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·16 de septiembre de 2025
Ciência da vitória: como a nutrição revolucionou o futebol

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A Superbet entrevistou uma série de profissionais do mundo da bola para mostrar a evolução da nutrição no esporte de alto rendimento
Talento para o esporte. Disciplina para manter o foco nos treinamentos. Saúde mental em alta. E uma excelente preparação física.
Esses são fatores que podem fazer com que um jogador de futebol tenha uma carreira bem-sucedida. E, dentro da preparação física, há um elemento que está ganhando cada vez mais espaço na preocupação dos atletas: a nutrição.
Se até a geração de craques como Sócrates, Zico, Rivaldo, Romário, Kaká, Ronaldo e Ronaldinho a alimentação era colocada em segundo plano, atualmente tudo o que um jogador ingere é acompanhado minuciosamente pela comissão técnica dos clubes.
Em uma escala de 0 a 100 %, a importância da nutrição para que um time de futebol profissional tenha reais condições de ganhar um título é de “100 %”, crava Denise Pereira, nutricionista do Red Bull Bragantino em entrevista para o time da Superbet, casa de apostas esportivas.
“A dedicação que os jogadores precisam ter com a alimentação e a suplementação de nutrientes, aliada aos cuidados como o sono, precisa ser de 100%. E não só na véspera dos jogos. É uma responsabilidade dos jogadores com a carreira e a estrutura física deles”, argumenta.
Nos times brasileiros (e não só os da Série A, mas também muitos da Série B), diz Denise, “cada jogador recebe um plano alimentar que ele precisa seguir diariamente, para que tenha uma ótima condição de trabalho. Isso vai garantir um gol, uma defesa feita em um pênalti, um último sprint ao final de um jogo”.
Mesmo com esse plano, ainda há atletas que driblam as instruções. O nutricionista Zilmar Quadros conta que, basicamente, esses profissionais necessitam de carboidrato (para ganhar energia), proteína (ajuda até na recuperação muscular), vitaminas e minerais (para determinadas funções corporais) e hidratação (para repor líquidos e manter desempenho). Mas, diz ele, “atletas de futebol aqui no Brasil costumam consumir muitas proteínas e, às vezes, esquecem de consumir carboidratos”.
Mas os jogadores estão mais conscientes. Sentem como a nutrição ajuda para que tenham uma melhora no desempenho e uma carreira mais longeva. “Estou com 41 anos e me sentindo muito bem. Tenho certeza de que a minha alimentação foi fundamental para que eu tenha chegado assim a este ponto da carreira”, conta Vagner Love, atacante que já passou por Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Sport, Avaí, CSKA (Rússia), Alanyaspor (Turquia), Shandong Luneng (China), entre outros, e que atualmente está no Retrô, equipe de Pernambuco que disputa a Série C do Brasileiro.
“Tento comer bastante saladas e carboidratos, com pouca gordura, e sempre nas horas certas. Porque isso faz com que eu esteja bem preparado nos treinamentos e nos jogos.”
Vagner Love lembra que passou por uma mudança na nutrição entre sua passagem pelo Shandong Luneng (2013) e o Corinthians (2015). “Quando a gente é jovem, não dá tanto valor à nutrição, e aí acaba comendo qualquer coisa, muito fast food. Quando cheguei ao Corinthians, tive o auxílio da Chris (Christine Fernanda Machado Neves). Ela me passou uma dieta sensacional, que diminuiu o meu peso e o meu percentual de gordura.”
O jogador percebeu que a nutrição o fazia um atleta melhor, e continua prestando atenção aos alimentos que leva à boca: “Hoje eu e minha esposa temos uma pessoa que está conosco há alguns anos, vai em casa e nos ajuda com a alimentação”.
Love afirma que é importante que os jogadores em início de carreira prestem atenção ao que comem. “Um conselho para eles é: tenham o acompanhamento de um nutricionista. Sigam o que o nutricionista do clube passa para vocês. Se alimentem bem. E descansem. Alimentação e descanso andam juntos”.
Se lá na época de Sócrates e Zico o conhecimento em relação à importância da alimentação dos atletas estava apenas engatinhando, hoje a área é encarada como fundamental para que os jogadores tenham um desempenho de excelência – dê uma olhada na linha do tempo desenhada no infográfico.
Especialista em nutrição aplicada ao esporte de endurance, com passagens por clubes de futebol profissional, Nathalia Fiori ressalta que a nutrição esportiva “evoluiu bastante” nas equipes brasileiras nos últimos 20 anos.
“Foi uma evolução impressionante. Se antes a nutrição era vista apenas como ‘comer bem para ter energia no jogo’, hoje é encarada como deve ser, como uma ciência aplicada, que tem impacto direto na performance, na recuperação pós-jogo, na prevenção de lesões, na imunidade e na longevidade da carreira dos atletas.”
Se antigamente as dietas e recomendações eram coletivas, atualmente o preparo é individualizado.
“No passado, a recomendação era praticamente a mesma para todos os jogadores. Hoje, utilizamos estratégias individualizadas, ajustadas ao perfil de cada atleta, ao calendário de treinos e jogos, ao posicionamento em campo. Por exemplo, um lateral, que percorre distâncias enormes em alta intensidade, têm demandas diferentes das de um goleiro”, explica.
No artigo “New Opportunities to Advance the Field of Sports Nutrition”, publicado no PubMed Central, cinco pesquisadores abordam a evolução acelerada da nutrição esportiva.
