Zerozero
·12. November 2025
Quem é Renato Nhaga? O menino que <i>gelou</i> o Estádio da Luz

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·12. November 2025

Renato Sam Na Nhaga. Este é o nome do responsável pela noite gelada que se viveu no Estádio da Luz no passado domingo, 9 de novembro. Gelada, claro, para quem prefere águias a gansos.
O Casa Pia esteve a perder por 2-0, atreveu-se a sonhar, reduziu distâncias no marcador e, perto do fim, viu o jovem guineense selar o empate com o seu primeiro golo como sénior.
Um toque simples, quase ingénuo, mas que congelou o estádio - com o qual o pequeno Nhaga sempre sonhou pisar - e aqueceu uma carreira ainda em rascunho.
«Foi um jogo especial. Desde criança que sonhava jogar aqui. Sonho jogar ao mais alto nível, neste tipo de palcos.»
Um menino de 18 anos, natural da Guiné-Bissau, que para ter hoje o mundo pela frente teve, no passado, de deixar muita coisa para trás. Chegou a Portugal em 2023, com apenas 16 anos, e teve algumas dificuldades nos primeiro testes que fez pela turma lisboeta - segundo relatos da imprensa nacional.
A verdade é que o médio não desistiu. Rapidamente se afirmou nos sub-17 casapianos, somando 34 jogos e um golo - curiosamente frente ao Benfica. Tudo aconteceu depressa: no final dessa primeira temporada assinou o seu primeiro contrato profissional e, com a mesma serenidade que demonstra em campo, foi subindo degraus.
De cara lavada e confiança redobrada, o médio guineense assumiu papel de destaque no ano seguinte, nos sub-19 dos gansos. Com um perfil singular - já o vamos explorar mais à frente - e a atitude típica de quem sente que tem algo a provar, Nhaga chamou a si as responsabilidades que apenas aos destinados não fazem mossa.
Nesse mesmo ano, passou dos sub-19 à equipa principal, saltando etapas com a naturalidade de quem não tem medo da velocidade. Depois de duas visitas ao banco de suplentes, Nhaga foi chamado a pisar o relvado do Estádio Municipal de Rio Maior para a estreia frente ao Estoril. E a ascensão não parou por aí: meses depois de se estrear na Liga Portugal Betclic, chegou também à seleção da Guiné-Bissau, pela qual já soma seis internacionalizações.
Um crescimento relâmpago que transformou um jovem promissor num nome cada vez mais falado no futebol português. Já esta época, estava a ser presença regular nas escolhas de João Pereira, com 15 jogos oficiais pela equipa principal e uma crescente sensação de que o Casa Pia tem ali mais do que uma promessa - tem um projeto de jogador feito à medida do futebol moderno. Um «bom» problema para Gonçalo Brandão gerir.
Um menino que representa os valores mais intrínsecos do Casa Pia e que é protagonista de uma daquelas histórias que nos faz torcer para que corra bem. Basta lembrar, caro leitor, que na manhã seguinte ao golo na Luz, o jovem levantou-se da cama e foi à escola como qualquer jovem «normal» de 18 anos. Renato Nhaga é aluno da Casa Pia de Lisboa, frequentando o curso de técnico de apoio à gestão desportiva.
Ainda em fase de crescimento e adaptação à exigência do futebol sénior, Renato Nhaga tem margem evidente para evoluir em alguns capítulos do jogo. O confronto físico, por exemplo, é uma área onde a diferença de experiência ainda se nota. Falta-lhe, por vezes, aquele corpo moldado por duelos semanais contra jogadores feitos - algo que o tempo e a rotina tratarão de afinar.
Também na decisão em zonas ofensivas há espaço para progresso. Embora possua uma condução segura e elegante, ainda não é um médio de último passe nem alguém que surja com frequência em zonas de finalização - como fez na Luz. Ganhar confiança no terço final - arriscar o passe vertical, melhorar o remate e ler melhor o momento da aceleração - será um passo decisivo para se tornar um médio completo e influente em todas as fases do jogo.
Mas é nos detalhes já consolidados que se percebe o talento em bruto. Com bola, Nhaga é um jogador sereno, cerebral e difícil de desarmar. Sabe ligar setores, ditar o ritmo e dar critério à posse. A sua condução curta, quase felina, é acompanhada por um passe seguro e sempre intencional, capaz de transformar uma saída de bola num gesto de controlo.
Sem bola, revela um instinto posicional raro para a idade. Lê bem o jogo, antecipa movimentos e protege o corredor central com inteligência. É solidário, disciplinado e incansável - um daqueles médios que, quando a equipa perde a bola, já está no sítio certo antes de o adversário perceber o que aconteceu.
Renato Nhaga é, em suma, um médio moderno em construção. Tem toque de quem pensa o jogo, presença de quem o sente e uma calma desarmante para alguém que ainda agora começou a dar os primeiros passos.
Se o golo na Luz foi o primeiro parágrafo da sua história, tudo o resto promete ser capítulo de quem nasceu para brilhar.
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