
Calciopédia
·7. Mai 2025
Em duelo histórico, a Inter bateu o Barcelona e avançou à final da Champions League

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·7. Mai 2025
Já parou para respirar? Não satisfeitos com o jogaço de ida das semifinais da Champions League, no Olímpico de Montjuic, na Catalunha, Inter e Barcelona protagonizaram um confronto ainda mais épico na volta, em Milão. O estádio Giuseppe Meazza foi palco de um 4 a 3 de roteiro imprevisível, mas que sempre teve a equipe de Simone Inzaghi deixando cada gota de suor em campo, sem jamais se entregar ao extenuante cansaço que assola o elenco. No fim das contas, levou a melhor o time que ficou mais tempo à frente do placar no duelo: depois de aproximadamente cinco míseros minutos em desvantagem, os italianos avançaram à segunda final de Liga dos Campeões em três temporadas.
A preparação para o duelo foi recheada de percalços para os dois times, que optaram por utilizar os reservas em seus compromissos pelas ligas nacionais durante o fim de semana – ainda na briga pelos títulos italiano e espanhol, respectivamente, Inter e Barcelona venceram Verona e Valladolid. No caso dos nerazzurri, a escolha foi quase forçada, devido ao enorme desgaste físico do elenco.
Pelo lado italiano, Inzaghi conseguiu recuperar o capitão Lautaro, que começou jogando mesmo após ter sofrido um estiramento na musculatura posterior da coxa esquerda na ida, o que ocasionou sua saída da partida no intervalo, em Montjuic. Enquanto o argentino foi a campo no sacrifício, Pavard, que teve entorse no tornozelo contra a Roma e nem atuou na Catalunha, não teve condições físicas de ficar disponível para o duelo de San Siro e Bisseck seguiu no onze inicial nerazzurro. No time catalão, o técnico Hansi Flick pode relacionar Lewandowski, que ficou no banco. Os blaugrana, entretanto, tiveram os desfalques dos laterais Koundé e Balde, que foram substituídos por Eric García e Gerard Martín.
O capitão Lautaro quis ir para o sacrifício e foi decisivo na vitória da Inter sobre o Barcelona, com um gol e um pênalti sofrido (Getty)
Ao contrário do que ocorreu na capital da Catalunha, na partida de ida, quando a Inter achou o gol aos 30 segundos e deu vazão a um intenso “tiroteio”, os minutos iniciais do confronto em San Siro foram mais estudados. A Beneamata era mais eficiente em executar sua proposta de jogo, se doava no meio-campo e criava mais do que o adversário, mas pecava na conclusão das jogadas: parecia indecisa, como nas oportunidades em que Dumfries e Thuram hesitaram dentro da grande área. Aos 20, sua melhor chance naquele período da peleja se deu quando Barella chapelou Iñigo Martínez e emendou para uma defesa em dois tempos de Szczesny. Já o Barcelona pressionava alto e tentava se aproveitar de erros dos nerazzurri, mas não conseguia ser perigoso.
Aos 21 minutos, o que ocorreu foi o contrário. O Barcelona tentou sair jogando, mas Dimarco deixou sua posição na ala canhota e buscou a centralização para dar o bote em Dani Olmo. De imediato após a roubada, já acionou Dumfries no corredor, com um passe que rasgou a defesa blaugrana. No dois contra um ante Szczesny, o neerlandês só rolou para o capitão Lautaro completar para o gol vazio. Dessa forma, El Toro ampliou sua liderança na artilharia histórica da Beneamata na Champions League, chegando aos 21 tentos, e se igualou a Crespo como principal goleador da equipe numa mesma edição do torneio, com nove.
O gol foi uma vitória de Inzaghi, que costuma orientar os seus atletas a não guardarem posição em determinadas fases do jogo, e por apostar em Dimarco, que vinha sendo criticado por viver um momento ruim do ponto de vista defensivo. Durante a semana, o técnico foi muito pressionado a escalar Carlos Augusto, defensivamente mais sólido, para conter Lamine Yamal – minutos mais tarde, o brasileiro não entraria bem na partida e concederia mais espaços do que o italiano ao jovem craque. O tento também premiou a garra de Lautaro, visivelmente longe das melhores condições físicas e limitado por dores na coxa, mas desejoso por estar em campo com os companheiros e liderá-los na partida mais importante da Inter em 2024-25.
