divergências de abordagem. Também foi confirmado o pedido a Gavioli para assinar um NDA, “como medida de segurança e confidencialidade”.
O dirigente negou que tenham sido solicitados documentos adicionais e afirmou que, caso o ex-diretor venha a fazê-lo, será prontamente atendido. Por fim, declarou que o tema será conduzido com cautela e diálogo.O que esperar?
A reunião do CORI desta segunda-feira precede outra, ainda mais importante: a votação das contas de 2024 pelo Conselho Deliberativo, no dia 28, apenas dois dias antes da data-limite estabelecida pelo Código Civil (Lei 10.406/2003, artigo 1078) e pela Lei Geral do Esporte (Lei 14.597/2023, artigo 63) para que associações como o Corinthians publiquem suas demonstrações contábeis.
O descumprimento do prazo previsto em lei pode acarretar sanções ao Corinthians. O clube pode, por exemplo, ficar sujeito à exclusão do Profut, criado em 2015 e que permite o parcelamento de impostos atrasados com a União. Caso isso ocorra, o clube ficaria impedido de obter a Certidão Nacional de Débitos, documento essencial para contratar empréstimos em bancos, receber incentivos e subsídios ou negociar patrocínios com empresas estatais.
Já a Lei Geral do Esporte prevê sanções diretas aos dirigentes responsáveis pelo atraso na publicação das contas — incluindo não apenas o presidente, mas todos os envolvidos, ainda que por omissão. Eles podem ser afastados de seus cargos e declarados inelegíveis por até 10 anos para qualquer função em entidades esportivas. A legislação também estabelece a nulidade de todos os atos praticados por esses dirigentes em nome da instituição após a infração, protegendo os direitos de terceiros, obtidos de boa fé.
A Central do Timão procurou a assessoria do presidente Augusto Melo e questionou sobre sua presença na reunião do CORI e se o mandatário alvinegro falaria sobre os fatos discutidos. Em resposta, a redação foi informada que, devido ao sigilo da reunião, o presidente não se manifestaria. O CORI, por sua vez, emitiu um breve pronunciamento oficial sobre o ocorrido. Confira:
“Comunicamos que o CORI – Conselho de Orientação se reuniu hoje dia 14/04/2025 às 19:00h conforme agendado desde 10/03/2025, para exame das Demonstrações Financeiras porém, infelizmente estas não nos foram entregues, tendo em vista a existência de dúvidas por parte da Diretoria sobre contabilizações eque possivelmente ficarão prontas em 17/04/2025 desta forma, esse Conselho se reunirá para deliberação após seu recebimento.“
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