
Gazeta Esportiva.com
·10 de octubre de 2025
Comissões do Corinthians solicitam sete faturas da gestão Andrés não apresentadas nem ao MP

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·10 de octubre de 2025
As Comissões de Justiça e Ética do Corinthians e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ainda não receberam todas as faturas de cartões corporativos que possam ter sido utilizados por Andrés Sanchez durante o último mandato dele à frente do clube. Ao analisarem os documentos recebidos, tanto as comissões como o MP identificaram a ausência de faturas dos sete primeiros meses da gestão, ou seja, a lacuna aberta vai de janeiro a julho de 2018.
As faturas recebidas pela Comissão de Justiça e pelo MP abrangem o período de agosto de 2018 a dezembro de 2020. Já os documentos pertinentes aos sete meses anteriores a este período, não foram apresentados.
Conforme apurou a Gazeta Esportiva, naquele primeiro semestre de 2018, o Corinthians detinha apenas um cartão corporativo, da American Express. Este cartão ficava disponível e sob responsabilidade da diretoria para uso de qualquer necessidade do clube, portanto, não havia um cartão específico para o presidente ou para qualquer outro membro da gestão.
Além disso, o Timão enfrentava problemas com a Amex devido a inadimplência e, por isso, não tinha a liberação do banco para cadastrar novos dependentes e, assim, conseguir cartões adicionais.
A diretoria do Corinthians, na ocasião, foi ao mercado e avaliou as condições para formalizar uma parceria com a inclusão do repasse da folha de pagamentos dos funcionários clube. A instituição financeira escolhida foi o banco Santander. O clube fechou um acordo, pôde cadastrar outros cartões e, a partir daquele momento, o presidente passou a ter este privilégio.
O cartão destinado a Andrés Sanchez foi habilitado em julho e passou a ser utilizado em agosto. Desta maneira, as faturas começaram a chegar ao clube a partir de setembro de 2018, com as cobranças do mês anterior. Antes deste período, os gastos não eram individualizados.
(Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
As Comissões de Justiça e Ética do Corinthians, assim como o MP, entendem que há necessidade de se averiguar as sete faturas que não foram entregues até agora, mesmo que as despesas não tenham sido exclusivamente do presidente. Para isso, porém, clube e MP vão adotar estratégias distintas.
O Ministério Público, liderado pelo promotor Cassio Roberto Conserino neste caso, não deve cobrar do Corinthians o envio das faturas, em princípio. Segundo apuração da Gazeta Esportiva, o MP entende que terá acesso às faturas do período apontado por meio da quebra de sigilo bancário.
A Comissão de Justiça do clube, em conjunto com a Comissão de Ética, por sua vez, decidiu não esperar o MP e se antecipou com um pedido à atual diretoria financeira para que as faturas ausentes sejam entregues. A informação foi confirmada pelo vice-presidente do Conselho Deliberativo e presidente da Comissão de Ética, Leonardo Pantaleão, em nota enviada à reportagem.
“De fato, as faturas apresentadas até o momento abrangem o período a partir de agosto de 2018, quando o clube passou a operar com o Banco Santander. Entretanto, no exercício das funções que me foram atribuídas pelo presidente do Conselho Deliberativo, Dr. Romeu Tuma Jr., e representando a Comissão de Ética junto à Comissão de Justiça, solicitei ao Departamento Financeiro para que também encaminhe as faturas do cartão American Express, referentes ao período de janeiro a julho de 2018. O objetivo é garantir que a análise realizada pelas Comissões internas abranja a totalidade do segundo mandato do ex-presidente, assegurando transparência, completude e rigor técnico em todo o processo de verificação”, disse o dirigente, no comunicado.
A Gazeta Esportiva entrou um contato com o Corinthians, que se manifestou por meio de nota oficial. O clube defende que entregou ao MP todos os documentos solicitados e relativos aos ex-presidentes Andrés Sanchez, Duilio Monteiro Alves e Augusto Melo (de 2018 a 2025). Como ainda não havia um cartão da presidência nos primeiros sete meses da gestão Andrés, o Timão não enviou as faturas daquele semestre, algo que a atual gestão, liderada por Osmar Stabile, não vai se opor em fazer diante de um pedido formal.
“O Sport Club Corinthians Paulista comunica que todos os documentos relativos aos ex-presidentes no período de 2018 a 2025 requisitados pelo Ministério Público foram entregues em agosto deste ano. Sobre o questionamento da reportagem, o clube informa que tal cartão da presidência passou a existir a partir do segundo semestre de 2018. O Corinthians reforça seu comprometimento na colaboração com as investigações do Ministério Público”.
Andrés Sanchez, apesar de não ter autonomia nem responsabilidade sobre a entrega das faturas aos órgãos que solicitarem a documentação, recebeu a oportunidade de se manifestar após contato da Gazeta com a defesa do ex-presidente. Até o momento da publicação desta matéria, não houve qualquer resposta. Caso Andrés opte por se pronunciar sobre o caso, este texto será atualizado.
