Zerozero
·3 September 2025
De capitão do Estrela a reforço do Amora: «Não quero estar onde não me querem»

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·3 September 2025
O mercado de transferências está fechado e, como sempre, ficou marcado pelas algumas mudanças surpreendentes. Entre chegadas de última hora, saídas de jogadores importantes e processos de renovação, uma transferência que ocorreu nos campeonatos nacionais deu que falar.
Trata-se da de Miguel Lopes, que no ano passado era figura e capitão do Estrela da Amadora e agora se tornou uma das caras mais conhecidas a disputar a Liga 3. O central/lateral passou de jogar no primeiro escalão do futebol português para se juntar a um projeto que o próprio considera «aliciante», no caso ao serviço do Amora FC, da terceira divisão nacional.
Numa conversa com o zerozero, o defesa abriu o jogo e mostrou-se magoado com o antigo clube, mas muito satisfeito e animado com este novo desafio na carreira.
No final da temporada passada, onde o emblema do Estrela da Amadora conseguiu a manutenção apenas na última jornada, o treinador José Faria revelou que o clube queria continuar a contar com o Miguel Lopes. Contudo, deu a entender que a permanência do defesa não seria como membro do plantel.
«No início da época, o Estrela não quis continuar comigo enquanto jogador e propôs-me fazer parte da estrutura do clube, mas eu não o quis. Não acho que esteja para a acabar a minha carreira, ainda tenho muito para dar ao futebol», começou por explicar o jogador ao nosso portal, antes de aprofundar ainda mais a questão.
«Gostava de acabar a minha carreira na primeira divisão, era isso que eu queria com o Estrela da Amadora. Na altura propus isso mesmo, mas não me foi permitido. Acho que não foi correto da parte deles, mas o futebol é isto mesmo e temos de aceitar. Temos de aceitar que há novos jogadores e que o clube em si também pensa em contratar jovens para fazer dinheiro. Foi a decisão do Estrela e eu respeitei, no dia a seguir assinei o contrato de rescisão e fui-me embora. Não quero estar onde não me querem, para mim isso é o fundamental», afirmou.
Acabou por ser uma saída com um fim que não se imaginava, mas não durou muito tempo até o defesa português voltar aos relvados.
«Passado duas semanas e meia, a maior parte dos clubes já tinham fechado o setor defensivo. Depois apareceu a vontade do Amora em contar comigo e eu nem pensei duas vezes, fui lá num dia e no seguinte já estava a treinar. Aquilo que eu mais gosto de fazer é jogar futebol e achei o projeto do clube bastante interessante», revelou Miguel Lopes, não se incomodando com a diferença entre os escalões.
«A mim não me faz confusão ter estado na primeira liga e, agora, ter passado para a Liga 3. Não me faz confusão nenhuma porque é um projeto aliciante e com o objetivo de subir. São este tipos de projetos e desafios que eu gosto», acrescentou.
De resto, esta não é uma situação nova na carreira do jogador que passou por FC Porto e Sporting. Depois de deixar o futebol português, rumou aos turcos do Akhisar e do Kayserispor. Ao fim de cinco épocas no futebol turco, onde inclusivamente conquistou dois dos nove títulos que tem na carreira, regressou a Portugal pela mão dos estrelistas, justamente com um desafio parecido.
«Quando assinei pelo Estrela estavam na segunda divisão. Saí da Primeira Liga turca para a Segunda Liga portuguesa porque o projeto que me foi proposto foi primeiro a manutenção e depois a subida de divisão, algo que eu gosto e que conseguimos», declarou.
Apesar de ser uma nova etapa para Miguel Lopes, num escalão no qual já não estava há quase 20 anos (Operário Lagoa, 2006/07), as expectativas do defesa continuam bastante positivas, sobretudo a nível coletivo.
«Para mim, o essencial é haver um objetivo de subida e eu quero muito subir com o Amora. Aquilo que eu mais desejo é fazer história no clube. Certamente as pessoas dedicadas ao Amora também pensam isso», começou por referir o atleta, apontando depois a objetivos pessoais: «Quero fazer o máximo de jogos possíveis e ajudar o Amora a crescer como clube. Aos poucos, acho que vai crescendo e quero muito ajudar a que os objetivos para esta época sejam cumpridos.»
Na visão do jogador, não é apenas o clube amorense que está em crescimento, uma vez que a própria liga está cada vez mais profissional: «A ideia que existe é que não há essa qualidade, mas os clubes têm crescido. O facto de os jogos passarem na televisão também ajuda, a diferença para o passado é notória.»
Ainda assim, passar do primeiro para o terceiro escalão do futebol nacional acaba sempre por ser um choque de realidades, tanto dentro como fora do campo.
«A principal diferença está no ritmo competitivo e na intensidade, não é a mesma coisa que na primeira liga. Mas em termos de qualidade, há muitos jogadores na Liga 3 que facilmente jogavam na primeira divisão. Sem dúvida nenhuma. Pelo que tenho visto, a diferença está apenas na intensidade dos treinos e dos jogos», revelou.
Olhando para a tabela classificativa, não tem sido um arranque fácil para o Amora. Neste início de temporada, o conjunto de Miguel Lopes soma uma vitória, um empate e uma derrota na Liga 3, ocupando a quinta posição da Série B - um lugar abaixo da zona de qualificação para a fase de apuramento de campeão. Com ainda muito por jogar no campeonato, viram-se afastados da Taça de Portugal logo na primeira ronda, depois da derrota frente ao Belenenses (1-0).
Depois de ter ficado de fora das opções no primeiro jogo, o defesa fez a estreia ao segundo encontro, entrando nos últimos cinco minutos da partida. Nos últimos dois jogos fez os 90 minutos, o que mostra que o final de carreira não está no horizonte. Inclusive, o sonho de voltar à primeira liga continua vivo.
«Sendo muito sincero, tudo depende de como esta época correr, tenho de ver como me sinto fisicamente. Se um dia puder acabar a minha carreira na primeira divisão, perfeito. Se não for possível e acabar na segunda ou terceira divisão, é o que é», afirmou.
A verdade é que a carreia de Miguel Lopes já vai longa, tendo este iniciado agora a 19ª temporada como jogador profissional. Atuou em quatro países e só não somou conquistas num deles. Chegou a ser internacional por Portugal em quatro ocasiões e fez parte dos 23 eleitos para o Euro 2012, mas não somou qualquer minuto na competição.
Mesmo assim, a melhor recordação que o futebol lhe deu vai muito mais além de ganhar uns troféus: «O melhor momento da minha carreira foi mesmo ganhar a Taça de Portugal com o Sporting. Ir à seleção nacional e a um Europeu também foi fantástico. Todas as taças que eu ganhei foram sempre momentos importantes, mas ter o meu falecido pai na bancada do Jamor a ver o filho conquistar um título pelo clube do coração, é o mais especial.»
Entre primeira e terceira divisão, fica a prova de que, no futebol, cada escolha é um capítulo próprio de uma longa história.