Trétis
·31 October 2024
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“Tenho dimensão. Sou um cara muito realista e sou muito grato à torcida.”. Fernandinho assumiu o risco de soar convencido para falar sobre a importância de seu retorno às partidas pelo Athletico. Meia revelou conversa no vestiário, cobrança para sair de situação ruim e ainda disse que trata possibilidade de renovação de contrato para 2025 com calma.
“Conversei com os atletas, falei do coração, que não admitia estar nessa posição incômoda, não é algo comum na minha carreira e que eles não podem se acostumar a viver dessa forma. Minha palavra tem um peso muito grande entre os atletas e tento conversar com eles para que possam ter o melhor desempenho possível.” – Fernandinho, sobre retorno.
Meia do Athletico ainda revelou conversa com Pablo, em que ponderavam que mesmo que se o Furacão ainda estivesse dentro da zona do rebaixamento, a vitória contra o Cruzeiro ainda teria peso positivo. Com os três pontos, os comandados de Lucho González finalizaram rodada uma posição acima da Z-R, com os mesmos 34 pontos de Bragantino (17°) e Juventude (18°).
O discurso, agora, é de encarar próximas partidas como finais e esquecer o passado: “Contamos com o apoio da torcida. Não controlamos o passado, o que passou não volta mais. Só podemos controlar o presente e planejar nosso futuro. […] A vitória vai ser um divisor de águas para nós.” – destacou Fernandinho.
Felipinho foi destaque da vitória do Athletico contra o Cruzeiro. Foto: Athletico
“Esse clube aqui é minha casa.” colocou Fernandinho em discurso no vestiário, para dimensionar a importância do Athletico ao elenco de jogadores. Fala aconteceu em preleção do 3 a 0 contra o Cruzeiro, uma das seis finais que o Furacão joga em casa na reta decisiva do Campeonato Brasileiro. Veja:
“Muitos de vocês não sabem, mas comecei há 22 anos aqui. Em 2018 estive em um dos piores momentos da minha vida, Copa do Mundo, gol contra, fiz um gol contra e fui massacrado por 200 milhões de pessoas. Duzentos milhões de pessoas queria me matar, me enforcar em praça pública, mas o clube me suportou mesmo de longe.” – Disse com camisa cinco, em preleção.
Meia lembra de posicionamento público do Athletico de apoio, após eliminação brasileira contra a Bélgica, em derrota por 2 a 1. Fernandinho, contra, marcou o primeiro gol da partida. Meia sofreu ataques racistas e encontrou conforto em carta aberta divulgada pelo clube.
“A derrota, assim como a vitória, faz parte do esporte. Perder é normal e a gente se conforma. A gente levanta e segue adiante. […] O que não é normal e não dá para se conformar é com o preconceito e o racismo e a maneira como você e sua família foram tratados por uma minoria ignorante, retrógrada e que, essa sim, envergonha o Brasil de todas as maneiras.” – Athletico, em trecho de nota de apoio a Fernandinho (confira posicionamento completo ao final desta reportagem)
Meia destaca fato para lembrar “dívida de gratidão” que tinha para retornar ao clube em 2022. Após dois meses sem jogar em 2024, Fernandinho retornou aos gramados com a missão de somar a um Furacão desesperado, mas, segundo ele, sozinho é impossível:
“Senti a obrigação de voltar para casa e hoje estou voltando para ajudar, com a ajuda de todo mundo. Sozinho ninguém consegue porra nenhuma. Sozinho ninguém consegue porra nenhuma.”
Jogador chega a destacar, em conversa com a reportagem, que nunca havia passado tanto tempo sem entrar em campo por lesão, apenas ao logo da pandemia da Covid-19, em 2020. Com 39 anos, acelerou recuperação complicada em lesão grave na coxa e vai voltar de maneira gradual aos gramados pelo Athletico.
Meia respondeu também sobre se retorna de chuteiras e uniforme para a temporada 2025. Há, em contrato, opção de renovação unilateral do jogador o que significa que a decisão de renovar está 100% com Fernandinho. Ainda mais após fala do diretor técnico Paulo Autuori, que garantia o desejo do clube de permanecer com Fernandinho em seu meio campo.
“Não tem nada definido. Vou esperar acabar essa temporada, conversar com a família para definir o que eu vou fazer.” – Fernandinho, sobre renovação.
“Fernandinho, a gente se conhece muito bem. Desde que você começou a mostrar seu excelente futebol nos treinos e nos gramados, defendendo e honrando a camisa rubro-negra, passamos a te admirar. Pela sua humildade, dedicação e principalmente pelo seu caráter e honradez. E, ao lado da maioria dos brasileiros, estamos tristes e envergonhados.
E não é pela eliminação do Brasil na Copa do Mundo. Isso é normal, coisa da bola, que a gente conhece tão bem, não é mesmo? O Brasil merecia ir mais longe pelo bom time que formou e no qual você ocupa um papel fundamental.
Mas no Brasil, é sempre assim: a vitória é de todos e a derrota precisa de um culpado, alguém para ser condenado, difamado, colocado no paredão. O que são essas pessoas? Torcedores? Apaixonados pelo futebol? Definitivamente, não. São os que esperam ansiosamente por um revés para, através dele, revelar seu caráter débil. A derrota, assim como a vitória, faz parte do esporte. Perder é normal e a gente se conforma. A gente levanta e segue adiante.
O que não é normal e não dá para se conformar é com o preconceito e o racismo e a maneira como você e sua família foram tratados por uma minoria ignorante, retrógrada e que, essa sim, envergonha o Brasil de todas as maneiras. Pode ter certeza que é por causa de gente assim que o nosso país está do jeito que está. Gente que não constrói nada, mas esperam a oportunidade para destruir o que os outros fazem, com muito esforço e entrega.
Mas, Fernandinho, pode acreditar: são poucos. A maioria de nós, brasileiros, está ao seu lado e solidária a você, pois nos sentimos profundamente ofendidos e indignados.
A gente podia dizer “não liga não, Fernandinho”, mas tem que ligar, sim. E mais do que isso: tem de denunciar e combater com o suporte de todos nós. E enquadrar essa gente na forma da lei. O Brasil, como nação, precisa definitivamente virar essa página do atraso, do preconceito, do oportunismo vil.
O Atlético, o time do povo, de torcedores e ídolos de todas as raças, crenças, gêneros, está ao seu lado e de sua família para o que você precisar. A gente tem muito orgulho de você ter despontado daqui para o mundo.
Nada é mais democrático do que o esporte e nenhum esporte é tão plural quanto o futebol. E a porta aqui está sempre aberta para você, pois a casa de todos os atleticanos também é sua.
O mais fraterno abraço dos funcionários, dirigentes e toda a nação de torcedores do Clube Atlético Paranaense”.