JB Filho Repórter
·20 de diciembre de 2025
Descobri a mágoa que fez Sonda acionar o Inter na justiça

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·20 de diciembre de 2025

A ação judicial movida por Delcir Sonda contra o Internacional, que hoje gira em torno de 60 milhões de reais, não nasceu apenas de uma cobrança fria ou de um movimento financeiro isolado. O que existe por trás do processo é uma mágoa pessoal profunda, construída ao longo de anos, e que tem origem direta na forma como o empresário entende que passou a ser tratado pelo clube.
A dívida começa lá atrás, em 2008, com a contratação de Andrés D’Alessandro. Na época, o Inter não tinha os 7 milhões de dólares necessários para fechar o negócio e contou com um empréstimo feito por Sonda. O acordo previa que o clube ficaria com 50% dos direitos do jogador e o empresário com os outros 50%. D’Alessandro nunca foi vendido e, quando deixou o Inter em 2020, saindo gratuitamente para o Nacional, uma cláusula contratual foi acionada.
Essa cláusula determinava que, caso o jogador saísse de graça ao fim do contrato, o Inter teria de ressarcir o valor investido. Diante disso, a gestão da época foi obrigada a assinar uma confissão de dívida no valor de 18 milhões de reais. Além disso, ao longo dos anos, Sonda realizou outros dois empréstimos emergenciais ao clube: um de 2 milhões de reais e outro de 10 milhões de reais. Somando tudo, a dívida principal gira em torno de 30 milhões, mas com juros, correções monetárias e encargos, chega aos atuais 60 milhões cobrados na Justiça.
Até aqui, a parte financeira. O ponto central, porém, está no aspecto pessoal. Pessoas próximas a Delcir Sonda relatam que ele não se sentiu respeitado pela atual condução do clube. Um dos fatores que mais o incomodou foi o fato de essa dívida, segundo ele, não estar sendo registrada adequadamente na contabilidade do Inter. Na visão do empresário, o clube trata o valor como algo que “não vai dar em nada”, enquanto outras dívidas semelhantes foram reconhecidas formalmente.
Um exemplo citado é a dívida referente ao irmão de Sonda, que já faleceu. Nesse caso, o Inter reconheceu o débito, firmou acordo com a viúva e tratou a situação de maneira oficial. Já com Delcir Sonda, isso não teria ocorrido. Essa diferença de tratamento foi sentida como desprestígio e desconsideração.
Outro ponto que pesou foi o fato de o Inter ter feito acordo com empresas que compraram dívidas da viúva do irmão de Sonda, enquanto, na visão dele, não demonstrou o mesmo empenho para resolver diretamente a situação com quem sempre manteve uma relação histórica com o clube. Isso aumentou ainda mais o desgaste emocional.
Delcir Sonda vive hoje um momento diferente da vida. Ele enfrentou problemas de saúde, passou por procedimentos cardíacos recentes e se afastou do dia a dia dos negócios, repassando funções dentro da empresa. Nesse contexto, passou a adotar uma postura mais pragmática e decidiu acionar judicialmente todos os clubes que têm pendências com a DISC, sua empresa — e o Inter está entre eles.
O que chama atenção é que, segundo pessoas próximas, Sonda nunca teve como objetivo “quebrar” o Inter ou retirar dinheiro do clube a qualquer custo. Pelo contrário. Durante muitos anos, ele manifestou o desejo de ajudar ainda mais o clube, chegando a sonhar em financiar a construção do CT de Guaíba e até doar recursos para contratações. Há relatos de que ele pretendia, inclusive, deixar parte significativa de sua fortuna ao Inter no futuro, já que não tem esposa nem filhos.
O processo judicial, portanto, não nasce de uma mudança de amor pelo clube, mas de uma ferida aberta pelo sentimento de não reconhecimento. A leitura do entorno de Sonda é clara: ele se sentiu maltratado, ignorado e deixado de lado em um momento em que esperava diálogo e respeito.









































