Portal dos Dragões
·4 June 2025
“O treinador tem de ser fiel, no fundo, às suas convicções, às suas ideias”

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O FC Porto, sem tempo para descanso devido à sua participação no Campeonato do Mundo de Clubes, que terá início em breve nos Estados Unidos, já deu início a jogos de preparação, tendo vencido no passado sábado o Wydad Casablanca.
No entanto, a atuação da equipa em Marrocos não agradou a muitos adeptos. Samu Aghehowa foi o autor do único golo, num jogo em que os dragões mostraram-se limitados nos seus movimentos e longe da sua melhor forma. Nas redes sociais, a equipa foi alvo de críticas, especialmente na segunda parte, e alguns sugeriram que Martín Anselmi deveria reconsiderar o seu esquema com três centrais, regressando à abordagem que a equipa apresentou sob a direção de Vítor Bruno.
Face a esta situação, o Desporto ao Minuto conversou com Rui Quinta, que foi treinador-adjunto no FC Porto. Quando questionado se o treinador argentino deveria alterar a sua abordagem tática, o técnico de 64 anos enfatizou a importância de se manter fiel aos seus princípios e de ajudar os jogadores a compreendê-los.
“Compreendo que as pessoas comentem, mas um treinador deve saber lidar com isso. É fundamental que as coisas sejam sempre construídas com base nas nossas percepções, ideias e crenças. O que o treinador do FC Porto tem transmitido é a sua coerência em relação às ideias que defende e à forma como espera que sejam implementadas pelos jogadores. Às vezes, isso é alcançado rapidamente, outras vezes, requer mais tempo. E, talvez, isso seja o motivo da sua contratação, pois as pessoas acreditaram nas ideias que ele apresentou. Ele tem demonstrado uma grande confiança nas suas ideias e tem incentivado os jogadores a alinharem-se com elas. O método para isso é incorporá-las nos treinos, de forma a que os jogadores se relacionem e se orientem por essa ideia. O que facilita a rapidez na assimilação é, sem dúvida, os resultados”, afirmou Rui Quinta.
“Com a obtenção de resultados, os jogadores assimilam mais rapidamente as ideias, os seus níveis emocionais são relevantes, e eles começam a acreditar que o que é proposto é benéfico para o seu desempenho. Tudo se insere nesta dimensão. No entanto, não acredito que o treinador treine algo em que não acredita, não domina ou não aprecia. O papel do treinador é adaptar os jogadores ao que espera que eles sejam capazes de realizar. Essa é a essência de todos os treinadores“, destacou.
Com a pré-temporada a decorrer e o Mundial de Clubes a aproximar-se, Rui Quinta acredita que, mais cedo ou mais tarde, os jogadores conseguirão implementar de forma eficaz as ideias de Anselmi.
“Não tenho dúvidas de que a equipa e os jogadores se adaptarão ao que o treinador pretende. E, como já referi, isso é sempre determinado pelos resultados. É um erro do treinador deixar-se influenciar por opiniões externas. É um princípio negativo. O treinador deve ser fiel às suas convicções e ideias. E deve encontrar maneiras de ajudar os jogadores a defenderem a ideia como se fosse de todos. Ou seja, o desempenho de cada jogador deve alinhar-se com a forma como a equipa pretende jogar. Esse é o grande desafio de um treinador”, afirmou.
Quinta lembrou que Martín Anselmi chegou ao FC Porto no meio da temporada passada e implementou diversas mudanças, acreditando que esta época as coisas poderão melhorar com mais semanas de trabalho.
“O treinador chegou a meio da época e trouxe novos desafios. É evidente que, ao alterar ideias, é necessário um tempo de adaptação. No início de uma época, isso é mais viável. No entanto, implementar mudanças a meio da época é sempre mais complicado. Podem ocorrer duas situações. As coisas podem alinhar-se e começar a funcionar, ou podem não se alinhar de imediato e demorar a ocorrer. No FC Porto, a segunda situação foi a que se verificou. As coisas não se alinharam da forma que se esperava, e os resultados não foram os desejados”, afirmou Rui Quinta, prevendo uma mudança nos próximos tempos.
“Agora é o momento de refletir, de compreender o que está ao dispor e continuar a seguir o que o treinador acredita ser o melhor para a equipa. O que os jogadores precisam de fazer é entender o que é importante em cada fase do jogo: a defender, a atacar, ao perder ou ao ganhar a bola. Isso é fundamental e é a tarefa dos treinadores para que os jogadores se identifiquem com a abordagem desejada. Isso é construído nos treinos, num ambiente emocional forte, onde os treinos sejam competitivos, permitindo que os jogadores criem um contexto semelhante ao da competição, para que possam mais facilmente assimilar as ideias”, concluiu o técnico de 64 anos.
“É importante saber como se pretende que a bola seja movimentada da sua área para os avançados. No fundo, é necessário criar as condições para que a equipa se posicione adequadamente, seja sem a bola, ao perdê-la, ao ganhá-la ou ao tê-la. O treinador foi contratado devido às suas ideias, que o tornaram reconhecido. E não acredito que ele vá mudar. É improvável que ele altere a sua essência ao montar a equipa e à forma como a pretende fazer jogar”, concluiu.