Última Divisão
·7. Februar 2025
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No dia 7 de fevereiro, é celebrado o Dia Nacional de Resistência dos Povos Indígenas. A ocasião rememora a morte de Sepé Tiaraju, uma figura emblemática do povo Guarani e líder dos Sete Povos das Missões, que faleceu em 1756.
Segundo dados do Censo 2022, o Brasil tem 1,7 milhão de indígenas. Essa população, que esteve presente na região muito antes da chegada dos portugueses, enfrentou um longo histórico de violência, trabalho forçado e perdas territoriais.
Hoje, há grandes concentrações de povos indígenas principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país, especialmente nos estados do Pará, Amazonas e Maranhão.
No meio dessas adversidades sociais, surge uma história que se entrelaça com o futebol, esporte mais popular do Brasil. O Futebol Clube Gavião Kyikatêjê, criado há mais de uma década, tornou-se o primeiro time profissional de futebol formado por indígenas, trazendo representação e identidade para o esporte nacional.
Para compreender a origem do Gavião Kyikatêjê, é necessário voltar a 1980, quando o time era conhecido como Castanheira Esporte Clube. A equipe disputou cinco finais do Campeonato Marabaense e conquistou três títulos ao longo dos anos.
Em 2007, o povo Kyikatêjê-Gavião, originário de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará, adquiriu os direitos do Castanheira EC com o objetivo de disputar a primeira divisão do campeonato municipal.
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No entanto, a liga marabaense não permitiu que o nome indígena fosse incorporado ao título oficial do clube, fazendo com que a equipe continuasse sendo chamada de Castanheira EC.
Mesmo sem o reconhecimento imediato, a gestão do time passou a ser feita integralmente pelos representantes do povo Kyikatêjê. No primeiro ano sob nova administração, em 2007, o time terminou como vice-campeão do campeonato local. No ano seguinte, em 2008, conquistou o título, consolidando sua presença no futebol paraense.
Apesar do sucesso nas competições municipais, o time ainda não possuía registro profissional. Isso mudou em 2009, quando o clube foi oficialmente reconhecido pela Federação Paraense de Futebol e passou a se chamar Gavião Kyikatêjê Futebol Clube. O nome, que significa “rio acima” no idioma do povo Kyikatêjê, foi escolhido para reforçar as raízes culturais da equipe.
A identidade indígena também foi incorporada ao escudo do time, que ganhou o formato de uma ponta de flecha. O uniforme adotou as cores preta e vermelha, inspiradas nas pinturas corporais tradicionais da aldeia. Com essas mudanças, o Gavião Kyikatêjê ingressou na segunda divisão do Campeonato Paraense e iniciou sua jornada no futebol profissional.
Desde então, os principais resultados do time foram:
O elenco do Gavião Kyikatêjê é formado, em sua maioria, por atletas indígenas da própria comunidade, mas atualmente a equipe possui jogadores que não possuem descendência indígena. A equipe é comandada por uma comissão técnica que busca mesclar a tradição do povo Kyikatêjê com as táticas do futebol moderno.
Os jogos do time acontecem no Estádio Municipal Zinho de Oliveira, localizado em Marabá, que comporta cerca de 5 mil torcedores. O local é um dos mais estruturados da região, contando com vestiários equipados, espaço para a imprensa e refletores para campo de futebol, garantindo condições adequadas para partidas noturnas.
O Gavião Kyikatêjê Futebol Clube é mais do que um time de futebol. Ele representa a resistência e a identidade do povo indígena dentro de um cenário dominado por equipes tradicionais. Seu legado transcende as quatro linhas do campo, sendo um exemplo de como a cultura indígena pode ocupar espaços e ganhar visibilidade no esporte nacional.
Apesar dos desafios enfrentados dentro e fora de campo, o clube continua sendo um símbolo de orgulho para a comunidade Kyikatêjê e para todos que reconhecem a importância da inclusão e da representatividade no futebol brasileiro.