O Barcelona tentou reagir à desvantagem no placar, mas não mostrou o mesmo brilhantismo do restante da temporada – por méritos da Inter, que limitava suas ações. Em chances esporádicas, com Ferran Torres e Yamal, levou pouco perigo a Sommer na etapa inicial. Já a Beneamata, no outro lado do campo, colecionava chances. Aos 38 minutos, Mkhitaryan, numa sobra após corte da zaga catalã, pegou de primeira e assustou Szczesny. Em outra oportunidade similar, mas ainda mais clara, na casa dos 41, Çalhanoglu arrematou de esquerda, já de dentro da grande área, e quase fez o segundo.
Depois da penalidade sofrida por Lautaro, Çalhanoglu deslocou Szczesny e ampliou o placar para os nerazzurri (Getty)
Um outro gol da Inter parecia questão de tempo e, de fato, foi – e com participação direta tanto do armênio quanto do turco. A equipe de Milão conseguia explorar os espaços nas costas da zaga do Barcelona e conseguiu um pênalti quando Mkhitaryan ajeitou na medida para Lautaro entrar na área e ser derrubado por Cubarsí. Aos 45 minutos, Çalhanoglu foi para a cobrança e deslocou Szczesny, ampliando para os nerazzurri. Na hora dos festejos, Acerbi comemorou perto de Iñigo Martínez e recebeu uma cusparada do espanhol, o que gerou uma enorme confusão no gramado. O VAR, contudo, não convidou o árbitro Szymon Marciniak para rever o ocorrido, como fizera no lance que terminou com a marcação da penalidade.
Depois do intervalo, a Inter chegou a balançar as redes pela terceira vez justamente com Acerbi, completando uma cobrança de falta aos 52 minutos – no entanto, o lance foi invalidado por evidente impedimento do zagueiro. O Barcelona voltaria para o jogo logo depois, e contando com protagonistas improváveis. Aos 54, depois que algumas tentativas de passes dos catalães foram bloqueadas, Martín achou uma invertida para Eric García completar de primeira e mandar no ângulo, sem chances para Sommer.
A Inter não chegou a sentir o gol e respondeu quase de imediato, na casa dos 56 minutos. Após um lateral cobrado e o pivô de Thuram, Barella soltou uma bomba e Szczesny espalmou para escanteio. Ansiosa para voltar a ter uma vantagem mais expressiva no duelo, a Beneamata mandou muita gente para a área na cobrança do corner e acabou ficando vendida num contra-ataque de três contra dois iniciado por Yamal e protagonizado pelos dois laterais que participaram do primeiro tento.
O jeito com o qual a jogada foi construída teve todas as características necessárias para o Barcelona estufar a rede interista. Contudo, Sommer voou para impedir a doppietta de García e efetuar uma defesa monstruosa – sem dúvidas, uma das mais impactantes da temporada e de sua carreira. O suíço, porém, ainda faria mais milagres.
Herói improvável: quando tudo parecia perdido para os italianos, o zagueirão Acerbi levou o jogo para a prorrogação (Pics Action/NurPhotoGetty)
O momentum, contudo, era do Barcelona. E, aos 60 minutos, se aproveitando de uma distração da Inter, o time catalão buscou o empate com um novo cruzamento de Martín, que achou Olmo nas costas da defesa. O meia espanhol se redimiu do erro no primeiro gol nerazzurro ao aproveitar uma cochilada de Barella, que não o acompanhou na marcação, e cabeceou para as redes, permitindo que os blaugrana reescrevessem o roteiro de reação da ida: de 2 a 0 para 2 a 2 em um piscar de olhos.
Sentindo a presença de sangue na água, o Barça foi para cima da Inter, que foi mexendo em suas peças – logo depois do primeiro gol, Dimarco já havia dado lugar a Carlos Augusto; depois, aos 71, Bisseck e Lautaro, extenuado, foram rendidos por Darmian e Taremi. Um pouco antes disso, na casa dos 68, um raro erro de passes da Beneamata quase terminou em pênalti para o Barcelona. Çalhanoglu tocou na fogueira e Mkhitaryan acabou derrubando Yamal, levando Marciniak a apontar para a marca da cal – o árbitro polonês foi corrigido pelo VAR, que verificou o contato na entrada da área.
