Zerozero
·14 November 2025
Um goleador sem paralelo na II Liga: «Foi sempre um homem em quem pudemos confiar»

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·14 November 2025

14 golos em apenas 13 jogos. É já o dobro do registo goleador de André Clóvis na temporada passada, pelo que é demais evidente o seu regresso à melhor forma.
São números espetaculares - que o digam os prémios de melhor avançado e jogador do mês na Liga Portugal 2 -, mas não apareceram do nada. Aliás, está cumprir a sua quarta época no Académico de Viseu, mas o ponta de lança brasileiro despertou os olhares atentos dos adeptos portugueses logo na sua temporada de estreia em terras de Viriato.
Então emprestado pelo Estoril Praia, Clóvis contribuiu com 31 remates certeiros e foi o melhor marcador da Segunda Liga (por larga distância). Um ano de explosão. A subida foi falhada, contudo, as exibições convenceram o clube a pagar 1,25 milhões de euros para terem o avançado em definitivo.
Mesmo que o investimento (ainda) não tenha tido retorno financeiro, os dividendos têm sido pagos com os golos de um jogador que é cada vez mais uma presença superior ao nível do resto da competição.
Clóvis é o nome do momento e por isso o zerozero aproveitou a pausa dos jogos para saber um pouco mais. Falámos com Marco Leite, treinador-adjunto de Jorge Costa nessa época de 2022/23, e Luisinho, o quarto jogador com mais jogos na história do Académico, de forma a traçar o perfil do avançado que apresenta números pouco vistos no segundo escalão.
«O Clóvis era, além de um belíssimo jogador, era um bom menino. Era um miúdo muito ingénuo, digamos…sentimental, é um miúdo que passou por algumas dificuldades na vida, ele e o irmão, e portanto tinha ali um coração de ouro», começa por recordar Marco Leite, à conversa com o nosso jornal.
«Foi sempre um jogador e homem em quem nós pudemos confiar durante todo aquele tempo. E a verdade foi que, agora já depois do falecimento do meu amigo Jorge, o Clóvis, quando fez um golo, mostrou uma camisola de Jorge Costa, juntamente com o Luís Silva e o Anthony Correia. Isso mostra bem a qualidade humana dele.»
A opinião é reforçada pelo ex-colega Luisinho, que lembra o avançado como o «palhacito do balneário, sempre alegre, com ar leve e contagiante». Apesar de já não serem colegas (Luisinho joga agora no Fornos de Algodres), os ex-companheiros de equipa são vizinhos e têm uma amizade bastante próxima.
E o Clóvis jogador? Esse já é recordado pela grande qualidade e os dois convidados do zerozero estão em sintonia: já merecia outros voos.
«É um jogador espontâneo, com uma receção com uma qualidade extrema, com uma qualidade técnica muito boa e com um faro para o golo apurado. Se estiver bem fisicamente é difícil de parar, é forte, é grande, é prepotente e tem um bom remate, o que faz dele um ponta de lança de exceção, quer a jogar de costas para o adversário, quer a pedir na profundidade», começa o antigo técnico.
«Um jogador que consegue combinar essas qualidades com um jogo de cabeça, na minha opinião, também interessante. Tem essas qualidades todas e isso faz dele um avançado diferente. Mesmo quando não fazia golo, contribuía muito para a equipa, porque era o primeiro a defender.»
Esta caracterização é reforçada por Luisinho: «É um finalizador nato. Como nós costumamos dizer na gíria do futebol, sente o golo.»
No entanto, para ambos, o grupo de jogadores nessa época do Académico, tal como a equipa técnica liderada por Jorge Costa que entrou já com a temporada a decorrer, foram fundamentais no desenvolvimento do atleta de 27 anos.
«Os treinadores também fazem os jogadores na forma como se relacionam e lidam com eles. Há uns que criam mais empatia, outros que criam menos empatia e depois, a partir daí, os jogadores eventualmente têm atuações diferentes, relações diferentes, estão mais ou menos felizes e isso transmite-se muito para aquilo que fazem diariamente e para aquilo que é a relação deles com o jogo», refere Marco Leite.
«O Clóvis não fugiu à exceção. Além de várias coisas, uma das grandes qualidades que o Jorge tinha foi sempre conseguir unir um balneário em volta do treinador. Não estando propriamente sempre muito presente nos balneários e com muita comunicação com os jogadores, era uma pessoa que, por si só, tinha essa característica e impunha esse respeito e essa lealdade com os jogadores.»
«Ele veio para um espaço onde procurava mais minutos, mais oportunidades. E acho que o contexto aqui acabou por ajudar a que ele fizesse, neste caso a melhor época da carreira dele. Apanhou um grupo que também soube ajudá-lo, soube levá-lo. E claro, o talento dele fez a diferença para que pudesse fazer uma grande temporada», acrescentou Luisinho.
Contudo, apesar desta qualidade que lhe é apontada, Clóvis não deu o salto na carreira como era esperado e acabou por ficar no Fontelo. Com alguma polémica à mistura, diga-se, já que o avançado recusou a apresentar-se aos trabalhos no início da temporada seguinte.
«Parece-me que isso foi mais uma questão de agente-clube e clube-jogador do que propriamente uma falta de qualidade dele para outros patamares», realça Marco Leite.
«Por exemplo, com todo o respeito pelo irmão que jogou no Vitória de Guimarães, o Anderson Silva (está atualmente no Pafos FC), na minha opinião, o Clóvis é superior enquanto ponta de lança»
«Isto no futebol é um bocadinho subjetivo, até porque eu penso que ele teve propostas para poder sair. Há coisas que vão além do nosso desempenho», opina, por sua vez, o extremo do Fornos de Algodres. «No entanto, está num clube que lhe oferece todas as condições para poder continuar a fazer um bom trabalho, continuar a ter números, e mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ser natural ele sair para outros campeonatos.»
Apesar de nas duas épocas seguintes ter apresentado números um pouco pedestres em comparação, este ano parece que o divórcio com o clube de Viseu está totalmente ultrapassado.
2025/2026 começou da melhor maneira para Clóvis, que já duplicou o registo da época passada, e caminha a passos largos para uma temporada ao nível que já mostrou no passado. Além disso, volta a fazer os adeptos viseenses sonhar com a tão aguardada subida, que nos últimos anos teimou em não chegar.
«Ele merece ser feliz e merece chegar a outros patamares porque, na minha opinião, tem mais que qualidade para isso. Agora só falta é que lhe deem uma oportunidade e eu espero que isso aconteça o mais rapidamente possível, no final desta época, se não for antes», conclui o técnico de 51 anos.
O contrato de Clóvis com o Académico termina no final da época, pelo que poderá comprometer-se com qualquer clube já em janeiro. Veremos o que está guardado para o futuro do avançado, mas com estes números não faltarão, seguramente, interessados em campeonatos de outro gabarito.









































