Deus me Dibre
·7. Juni 2025
Rafael Menin admite falhas na gestão, comenta atrasos e busca por alongamento da dívida

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·7. Juni 2025
Em coletiva realizada na manhã deste sábado (7), na Arena MRV, Rafael Menin, empresário e um dos sócios majoritários da SAF do Atlético, falou sobre a atual situação financeira do clube. Ele abordou as razões para o aumento da dívida, as dificuldades enfrentadas pela SAF nos últimos anos e os planos para superar os problemas que vêm impactando diretamente a gestão e o desempenho esportivo da equipe.
Menin reconheceu que, apesar dos investimentos significativos realizados desde a criação da SAF, o clube falhou em seu objetivo central de reduzir substancialmente a dívida. Segundo ele, o Atlético investiu quase R$ 900 milhões no futebol nos últimos cinco anos, mas os resultados no balanço são preocupantes.
“A gente, nesse ciclo de 5 anos, acertou, errou, a gente foi vocal em algum período que seria possível fazer todos esses movimentos ao mesmo tempo. Algumas coisas deram certo, outras não deram tão certo. Em relação a dívida, esse foi um aspecto que a gente não teve sucesso. A despeito da SAF ter feito o maior investimento dentro todas as SAFs do Brasil, fez uma larga vantagem em relação a todas as outras e parte desse investimento foi para reduzir a dívida, mas ainda assim continua sendo super alta. Essa semana saíram três números: um relatório com 2.3 bi, outra com 1.8 bi e a nossa com 1.4 bi. Em relação com investimento no esporte, a gente mostra que o investimento em contratação e folha aconteceu ao longo dos 5 anos. Não foi reduzido. Investimento em atletas, luvas, quase 900 milhões de reais nesse quinquênio. Vendemos mais ou menos 500 milhões. 300 e tantos milhões entre compra e venda de atletas, negativo. Ano passado foi o maior em investimento de aquisição de atleta.”
Ele citou as três diferentes leituras sobre o montante total devido: o número oficial do clube, de R$ 1,4 bilhão; uma outra leitura feita pela imprensa especializada que aponta R$ 1,8 bilhão e um terceiro, divulgado nesta última semana pelo economista César Grafietti, da consultoria Convocados, que considera receitas antecipadas e chega a R$ 2,3 bilhões. Menin tentou explicar sobre:
“A diferença entre os números divulgados. A dívida do Atlético: o primeiro pedaço é a dívida onerosa, que devemos aos bancos e aquele CRI que foi constituído pra finalizar a Arena. Isso dá mais ou menos 900 milhões de reais. A gente tem a dívida com o PROFUT, de décadas, que são 350 milhões de reais. E a gente também deve, aí quando eu falo dever, quando a gente compra um atleta, a gente não paga a vista, é parcelado em 2, 3 anos. Então já pagamos algumas centenas de milhões pelos atletas que compramos e ainda falta por volta de 200 milhões de reais. Essa é a dívida do Galo. Somando essas três rubricas, chega no R$1.4. O R$1.8 é quando é desconsiderado o que temos a receber de outros clubes. Essas parcelas foram desconsideradas, o ‘contas a receber’. E tem um último pedaço que são as receitas antecipadas, é o relatório do R$2.3. No relatório ele considera esse adiantamento, naming rights, cadeiras da Arena MRV, foi adiantado pra gente construir a Arena. Contabilmente fica numa rubrica de passivo, mas não significa que eu devo esses 500 milhões de reais.”
O empresário também responsabilizou a inflação no mercado futebolístico brasileiro como um dos fatores que tornaram o planejamento inicial do clube ineficaz.
