Recusa de Tite reacende debate sobre saúde mental, e psicólogo alerta aos sinais | OneFootball

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Jogada10

·23. April 2025

Recusa de Tite reacende debate sobre saúde mental, e psicólogo alerta aos sinais

Artikelbild:Recusa de Tite reacende debate sobre saúde mental, e psicólogo alerta aos sinais

O técnico Tite recusou assumir o Corinthians ao alegar problemas de saúde, principalmente ansiedade — algo que vem crescendo no meio esportivo, tanto entre treinadores quanto atletas. Diante disso, o Jogada10 buscou entender melhor os motivos por trás desse cenário e conversou com o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac.

João Ricardo, aliás, fez carreira atuando nas equipes profissionais de futebol do Corinthians, Goiás, Cruzeiro, Ituano e Palmeiras. Além disso, também foi psicólogo responsável pela preparação de árbitros da Federação Paulista de Futebol e autor de dez livros na área.


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“A decisão do Tite de não assumir o Corinthians agora, alegando questões ligadas à saúde mental e à ansiedade, é um marco importante no futebol brasileiro — e precisa ser interpretada com responsabilidade e seriedade. A ansiedade, especialmente no contexto dos esportes de alto rendimento, afeta diretamente o funcionamento cognitivo, emocional e até fisiológico de técnicos e atletas. Ela compromete o sono, a concentração, a tomada de decisão, a tolerância à frustração e o equilíbrio geral. Num ambiente onde o resultado se sobrepõe ao processo, e onde não há espaço legítimo para o erro, a ansiedade se instala como uma resposta crônica ao estresse e pode se transformar em um quadro clínico severo”, analisou João Ricardo.

Klopp, Biles também falaram sobre saúde mental recentemente

Ao deixar o Liverpool, Klopp afirmou estar exausto da pressão por resultados, o que o levou ao limite da saúde mental. Nas Olimpíadas de 2024, Simone Biles também deixou de competir em algumas categorias pelos mesmos motivos. Ex-jogador de Inter e Corinthians, Nilmar, por sua vez, encerrou a carreira alegando questões semelhantes. João Ricardo analisa esse padrão.

“A pressão por resultado, sem dúvida, é um dos grandes gatilhos desse adoecimento. Mas ela não age sozinha. O que adoece é o conjunto: a solidão da liderança, a desumanização do cargo, a rotina exaustiva, a falta de estrutura emocional nos clubes, a cobrança midiática constante e, muitas vezes, a ausência de espaços de escuta qualificada. Os casos do Nilmar, da Simone Biles, do Klopp, do Tite — todos mostram que o sucesso não imuniza ninguém. O adoecimento não escolhe pelo currículo. Ele aparece quando o sistema não oferece sustentação emocional e o indivíduo se vê obrigado a suportar tudo calado”, explica o psicólogo.

Seleção Brasileira de Tite não tinha psicólogo em 2022

Curiosamente, a Seleção Brasileira de 2022, sob comando de Tite na Copa do Mundo, não contou com psicólogos na delegação — assim como a maioria dos clubes da Série A. João conclui apontando se esse cenário pode mudar em um futuro próximo.

“É grave e simbólico que, em 2022, a Seleção Brasileira não tenha contado com um psicólogo em sua delegação. Ainda mais simbólica foi a fala do próprio Tite, afirmando que ele mesmo exercia esse papel. Isso revela não só um despreparo institucional, mas também uma visão equivocada sobre o papel da Psicologia do Esporte. Não cabe ao treinador ocupar esse lugar — assim como o psicólogo não deveria ser responsável por decidir táticas e escalações. Essa confusão de papéis é fruto do preconceito estrutural ainda existente no esporte brasileiro, que muitas vezes trata a saúde mental como um detalhe, um luxo ou algo reservado somente para momentos de crise.”

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João falou com exclusividade ao Jogada10 sobre saúde mental no esporte – Foto: Arquivo pessoal

“A mudança virá quando os clubes entenderem que saúde mental não é um apêndice do desempenho, mas o seu alicerce. O treinador não pode ser o suporte emocional de todos sem ter onde se apoiar. O atleta não pode competir em alto nível sendo tratado como máquina. E a Psicologia do Esporte precisa estar integrada à comissão técnica — com voz, com espaço e com continuidade. Não é mais uma questão de tendência. É uma necessidade ética, profissional e humana. E, se a Seleção Brasileira quiser voltar a liderar dentro e fora de campo, precisa começar por reconhecer isso”, concluiu João Ricardo, ao Jogada10.

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