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·23 July 2025

A eliminação cruel não apaga a surpreendente campanha feita pela Itália na Euro Feminina

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O futebol tem um jeito próprio, muitas vezes cruel, de nos lembrar que tudo pode ser definido por um instante. Um centímetro, uma decisão, um segundo. Para a Itália, na Euro Feminina de 2025, essa margem foi um apito mais do que controverso aos 119 minutos de uma semifinal que já nascia épica. Depois de executar um plano de jogo com uma disciplina tática e uma entrega física que beiraram a perfeição, as azzurre viram o sonho da final escapar da forma mais dolorosa possível. A queda para a Inglaterra dói, e vai doer por um tempo, mas ela não tem o poder de silenciar o feito de uma equipe que chegou à Suíça sob um manto de desconfiança e sai como uma das melhores e mais valentes histórias do torneio.

Se voltarmos ao início, a expectativa era de um otimismo quase protocolar. Havia talento, sim, e um grupo que permitia sonhar, mas o fantasma das eliminações precoces na Euro 2022 e na Copa do Mundo de 2023 era grande demais para ser ignorado. As quedas, aliás, resultaram no fim de um ciclo já desgastado sob as ordens de Milena Bertolini e a chegada de Andrea Soncin, que tinha no currículo apenas passagens pelas categorias de base do time masculino do Venezia e períodos como interino da equipe principal.


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Apesar de uma fase de grupos de altos e baixos, a Itália atingiu – e superou – o objetivo traçado antes da Euro (Getty)

Na Eurocopa disputada na Suíça, a missão, antes de tudo, era competir. O objetivo declarado? Chegar às quartas de final. A primeira fase foi um reflexo fiel dessa incerteza: a vitória calculista sobre a Bélgica (1 a 0), o empate frustrante contra Portugal (1 a 1, com gol sofrido no fim) e a derrota protocolar para a Espanha (3 a 1). A classificação no Grupo B foi obtida, mas sem os aplausos de pé.

Foi no mata-mata, quando o ar fica mais rarefeito, que esta equipe revelou sua alma. Nas quartas, a vitória sobre a Noruega (2 a 1) foi o grito de uma geração e representou a quebra de um tabu de 28 anos sem alcançar as semifinais da Euro – na última vez, em 1997, o feito ocorrera justamente contra as norueguesas, na casa delas, e com dois gols de Carolina Morace; posteriormente, as italianas ficariam com o vice.

Na Suíça, tinha que ser com gols dela: da veterana Cristiana Girelli, que, seguindo o exemplo de Morace, anotou uma doppietta, chegando a três tentos na Euro. Camisa 10 e capitã aos 35 anos, sucedendo a aposentada Sara Gama, a atacante da Juventus carrega nos ombros o peso e a luta de quem batalhou por cada grama de reconhecimento para o futebol feminino em seu país. Personificou a resiliência. Ali, naquele momento, algo mudou para sempre.

Girelli foi o grande destaque da campanha, mas a capitã continuou tendo Bonansea como fiel escudeira (Getty)

Isso nos leva a uma das figuras centrais desta jornada: Soncin. Taticamente, o treinador se provou um estrategista de mão cheia. Sua capacidade de montar e desmontar a equipe, de neutralizar os pontos fortes das adversárias, foi o que sustentou a Itália. Contra a poderosa Inglaterra, ele arquitetou uma obra-prima defensiva. Armado num 5-3-2, seu time entregou a bola, negou os espaços e transformou o campo num labirinto para as estrelas inglesas. O plano foi seguido com uma fé inabalável, e o gol de Barbara Bonansea, numa trama 100% juventina com Sofia Cantore, foi a recompensa que parecia ter saído diretamente de sua prancheta.

Mas nem tudo foram flores. A teimosia de Soncin em manter peças que, francamente, não correspondiam. A insistência em Laura Giuliani (Milan) no gol e em uma Manuela Giugliano (Roma) que é pura seda com a bola, mas um buraco sem ela, gerou gols, instabilidade e momentos de sofrimento que poderiam ter sido evitados. Numa campanha que exigia perfeição, foram falhas que quase puseram tudo a perder.

Na semifinal, a Itália foi perfeita por 95 minutos. Defendeu com a alma e teve nos pés de Emma Severini (Fiorentina) a faca e o queijo para matar o jogo. No futebol deste nível, essas chances não voltam. A Inglaterra, com a força de seu banco, cresceu, e empatou com a jovem Michelle Agyemang nos acréscimos. As azzurre resistiram, mesmo órfãs de sua líder Girelli, que se machucou no segundo tempo, e se preparava para os pênaltis.

Poucos imaginavam que a Itália pudesse ter ficado tão perto da final e a campanha surpreendente só deve fortalecer a Serie A Feminina (Getty)

Então, veio o lance. Um pênalti que a maioria de nós jamais marcaria, decidindo o confronto e partindo o coração de um país. Chloe Kelly perdeu a cobrança, mas conferiu no rebote. Em seguida, a imagem das jogadoras desabando no gramado foi a tradução da entrega e da dor.

Apesar do final amargo, o que fica é imenso. Esta campanha não é só histórica, ela é um divisor de águas. Tem o poder de catapultar o interesse e o investimento na Serie A italiana, que tem crescido ano após ano, desde a boa campanha da seleção na Copa do Mundo de 2019 e da profissionalização do campeonato, em 2022. As azzurre não só voltaram a competir, mas o fizeram com identidade, coração e uma organização tática de dar inveja. Elas caíram, sim, mas caíram de pé, deixando um legado de esperança e um recado claro: o futuro do futebol feminino na Itália chegou. E ele é brilhante.

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