Já aos 77 minutos, Yamal, que frequentemente vinha levando a melhor sobre Carlos Augusto, o que não ocorria com Dimarco, recuou para encontrar espaço e, da entrada da área, arriscou um chute improvável, obrigando Sommer a voar e ceder escanteio. Depois desse lance, Inzaghi entendeu que não seria possível dobrar a marcação sobre o hispano-marroquino com pendurados em campo e optou por sacar os amarelados Çalhanoglu e Mkhitaryan, trocando-os por Zielinski e Frattesi.
A mudança do treinador italiano até melhorou a Inter, que passou a competir com mais intensidade e deixou as cordas, passando a atacar os visitantes. Aos 87 minutos, porém, a nova postura acabou punindo os nerazzurri. Na defesa, Dumfries já estava espetado, aguardando o momento de partir em contragolpe, após uma roubada de posse – que não ocorreu. O holandês acabou tomando uma bola nas costas e Raphinha, livre, dominou um passe de Pedri e chutou em Sommer; no rebote, o canhoto mandou para as redes de direita mesmo e chegou aos 13 gols na Champions League, empatando com Guirassy, do Borussia Dortmund, na artilharia.
Com defesas antológicas, Sommer venceu o duelo com o endiabrado Yamal e foi eleito melhor em campo (Getty)
Aos 87 minutos do jogo de volta, o Barcelona ficou na frente da Inter pela primeira vez em todo o confronto. A vantagem catalã, entretanto, não durou nem 360 segundos. Logo após Yamal acertar a trave nos acréscimos, a Beneamata achou um gol com Acerbi jogando como centroavante, numa antecipação muito esperta sobre Ronald Araújo e com uma finalização forte, que não deu chances a Szczesny. Vale destacar que o cruzamento para o herói improvável saiu dos pés de Dumfries, que se redimiu do lapso no tento blaugrana e chegou a uma marca expressiva no duelo: foram dois tentos e três assistências para o holandês nas semifinais.
Com média de idade bem inferior à da Inter, o Barcelona estava mais inteiro fisicamente do que a adversária, mas ainda tentou acabar com o duelo no tempo normal. No último lance do período regulamentar, Yamal recebeu nas costas de Carlos Augusto e teve a chance de definir, mas parou em Sommer, um gigante em San Siro. O desperdício custaria caro, pois, aos 99 minutos, na primeira oportunidade clara da prorrogação, a Beneamata ratificou o quanto é casca grossa e quão caro venderia uma derrota em casa. Thuram – que, mesmo exausto, não perdia duelos – realizou bela jogada pela direita e acionou Taremi, que fez o pivô para Frattesi bater no canto e virar o confronto a favor dos italianos, que retomavam a vantagem.
Durante grande parte da temporada, se convencionou que a Inter não tinha reservas, mas “co-titulares” – suplentes capazes de render tão bem quanto os jogadores que já estavam no clube. Por diversos motivos, alguns desses nomes não tiveram bom desempenho em 2024-25, mas chamaram a responsabilidade no jogo mais importante do ano para os nerazzurri.
Com muita valentia, inteligência e dedicação como marcador, Taremi coroou sua melhor partida pela equipe com uma assistência, enquanto Zielinski substituiu Çalhanoglu à altura e dirigiu a orquestra por alguns minutos. Já Frattesi, o mais fiável do elenco de opções de Inzaghi, foi tão decisivo quanto nas quartas, quando marcou o gol da vitória sobre o Bayern de Munique na Allianz Arena. Em San Siro, foi um leão: quase ficou de fora da partida de volta das semifinais por um estiramento muscular abdominal e chegou a ver sua pressão ficar baixa após balançar as redes. Mesmo assim, não deixou de lado a garra e incendiou a torcida.
