Zerozero
·2. Juni 2025
O PSG fez-se rei da Europa com protagonistas lusos, mas isso não vai ajudar Portugal

In partnership with
Yahoo sportsZerozero
·2. Juni 2025
Há uma frase firme no folclore do futebol inglês, popularizada por adeptos dos hammers em discurso bazófio de pub, que diz que «o West Ham ganhou o Mundial». A noção é disputada pelos adeptos de outros clubes, que a consideram exagerada, mas há um fundo de verdade: os três heróis da final do Inglaterra 66 (4-2 ap frente à Alemanha) eram jogadores desse clube. Falamos de Bobby Moore, Geoff Hurst e Martin Peters.
É uma temática frequente no futebol internacional, essa relação entre clubes e seleções. E a história guarda exemplos mais óbvios e recentes, como a Espanha, que dominou o futebol entre 2008 e 2012 com o tiki-taka do Barcelona como base, ou a Alemanha, triunfante no Mundial de 2014 com mais de meio onze a jogar no Bayern. A Juventus serviu de espinha-dorsal para duas seleções campeãs mundiais: a Itália de 2006 e a França de 98!
O fenómeno é transversal e também toca na seleção portuguesa. Houve base do Benfica no tal Mundial de 66, houve um aproveitamento do FC Porto campeão europeu na caminhada agridoce no Euro 2004 e o Sporting teve alguma importância na conquista do Euro 2016, tendo quatro titulares nos jogos decisivos e sendo o clube formador de 10 dos 14 utilizados na final.
Os benefícios são reais e quase palpáveis, sendo as seleções, no fundo, equipas que têm pouco tempo de trabalho em conjunto. A utilização de bases de clubes permite acelerar entrosamento do plantel e balneário, aproveitamento de rotinas de jogo e identidade tática. Nada disto é ciência de foguetões - é um fenómeno documentado e até referido abertamente por alguns dos selecionadores das equipas acima referidas.
Que prazeroso é então, para um adepto português, ver o Paris Saint-Germain a confirmar o seu estatuto de melhor equipa da Europa com um 5-0 na final da Liga dos Campeões!
Sendo Portugal a nação mais representada no onze dos parisienses, conquistadores da tríplice coroa com o tipo de futebol que todos conseguem apreciar, esta poderia ser a hora de começar a salivar em antecipação para boas exibições na iminente final four da Liga das Nações. O problema? Roberto Martínez não parece acreditar nessa relação entre clube e seleção...
«O jogador é uma peça individual e ter jogadores com ligações nos clubes não tem significado. Não ajuda nem prejudica a seleção.»
A frase acima foi dita pelo selecionador nacional no dia 4 de setembro do ano passado, em antevisão ao primeiro jogo de Portugal nesta Liga das Nações, frente à Croácia (2-1). Surgiu em resposta à pergunta do zerozero, que tocou especificamente na chegada de João Neves ao PSG e em como uma eventual dupla com Vitinha poderia ajudar a seleção.
Claro que muito poderia ter mudado desde setembro e a qualidade do futebol apresentado por Luis Enrique poderia, ao longo de uma temporada, ter mudado a opinião de Martínez. Como tal, quando foi anunciada a lista para esta final four, o nosso jornal voltou a questionar sobre a importação de ter vários jogadores no mesmo clube e o exemplo parisiense em específico. A resposta (pode ver no vídeo abaixo) manteve-se e a filosofia foi justificada:
«O contexto de um, dois ou três jogadores em ligação [não chega]. Estamos a falar do futebol, desporto de equipa, precisas de mais jogadores. Todos os adversários e exigências de jogo são diferentes. O futebol de seleções é muito diferente do de clubes», disse, na conferência de imprensa do passado dia 20 de maio.
«O que acontece nos clubes ajuda os jogadores a chegar à seleção, mas não ajuda a seleção a ganhar jogos. O espaço de seleções é muito diferente do espaço de um clube», completa.
Vitinha e João Neves são dois terços de um dos miolos mais funcionais da atualidade futebolística. Nuno Mendes é indiscutível na mesma equipa, afirmando-se como um dos melhores laterais do mundo. Gonçalo Ramos não tem tanto espaço (até porque compete com um dos favoritos à Bola de Ouro), mas contribui a partir do banco e partilha do entrosamento com os seus compatriotas. Ainda assim, contra uma histórica tendência do futebol de seleções, não parece que o sucesso do PSG vá ser prenúncio de coisas boas para a seleção...