Nos últimos anos, houve uma explosão de tecnologias e inovações na área, como equipamentos vestíveis (wearables), monitoramento contínuo de glicose e análise de biomarcadores, tudo isso para tornar prescrições mais personalizadas e com maior validade de campo.
As séries A e B do Brasileiro têm times de todas as regiões do país, cada uma com ingredientes e hábitos alimentares diferentes. Assim, há a inclusão de comidas e pratos regionais nos cardápios (cuscuz em times nordestinos; açaí em clubes do norte), como podemos ver no infográfico abaixo.
Mesmo assim, as dietas estão cada vez mais parecidas. Denise explica por quê: “Os meninos saem muito cedo de casa e migram para outras regiões. Chegam muito cedo aos alojamentos dos clubes, às vezes com 11, 12, 13 anos. Quando um adolescente do nordeste chega a um time do sudeste, por exemplo, ele se adapta rapidamente aos costumes daqui”.
O futebol profissional mudou muito. Se antes habilidade e técnica faziam a diferença, hoje um jogador não consegue se destacar em campo se não tiver força, potência e velocidade.
Quem afirma é o jornalista esportivo Arnaldo Ribeiro. Ele diz que o primeiro jogador que o fez notar essa virada de chave no futebol foi Ronaldo (o Fenômeno), na segunda metade dos anos 1990.
“Ele conseguia aliar a técnica com a força. O Ronaldo saiu do Brasil apenas como um cara técnico e veloz. A transformação na força física veio na Europa. Em termos de atleta de alto rendimento no futebol, foi ele quem marcou essa transformação", aponta.
Segundo Arnaldo, demorou para enxergarmos essa mudança de paradigma, esse domínio físico dentro do futebol. Por uma razão: Lionel Messi.
“Ele conseguia, no Barcelona, jogar com os dribles, com os passes. Ele se desvencilhava do choque, do contato físico. Então ficou na cabeça a ideia de que ainda havia lugar para jogadores apenas técnicos, frágeis fisicamente.”
O antagonista de Messi, o português Cristiano Ronaldo, é, para Arnaldo, um dos principais exemplos de como a boa preparação física é fundamental para o desempenho em campo. “Cristiano Ronaldo foi investindo cada vez mais na parte física. O Messi nos remete a uma época mais romântica, até mais inclusiva do futebol, em que não importava muito ser baixinho, magrinho. E, para fazer frente ao Messi, o Cristiano teve de se reinventar como jogador. Muito do sucesso dele se deve ao desenvolvimento físico: à impulsão, à potência nos chutes, ao arranque. Além disso, não teria a longevidade que tem se não tivesse cuidado do corpo.”
Segundo Denise Pereira, nutricionista do Red Bull Bragantino, além da individualização, a nutrição é essencial para que o atleta mantenha desempenho em meio a uma rotina intensa de jogos.
“O pico de fornecimento de energia é na véspera. No dia do jogo, há a manutenção glicêmica, por meio de carboidratos. E ficamos atentos à hidratação. Se há um jogo às 11h, na véspera fazemos um teste de hidratação, com o equipamento que temos, para ver se o atleta está bem hidratado ou se há algum déficit.”
Nos dias em que a partida é às 11h, explica Denise, a preparação é diferente em relação aos jogos realizados à tarde ou à noite.
“Não reproduzimos no café da manhã o que seria servido em um almoço, como massa, purê de batata, filé de frango. Colocamos no cardápio mandioca, batata-doce, milho cozido, além de ovos mexidos, omeletes e tapioca. O abastecimento de nutrientes é feito principalmente nos dois dias anteriores. No dia do jogo às 11h, há apenas uma manutenção, uma complementação.”
Se um jovem jogador quiser se espelhar em alguém como Vagner Love ou Cristiano Ronaldo para ter uma carreira não apenas bem-sucedida, mas longeva, é imprescindível ter um carinho especial pela nutrição.
“A nutrição é o pilar principal para que um profissional tenha uma carreira com longevidade em qualquer esporte”, indica o nutricionista Zilmar Quadros. “Uma dieta planejada a partir das necessidades da pessoa pode reduzir inflamações e fortalecer o sistema imunológico, promovendo a saúde geral a longo prazo. Não tem como: uma boa nutrição é fundamental para um atleta profissional.”
Segundo uma revisão de estudos internacionais feita em 2023 por Darlyson dos Santos Silva e Maria Cláudia da Silva, do Centro Universitário de Brasília (CEUB), e publicado no site "Research, Society and Development", “o principal combustível utilizado para os músculos ao realizar atividades de alta intensidade é o carboidrato (CHO), macronutriente fundamental para os jogadores de futebol”.
"Observando o gasto de energia dos jogadores da Premier League inglesa ao longo de um microciclo de temporada de sete dias, composto por dois jogos e cinco dias de treinamento, os atletas queimaram em média cerca de 3.500 kcal por dia”, descreve o estudo.
Os dados apresentados por essa pesquisa reforçam a necessidade de um plano alimentar estratégico e individualizado, que vai além de recomendações usuais.
No futebol moderno, onde a alta performance é a norma e o calendário de jogos é implacável, a nutrição se estabelece não apenas como uma fonte de energia, mas atua como uma ferramenta científica essencial para aprimorar o desempenho, acelerar a recuperação muscular e garantir que cada jogador, de acordo com sua posição e demanda energética, esteja sempre no ápice físico.