Pediu bis: depois de ter marcado gol decisivo contra o Bayern de Munique, nas quartas, Frattesi repetiu a dose ante o Barcelona, nas semis (Getty)
Mais confiante e vendo até o que não funcionava passar a dar certo, a Inter ainda teria a chance de anotar o quinto gol no fim do primeiro tempo da prorrogação. Porém, quando Bastoni deixava Barella sozinho na grande área do Barcelona, um desatento Marciniak se precipitou e mandou os times trocarem de lado. Na segunda etapa, o clima seria de trocação.
O Barcelona buscava sempre Yamal – considerando que Raphinha, apesar do gol, viveu noite apagada. Aos 108 minutos, o jovem tinha pouco espaço, mas levantou a bola na área, onde Sommer trombaria com Pau Victor. Lewandowski, que entrara no início da prorrogação, cabeceou por cima da baliza. Em seguida, Thuram repetiu o toque de letra que deu o ar de sua graça tanto em Munique quanto na Catalunha e Szczesny encarnou Julio Cesar contra Messi, em 2010, negando o gol a Frattesi – caso o italiano estufasse a rede, o lance seria anulado por impedimento.
Sommer, entretanto, mereceu mais essa comparação com o ex-goleiro brasileiro da Inter pouco tempo depois. Na casa dos 114 minutos, Carlos Augusto tomou uma bola nas costas e permitiu que Yamal tivesse a chance de colocar no canto do arqueiro. O suíço, entretanto, saltou para fazer uma defesaça monumental e ceder o escanteio. O suficiente para lhe render o prêmio de melhor em campo e garantir a vitória da Beneamata – o resto do trabalho sujo foi feito por Bastoni, Darmian, De Vrij e Acerbi, que mandaram para longe o perigo catalão.
Ao fim do épico de 13 gols, a Inter levou a melhor com um placar agregado de 7 a 6, inesperado para uma semifinal de Champions League – 3 a 3 na ida e 4 a 3 na volta. Se repetiu, portanto, o recorde que Liverpool e Roma estabeleceram nesta fase do torneio em tempos modernos, em 2018. Acima disso, só um 12 a 4 do Eintracht Frankfurt sobre o Rangers, no remoto ano de 1960, na Copa dos Campeões.
Inzaghi levou a Inter a duas finais europeias em três anos e se tornou o segundo treinador da equipe a atingir tal feito (Getty)
Porém, Inter e Barcelona escreveram um roteiro muito diferente do protagonizado por Liverpool e Roma. Enquanto o duelo da atual temporada foi extremamente competitivo, o de 2017-18 teve, em grande medida, sentido único – noves fora os erros de arbitragem, numa época sem VAR, que prejudicaram os capitolinos no jogo de volta. O time inglês abriu 5 a 0 em casa e viu a equipe italiana diminuir para 5 a 2 no fim. No Olímpico, os Reds fizeram 2 a 1 na etapa inicial, a Loba empatou aos 52 e só foi fazer o 3 a 2 aos 86 e o quarto aos 94. Não houve uma disputa tão notória quanto a batalha encabeçada por nerazzurri e blaugrana.
A Inter suou sangue e, merecidamente, chegou à segunda final de Champions League em três temporadas – afinal, teve a vantagem sobre o Barcelona em 97 minutos mais acréscimos nos 210 do confronto, estando atrás do rival em apenas seis. Um resultado que passa pelo amadurecimento do trabalho de Inzaghi e que pode atingir seu ápice na Allianz Arena, em Munique, em caso de triunfo sobre Arsenal ou Paris Saint-Germain, que fazem a outra semifinal europeia.
Desde a contratação de Inzaghi, quatro anos atrás, só a própria Inter e o “bicho-papão” Real Madrid foram finalistas da Champions League duas vezes. Aliás, o atual técnico nerazzurro repetiu o lendário Helenio Herrera ao alcançar tal número de decisões da competição pela equipe. E em 2025, assim como 15 anos antes, quando o amado José Mourinho comandava a Beneamata, através de um triunfo antológico sobre o Barcelona que a aproximou do topo da Europa. Os dois citados, coincidentemente – ou não – foram os únicos treinadores da agremiação da Lombardia que levantaram a orelhuda. Chegou a hora do Demônio de Piacenza?