Central do Timão
·10 January 2025
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A investigação do caso envolvendo a casa de apostas VaideBet e o Corinthians ganhou mais um capítulo. Proprietário da empresa, o empresário José André da Rocha Neto se apresentou à Polícia Civil e prestou depoimento no último dia 12 de dezembro, por videoconferência.
De acordo com a Gazeta Esportiva, que teve acesso ao depoimento, a oitiva foi comandada delegado Tiago Fernando Correia (responsável por investigações de casos de lavagem de dinheiro), com a participação do promotor de justiça do Gaeco (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Juliano Carvalho Atoji.
Ainda segundo a reportagem, após explicar como aconteceram as negociações, Rocha Neto viu o promotor do Gaeco apresentar uma imagem de de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, dono da Rede Social Media Design LTDA. A empresa consta no contrato do Corinthians com a VaideBet e aparece como a responsável pela intermediação do acordo.
A resposta do empresário ao observar a foto foi: “Não conheço, não”. Na sequência, o dono da casa de apostas reforçou que Alex Cassundé não esteve presente na reunião entre representantes do Corinthians e da empresa, além de dar uma nova resposta negativa ao ser perguntado se o responsável pela Rede Social Media Design LTDA era familiar.
“Comigo, não”, afirmou José André da Rocha Neto ao ser questionado se Cassundé havia agido como intermediador e se teria a possibilidade dele ter conversado com outra pessoa da VaideBet. “Quem fechou o negócio fui eu, não teve outra pessoa”, continuou o empresário.
Na sequência do depoimento, Rocha Neto apresentou uma nova versão do caso. O empresário afirmou que a primeira movimentação de buscar um acordo de patrocínio com o Corinthians partiu dele mesmo. O empresário ainda alegou que houve um intermediário na negociação, mas que não foi Alex Cassundé.
“Partiu de mim. Mas, fui atrás de uma pessoa para fazer a intermediação. Eu não tinha o contato do Corinthians. Liguei para Toninho, que é lá de Goiânia, amigo meu, que eu sei que tem esse conhecimento no futebol. Ele entrou em contato com as pessoas de São Paulo, não sei quem são essas pessoas, e ele marcou a reunião já para o outro dia. A gente fez uma reunião no Hotel Tivoli, cheguei às 13h, já estava lá o Augusto (presidente do clube), o Marcelinho (Marcelo Mariano, diretor administrativo do clube), o Toninho e mais duas pessoas, que não me recordo”, disse o proprietário da casa de aposta.
“Perguntei quanto seria o valor, eles disseram: ‘só fecha se for três anos’. Eles passaram o valor, eu pedi uma ou duas horas para analisar, peguei um quarto no hotel, subi, fui analisar. O presidente (Augusto Melo), no meio da reunião, teve que sair para uma outra reunião, não sei onde era, fiquei só com Marcelinho e mais três pessoas. Desci já para o restaurante do térreo e disse: ‘está fechado o negócio, só vamos organizar como vai (sic) ser os pagamentos'”, complementou Rocha Neto.
Toninho, citado pelo empresário no depoimento, é Antonio Pereira dos Santos, conhecido como Toninho Duettos. Sócio e ex-empresário do cantor Gusttavo Lima, antigo embaixador da VaideBet, ele também atua como agenciador de grandes nomes da música sertaneja brasileira.
José André da Rocha Neto afirmou que conversou com Toninho no dia 25 de dezembro de 2023 e, no dia seguinte, ocorreu a reunião mencionada anteriormente no depoimento.
“Eu fiz uma ligação para Toninho, porque eu vi nas manchetes que o Corinthians estava escutando propostas de outros players, e eu sei que Toninho tem contato com esse pessoal do futebol. E eu disse: ‘Toninho, veja aí se consegue uma reunião com o pessoal do Corinthians, queria marcar uma reunião para fechar a VaideBet com o Corinthians. Esse Toninho é tipo um intermediador”, disse.
“O primeiro contato que eu tive não foi com ninguém do Corinthians, foi com Toninho (…) Foi tudo muito rápido (…) Não foi algo muito pensado, não dava tempo nem de fazer nada, um pré-contrato, nada. Como tinham outras empresas interessadas, foi tipo um leilão e eu falei: ‘eu vou para fechar logo’. Retornei no mesmo dia (para Campina Grande)”, completou.
O proprietário da VaideBet afirmou que não demonstrou interesse em saber quanto um possível intermediário poderia receber pelo acordo, já que o montante não sairia dos cofres da empresa.
“A gente deixou certo que a intermediação seria nestes R$ 360 milhões, entendeu? A cargo do clube. Só não sei detalhes de percentual. Nessa reunião, a gente não tratou, era algo que não me afetava tanto, meu negócio era fechar os R$ 360 milhões, não tinha o que eu me meter em percentual de intermediário”, afirmou.
Na sequência do depoimento, Rocha Neto disse à Polícia Civil que não possui formação acadêmica e afirmou que não foi ao evento de lançamento da parceria pois estava de férias em Orlando, nos Estados Unidos. Segundo ele, seu relacionamento com o Corinthians era sempre com Marcelo Mariano, diretor administrativo do clube. O empresário ainda explicou como foi a rescisão do contrato com o Timão.
“Começou a sair essas notícias de ‘laranja’, de intermediador, disso e daquilo, aí eu chamei meu jurídico e disse: ‘começa a notificar o Corinthians, porque a gente fechou uma parceria com o Corinthians para sair notícia boa da VaideBet, não é para sair notícia de ‘laranja’, porque isso aí é muito ruim para a marca, então, notifica. Aí chegou um ponto que ficou insustentável, porque não saia mais notícia boa com o Corinthians, só saia ‘caso VaideBet’, ‘VaideBet com laranja'”, justificou o empresário.
