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·19 de julio de 2025

Como Filipe Luís virou o jogo ao expor Pedro e escancarar a cobrança no futebol brasileiro

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A coletiva histórica do lateral abriu um debate raro sobre responsabilidade e transparência no futebol, e a reação de Pedro só reforçou o impacto público do episódio

A entrevista de Filipe Luís sobre a situação de Pedro continua reverberando e, mesmo dias depois, se mostra uma verdadeira quebra de paradigma. Ela convida a refletir sobre vários aspectos que ainda ecoam no futebol brasileiro.


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Logo após assisti‑la, afirmei que Filipe Luís havia produzido uma obra‑prima entre as coletivas pós‑jogo. Passados alguns dias, reforço ainda mais essa sensação.

Pedro se manifestou recentemente e, de forma até surpreendente, confirmou todos os fatos expostos por Filipe Luís. Disse não ter vaidade e assumiu que seu rendimento estava abaixo do nível dos companheiros, reconhecendo que estavam claros os motivos pelos quais não deveria ter sido relacionado para a partida.

Portanto, como dizem os advogados, os fatos são incontroversos. Pedro admitiu rendimento inferior ao do grupo e explicou, em suas próprias palavras, que sua ausência era “simples e clara”. Caso encerrado? Não no Brasil.

Pedro acrescentou, no entanto, que a maneira como tudo foi exposto publicamente foi “acima do tom e desrespeitosa”.

Ao lado dele, surgiram torcedores e jornalistas repetindo chavões como “roupa suja se lava em casa” ou “isso se resolve internamente”, ignorando a dimensão pública do fato.

É preciso lembrar que jogadores e demais profissionais do futebol estão sujeitos a um amplo escrutínio público. Movimentam uma engrenagem bilionária cujo ativo depende exclusivamente da atenção que os torcedores dedicam – por isso ganham tanto.

Apesar disso, é raro que se cobrem desses profissionais regras de “accountability”, ou seja, de prestação de contas e responsabilização. O discurso de “resolver internamente” acaba isentando atletas do dever de prestar contas mesmo quando admitem ter negligenciado obrigações profissionais.

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É curioso, inclusive, que uma cobrança pública mais incisiva tenha recaído justamente sobre um atleta com o perfil de Pedro. O senso comum atribui o “corpo mole” a jogadores notívagos, beberrões ou mulherengos. Pedro, pacato na vida particular, é o extremo oposto desse estereótipo.

Por fim, o mais importante: Filipe Luís foi habilidoso ao subverter a lógica predominante no conceito de que “roupa suja se lava em casa”. Ora, se ao público não é dado saber que um atleta é negligente, ao primeiro fracasso só resta culpar o treinador, como vemos rotineiramente.

Essa lógica é perversa: para “preservar” a imagem pública de um atleta preguiçoso, naturaliza‑se que a ira pública seja canalizada para o treinador, que deve ocultar a verdade para não melindrar suas “prima-donnas”.

Um time campeão é a soma de muitos fatores, e um deles é a conexão com a torcida. Filipe Luís demonstrou profundo respeito a quem, ao final, paga seu salário: a Nação Rubro‑Negra. Com essa mentalidade de excelência e cobrança, o time pode ir longe.

Reforço, porém, um ponto que intriga: se há consenso de que Pedro foi indolente, por que as palavras de Filipe Luís causaram tanto ruído? Coloco “duras” entre aspas porque, para mim, ele foi respeitoso e cauteloso. A resposta vai além do futebol.

Dois traços marcantes dos brasileiros são a elevada sensibilidade e a dificuldade crônica de lidar com a franqueza, muitas vezes interpretada como ofensa ou grosseria. Há textos acadêmicos sobre o assunto, e recomendo a leitura de artigos que ilustram bem esse conceito.

Ser franco não é ser ofensivo ou rude; é apenas dar menos atenção à aparência e mais às consequências. Um ambiente de futebol que estimule seus profissionais a serem mais zelosos com suas obrigações é melhor para todo mundo.

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