A ausência de um reserva para Arrascaeta ainda vai matar o Flamengo | OneFootball

Existe um poema, de atribuição duvidosa - alguns creditam ao inglês George Herbert, outros acreditam ser mais antigo - que diz mais ou menos assim: “Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, perdeu-se um cavaleiro. Por falta de um cavaleiro, perdeu-se uma batalha. E assim, um reino foi perdido. Tudo por falta de um prego.”

E diante do empate sem gols do Flamengo com o Botafogo neste domingo, mais um exemplo gritante da falta que faz um meia de articulação na equipe rubro-negra, começo a acreditar sinceramente que um reserva para Arrascaeta pode sim ser o prego faltante que vai fazer com que o Flamengo perca seu reino - ou ao menos, vários títulos

Porque o uruguaio não herdou a camisa que era de Zico por nada. Meia de rara inteligência e toque refinado, Arrascaeta é um articulador de imensa qualidade, capaz de não apenas deixar seus companheiros na cara do gol como também de aparecer ele mesmo dentro da área para finalizar. É um dos atletas mais vitoriosos da história do clube, é um jogador de seleção, está entre os seres humanos mais habilidosos que já vestiram o manto rubro-negro.

Mas Arrasca também é um cara de altos e baixos. Propenso a problemas físicos, já com seus 30 anos, é um jogador que precisa ser dosado e cuja carga precisa ser controlada, já que por mais que a torcida peça pro Flamengo “soltar o Arrascaeta nessa porra”, nem sempre ele está em condição de ser solto e às vezes soltar demais reduz a própria eficiência do atleta.

Só que aí surge a questão: se não for o Arrascaeta, vai ser quem? Gérson hoje atua pelo lado do campo ou como volante, mas não como meia. Lorran vive uma montanha russa de emoções em que num dia é a maior promessa do futebol mundial e no outro é mandado de volta ao sub-20, com direito a ser esquecido no aeroporto no meio do caminho. E se os que já foram ou são meias de ofício não conseguem cumprir a função, a improvisação é ainda pior.

Matheus Gonçalves não vem ganhando chances nem na própria posição, e quando entra parece no mínimo confuso. Luiz Araújo é um cara dedicado, que ocupa espaços e tem bom chute, mas está longe de ser um articulador ou mesmo um jogador cerebral, sendo seu perfil muito menos o da construção de jogadas e bem mais o da crise de ansiedade seguida de chute maluco. E isso porque ele é, visivelmente, o mais tranquilo dos nossos pontas - Michael atualmente não deve estar acertando nem na hora de calçar a meia, que dirá jogar como meia.

Ou seja, quando Arrascaeta, um jogador que com frequência se machuca, é convocado ou precisa controlar sua minutagem, está machucado, é convocado,  e precisa ter sua minutagem controlada -ou mesmo tem um dia ruim, como acontece com qualquer um - o Flamengo fica sem absolutamente nenhum meia de criação. Nenhuma opção decente, nenhum recurso funcional, apenas, com grande frequência, três ou quatro pontas correndo sem rumo pelo ataque, na frente de volantes atônitos, esperando que Rossi, Léo Ortiz ou Pulgar acertem um lançamento.

Porque futebol é velocidade, futebol é imposição física, é conhecimento tático, mas futebol é, em grande parte, inteligência. E não apenas faz imensa falta um atleta capaz de pensar as jogadas no meio de campo como parece ser de uma imensa falta de inteligência que o Flamengo ainda não tenha resolvido um problema que não começou esse ano, mas na verdade já afeta o time há algumas temporadas. E com isso não fazemos gols, e com isso perdemos pontos, e assim perdemos títulos. Tudo isso por causa de um prego. Quer dizer, de um reserva para Arrascaeta.