Versão de Toninho Duettos
Em contato com a Gazeta Esportiva, o empresário e sócio de Gusttavo Lima confirmou a versão apresentada por José André da Rocha Neto e deu mais detalhes da história. Toninho desabafou e afirmou ter sofrido um golpe do Corinthians.
“Foi exatamente isso. Ele (Rocha Neto) perguntou se eu conseguia o contato de alguém do Corinthians. Eu falei que sim, eu tinha conseguido o contato do Washington, que conseguiu os contatos de Marcelo Mariano e do presidente. Falei com eles, liguei para eles e eles disseram que já estavam em reuniões com algumas Bets de fora. Eu disse: ‘vamos falar pessoalmente’. Falamos no Tivoli, eles falaram as propostas e o André fechou”, disse.
Citado por Toninho Duettos na declaração, Washington Araújo é coordenador de redes e está ligado ao departamento de marketing do Corinthians. Ele trabalhou na campanha eleitoral de Augusto Melo e é investigado em outro inquérito como suspeito de cumprir o papel de ser o elo entre a gestão do clube e influencers apoiadores do presidente do clube nas redes sociais.
“Eu conheci o Washington através de um funcionário meu da época, o Sandro, que conheceu ele antes de ocorrer a eleição. Ele (Washington) disse ‘sou amigo do possível novo presidente do Corinthians’. A gente até começou a conversar para fazer eventos, shows na Neo Química Arena”, afirmou Toninho.
“Encontramos com Washington no interior de São Paulo, em Mogi das Cruzes ou Mogi Mirim, não lembro, não conheço muito São Paulo. A ideia era tratar sobre shows. Quando teve a eleição e o Augusto ganhou, o Washington ligou. Depois, falei da Bet quando o André (Rocha Neto) me ligou. Ele (Rocha Neto) ficou sabendo do patrocinador máster e perguntou, aí liguei para o Washington e, depois, falei com Marcelinho”, continuou.
De acordo com Toninho Duettos, Washington e Sandro eram as duas pessoas presentes na reunião no Hotel Tivoli e que Rocha Neto não soube dizer os nomes no depoimento à Polícia Civil. O sócio de Gusttavo Lima se mostrou surpreso ao saber que Washington trabalha no Corinthians e disse que não entrou na Justiça contra o clube por não ter nenhum documento ou qualquer compromisso formal.
“”Era para ser eu, o combinado era pra ser eu, Washington e o Sandro. Depois de fechado, o pessoal mudou tudo, disse que não podia ser eu, que tinha que ser uma empresa que atendia eles e aí rodei no negócio. Cobrei, mas o Marcelinho disse que depois via alguma coisa. Levei uma bolada nas costas, literalmente. Sandro ligou, xingou o Marcelinho, foi feio”, contou.
Discursos conflitantes
O depoimento do proprietário da VaideBet contradiz o discurso oficial do Corinthians e do presidente Augusto Melo, além de também entrar em conflito com o que foi apresentado por Alex Cassundé à polícia.
Em nota oficial divulgada no dia 9 de maio de 2024, o Corinthians defendeu o direito da Rede Social Media Design LTDA receber os valores pela intermediação do acordo. O clube confirmou a presença da empresa na negociação com a casa de apostas.
“(…) houve a atuação de uma empresa interveniente, cuja responsabilidade foi de captação e intermediação da negociação entre a marca e o clube e sem a qual não teria sido possível celebrar o maior acordo de patrocínio da história do futebol brasileiro. A atuação da empresa intermediária está documentada e evidenciada no contrato celebrado entre as partes, com remuneração que obedece exatamente as mesmas práticas executadas por outros clubes de futebol do Brasil”, diz um trecho do comunicado.
Em entrevista ao Canal do Benja no dia 10 de maio de 2024, Augusto Melo deu sua versão da negociação de forma mais detalhada.
“Essa agência (Rede Social Media Design LTDA), ele trouxe porque conhecia a gente. Normal em uma empresa um amigo ou conhecido trazer possíveis parceiros. Esse Alex (sócio-administrador da empresa), eu só vi umas duas ou três vezes. Quem me levou lá foi o (Wagner) Vilaron e o Sérgio (Moura)”, disse.
“Quando você faz uma negociação com uma empresa, sempre é um amigo, um conhecido seu. Às vezes não é um amigo, mas é um conhecido que tem acesso a você. Ele que traz o patrocínio para você. Está cobrando (…) Eu negociei, eu sangrei de 20(%) para 7(%). Brigamos. ’10, 10, 10 (%)’, ‘eu não pago 10 (%). Eu pago 5(%), até chegar num denominador de 7(%)'”, completou.
Alex Cassundé, por sua vez, disse em depoimento à Polícia Civil que entrou em contato com o proprietário da VaideBet após uma busca no ChatGPT, mecanismo de buscas que utiliza inteligência artificial, e afirmou que não negociou com a empresa e que não exigiu comissão ao Corinthians.
Colocada como intermediadora do negócio, a Rede Social Media Design LTDA ficou com o direito de receber 7% do valor total do acordo de patrocínio entre Corinthians e VaideBet, o que, durante a vigência do contrato, renderia, ao fim do período de três anos, R$ 25,2 milhões. Essa quantia deveria ser repassada pelo clube, em parcelas mensais de R$ 700 mil.
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