MundoBola Flamengo
·23 October 2025
Quem ainda não estava carrascalizado essa noite teve que se carrascalizar

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·23 October 2025
Nunca foi segredo. Pais diziam para as filhas, netos comentavam com as avós. Crianças mencionavam entre brincadeiras, idosos comentavam nas bancas de jornais, políticos diziam nos pronunciamentos, colegas debatiam nos corredores, amantes sussurravam trôpegos entre momentos de paixão. “Flamengo precisava ter um reserva pro Arrascaeta, né?”.
Mas ainda que todos soubessem, que todos pensassem, que todos falassem, isso não tornava a existência dessa criatura lendária, o “reserva do Arrascaeta” mais real. Muitos diziam que não era possível, que não existiam jogadores do mesmo nível que o uruguaio. Outros falavam que talvez até existissem, mas seriam caros demais, não seria possível trazer. Alguns alegavam que, mesmo se esse jogador existisse e fosse financeiramente viável, ele não teria interesse em vestir o manto rubro-negro, pelo grau de ingratidão inerente a função de substituir o nosso camisa 10 - uma tarefa no mesmo nível de namorar a Fernanda Lima depois do Rodrigo Hilbert ou dirigir “Cidadão Kane 2 - O trenó agora é outro”.
Porém era impossível escapar do sonho, não havia como abandonar a fantasia. Imagine um outro meia habilidoso que pudesse jogar quando Arrascaeta estivesse convocado? Pense só se num dia em que o uruguaio estivesse mal ou lesionado, ele pudesse sair de campo sem deixar o Flamengo acéfalo? Visualize - e ninguém vai te criticar se você ficar excitado com isso - um cenário em que a equipe rubro-negra tem não apenas um jogador criativo na armação mas sim dois deles, atuando juntos?
E nesse processo vivemos um jogo de carências, ausências, expectativas, desilusões e até mesmo alarmes falsos, como a chegada de Carlos Alcaraz, que parecia ser o reserva perfeito para Arrascaeta e acabou conseguindo ser apenas reserva, até que nem pra isso parecia mais servir e foi ser reserva de alguma outra pessoa no campeonato inglês.
Porém, quase três meses atrás, renasceu a esperança e ela atendia pelo nome de Jorge Carrascal. Jogador colombiano, de 27 anos, destro, com passagens por River Plate, Dínamo de Moscou e a seleção do seu país, ele veio coberto de expectativas e responsabilidades. Teria ele a qualidade necessária para ser uma opção ao maestro rubro-negro? Teria o Flamengo finalmente superado essa carência? Seria ele o lendário escolhido de que falavam as profecias e as reclamações nas redes sociais?
Pois depois da atuação de gala do colombiano, na vitória desta noite diante do Racing pelas semifinais da Libertadores, a sensação é de que sim, finalmente temos outro meia criativo de qualidade no elenco. Porque numa noite de marcação forte do time argentino e rotação fraca do Flamengo, o camisa número 15 foi uma ilha não apenas de qualidade e inteligência, mas também de intensidade, pedindo a bola, chamando o jogo e sendo premiado com o gol da vitória, quando começava a parecer que o Maracanã lotado talvez tivesse que se contentar com um empate que colocaria o time numa situação bem complicada para a partida de volta.
Então o Flamengo termina a noite com uma vantagem, ainda que mínima, e precisa se preparar não apenas para mais um confronto de vida ou morte pelo Brasileirão - porque todas as partidas do Brasileirão agora serão de vida ou morte - mas também para um jogo da volta na Argentina que com certeza será dos mais complicados do ano.
Mas tudo isso, por mais dramático que vá ser, pode se tornar um pouco mais fácil sabendo que agora podemos contar com Carrascal, que veio para ser reserva de Arrascaeta, mas parece que ser muito mais do que isso.
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