Na semana passada, a Comissão de Justiça recebeu do departamento financeiro do Corinthians as faturas referentes aos três anos do mandato de Andrés Sanchez, entre 2018 e 2020, e identificou R$ 190 mil em despesas suspeitas. Portanto, o órgão convocou a prestar esclarecimentos os ex-diretores que, à época, tinham a responsabilidade de fiscalizar o uso dos cartões: Matias Ávila (ex-diretor de finanças), Osmar Basílio (ex-presidente do Conselho Fiscal) e Guilherme Gonçalves Strenger (ex-presidente do Cori).
A Comissão listou, a princípio, 50 gastos, com identificação de locais e valores que, somados chegam a R$ 190.523,54. Entre as principais cobranças separadas e revistas pela CJ, estão despesas com hospitais, clínicas e farmácias, em lojas de móveis e eletrônicos, além de custos com uma empresa de taxi aéreo e centros automotivos.
Os membros da Comissão de Justiça do Corinthians entendem que não há nenhum tipo de comprovação de que estas compras foram feitas para uso do clube ou necessidade do mandatário. As despesas não possuem nenhum tipo de comprovante anexado.
Além disso, o Ministério Público solicitou ao Corinthians, entre os dias 26 e 29 de setembro, dados e explicações sobre mais de 50 aquisições duvidosas feitas pelo ex-presidente. Cassio Roberto Conserino, promotor responsável pelo caso, estipulou dez dias corridos como prazo para a diretoria alvinegra enviar as respostas.
A intenção do MP, em meio a investigação sobre supostos gastos pessoais indevidos, é entender quais eventos relacionados à rotina do então dirigente podem justificar os mais de 50 gastos suspeitos listados e, por outro lado, quais gastos, de fato, podem ser considerados incompatíveis com o exercício da presidência de um clube de futebol.
Andrés Sanchez, vale lembrar, prestou depoimento ao MP-SP na última quinta-feira. A reunião aconteceu por videoconferência e durou aproximadamente 15 minutos. Dois temas principais foram abordados pelo promotor: as despesas de cerca de R$ 5 mil em uma joalheria e de quase R$ 7 mil em Fernando de Noronha, em 2020.
O Procedimento Investigatório Criminal (PIC) foi instaurado pelo Ministério Público em meados de junho deste ano. À época, o órgão também agendou oitivas com o atual presidente, Osmar Stabile, o vice Armando Mendonça e o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, a fim de entender o funcionamento dos cartões corporativos do Corinthians.
Inicialmente, a apuração do MP iria abranger somente o período das gestões de Andrés Sanchez (2018 a 2020) e Duilio Monteiro Alves (2021 a 2023). Porém, após ouvir alguns depoimentos, o órgão decidiu investigar também o mandato de Augusto Melo. Além de uma suposta apropriação indébita, são apurados também os possíveis crimes de estelionato, furto qualificado, falsidade ideológica e associação criminosa.
(Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
O caso veio à tona no início do mês de julho, quando Andrés admitiu ter utilizado o cartão de forma indevida para pagamento de despesas pessoais em Tibau do Sul, Rio Grande do Norte, no fim de seu último mandato, em 2020.
Dias após a revelação dos gastos, ele ressarciu o Corinthians com juros e correção monetária. O ex-presidente, no entanto, responde a um processo disciplinar na Comissão de Ética e Disciplina do clube. Os torcedores pedem punições e até a expulsão de Andrés.
Houve, também, uma acusação de supostos gastos pessoais durante a gestão de Duilio Monteiro Alves. As despesas, contudo, não estão necessariamente ligadas ao ex-presidente. Ele não reconhece as faturas e registrou uma notícia-crime na Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade/Dope), solicitando a inclusão desta no inquérito policial já em andamento, que denuncia a circulação de documentos falsos e manipulados.
No início do mês de setembro, o MP pediu à Justiça que Andrés, Duilio e Augusto Melo sejam temporariamente afastados dos Conselhos Deliberativo e de Orientação do Corinthians durante a investigação. Até o momento, no entanto, não houve uma manifestação do Poder Judiciário.
(Foto: Peter Leone/O Fotografico/Gazeta Press)
O Corinthians informou, há cerca de duas semanas, que concluiu a entrega dos documentos sigilosos solicitados pelo MP. O clube se coloca à disposição das autoridades, mas teme vazamentos e reforça o cuidado para não expor ainda mais a imagem de instituição.
Além das supostas despesas pessoais, o MP também abriu investigação para apurar uma possível ligação do clube com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), motivada pelo depoimento de Romeu Tuma Júnior, presidente do CD do Corinthians, colhido pelo órgão.