“O futebol brasileiro passou por uma inflação brutal nos últimos 5 anos. Um atacante com bom desempenho que ganhava 600 mil, hoje o mesmo perfil você vai pagar 1 milhão de salários ou mais. O futebol ficou muito mais caro. Foi algo que a gente não tinha previsto no nosso planejamento. Isso vale pra salário, compra de direitos federativos. Manter um time ultracompetitivo ficou mais difícil. Os números de 2024 comparados com 2020 subiu e a gente tem dificuldade de ter um elenco com 30 jogadores do mesmo nível. Não tem e não terá como ter. O único clube que consegue isso hoje é o Flamengo. A realidade atual do São Paulo, dos times gaúchos, do Botafogo, é que vai haver sempre um desnivelamento do elenco. Então você tem que ter jogadores da base para ter um equilíbrio. Mas ficou mais complexo equilibrar.”
Menin admitiu que houve atrasos recentes nos pagamentos a jogadores, funcionários e a outros clubes por transferências. Segundo ele, os atrasos não ultrapassam 15 dias, mas são motivo de grande preocupação interna. E ainda revelou que é algo que aconteceu nos últimos anos da gestão da SAF alvinegra:
“E quando se fala em atraso de salário e imagem, teve alguma coisa, não são atrasos de 30 dias, são coisas menores. Atrasou 10, 15 dias. Não foi a primeira vez, já aconteceu em 2023, 2022, 2021. É o que a gente luta pra que não haja um acúmulo de atraso, porque sabe que pode ter impacto em campo. E porque a gente tem que honrar. A gente piorou um pouco nesse quesito no primeiro semestre desse ano. Mas não foi a primeira vez, tá? Eu não tô dormindo por isso, eu sofro demais. A gente tem que ligar pra um banco, pra um fornecedor e pedir desculpas. É muito duro.”
Ele mencionou ainda a dificuldade em concluir a captação de recursos planejada para o primeiro semestre de 2024, que visava alongar o endividamento do clube e dar fôlego financeiro. A expectativa, segundo Menin, é concluir esse processo até o fim do terceiro ou do quarto trimestre.
“Essa conjuntura, na tentativa de manter time competitivo, juros em patamar diferente, Arena que ficou muito mais cara que o esperado. A gente previa no primeiro semestre fazer uma captação, o que significa, o alongamento do endividamento, que a gente não conseguiu concluir ainda. O mercado está mais difícil, mais hostil. Esse processo deve ser concluído, se tudo ocorrer bem, no fim do terceiro trimestre, ou no fim do quarto trimestre e a gente espera resolver essas pendências que, pra gente, como gestores, o quão ruim é pra gente não honrar um pagamento que de fato aconteceu de alguns clubes a gente não pagar parcelas, a Arena demorou a ser reaberta e isso nos atrapalhou um pouco. Foi um semestre duro.”
Outro fator apontado por Menin como determinante para o agravamento da dívida foi a alta nos juros brasileiros.
“O outro ponto é que o aconteceu no Brasil, a gente não pode desconsiderar. Vale pra qualquer empresa. O juros americano era 0 e foi pra 5, o europeu era até negativo, foi pra 4. No Brasil, o juros ficou baixo e hoje foi pra 14,75%. Por mais que a gente espere uma volatilidade, ninguém previa que tivesse uma variação tão grande. Isso num clube com uma dívida elevada, tem um impacto importante. Se a SELIC fosse 7% ao ano, contra uma de 14, estamos falando de uma diferença de 100 milhões ao ano. A gente não previu e ninguém. Sabia que a SELIC não ficaria em 2, mas ir pra 14,75, ninguém previu.”
Apesar das dificuldades, Menin relembrou os momentos positivos desde a chegada da atual gestão: títulos estaduais e disputas em fases decisivas de competições continentais e nacionais.
“A gente procurou manter um nível de competitividade esportiva, mas mal ou bem, disputamos o Mineiro e fomos campeões, disputamos a final da Libertadores e fomos vice-campeões. O Galo chegou a quantas finais de Libertadores e de Copa do Brasil? Mas, mal ou bem, das 4, chegamos em 3 finais. Não podemos dizer que foi um ano de terra arrasada. A gente passou por um ciclo de eventos de muito sucesso. Mas o recorte de fim do ano foi duríssimo.”