Para relembrar: o EC Siderúrgica, campeão mineiro de 1964 | OneFootball

Para relembrar: o EC Siderúrgica, campeão mineiro de 1964 | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Última Divisão

Última Divisão

·18 de diciembre de 2025

Para relembrar: o EC Siderúrgica, campeão mineiro de 1964

Imagen del artículo:Para relembrar: o EC Siderúrgica, campeão mineiro de 1964

São raras as vezes que o futebol mineiro viu um clube desafiar a hegemonia do trio formado por América, Atlético e Cruzeiro. Ao longo da história, o “intruso” de mais sucesso é o Villa Nova, com cinco títulos entre 1932 e 1951, enquanto os casos mais recentes são da Caldense (no esvaziado Campeonato Mineiro de 2002) e do Ipatinga (em 2005).

Mas esta lista tem um integrante que, por vezes, passa despercebido para olhos menos atentos, mas que ajuda a entender o futebol de Minas Gerais: o Siderúrgica, campeão em 1937 e 1964. E sim, é “o Siderúrgica”, e não “a Siderúrgica”.


OneFootball Videos


Dos tempos de escola, você certamente se lembra das aulas de história sobre o Ciclo do Ouro em Minas Gerais – logo, sabe da importância da extração mineral para a economia de Minas Gerais ao longo dos séculos. A cidade de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, fez parte desta engrenagem – primeiro com o ouro, depois com o minério de ferro.

Foi ali que, em 1917, nasceu a Companhia Siderúrgica Mineira, que virou a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira em 1921 e que virou a ArcelorMittal em 2001. Foi nesta cronologia que nasceu o Esporte Clube Siderúrgica, fundado em 1930 por funcionário da Belgo-Mineira para ser uma opção de recreação dos quadros da empresa.

O time de futebol do Esporte Clube Siderúrgica estreou no mesmo ano da fundação e logo se mostrou um investimento certeiro – não raro os jogadores tinham empregos formais vinculados à empresa. Filiado em 1931 à Liga Mineira de Desportos Terrestres, conquistou o Campeonato Mineiro de 1937 ao vencer o Villa Nova na decisão.

O título, no entanto, não foi suficiente para consolidar o clube entre as principais forças do estado. Na época, o Atlético era a potência local, enquanto o América vinha tentando recuperar terreno e o Cruzeiro – ainda chamado Palestra Itália – começava a se firmar. Em 25 anos, entre 1938 e 1963, o Siderúrgica chegou perto do segundo título, as foi vice-campeão estadual em cinco ocasiões.

Yustrich, o divisor de águas

O divisor de águas do Siderúrgica veio em 1963 com a contratação de Dorival Knipel, o Yustrich. O treinador contabilizava boas campanhas com Atlético, América, Villa Nova e Uberaba, sendo campeão mineiro em 1948 (América), 1952 e 1953 (Atlético). No Siderúrgica, ajudou a dar novos rumos à equipe.

“Ele chegou em 1963 e mudou tudo. Trouxe uma nova filosofia e soube principalmente nos valorizar, assim como a cidade de Sabará”, afirmou Djair, goleiro da equipe naquela época, em entrevista em 2024 ao jornal Estado de Minas. “Nos tornamos todos amigos e isso foi determinante para a conquista do título”, reforçou o ex-volante Edson Dedão.

Leia também:

  • Tancredo, Aécio e o Minas Futebol Clube: o time da família Neves em São João Del-Rei
  • A volta do Norte de Minas à elite do Campeonato Mineiro
  • Os insucessos do futebol de Betim
  • A história dos times de Minas Gerais e Goiás no Campeonato Brasiliense

Yustrich chegou pedindo reforços e prometendo conduzir a equipe ao título. Em pouco tempo, sua figura se impôs.

“Naquele primeiro ano, ele começou a nos preparar. Mas foi em 1964 que houve as mudanças. Primeiro, ele não queria mais que ninguém trabalhasse e jogasse. Todos nós éramos funcionários da Belgo-Mineira. Ele acabou com isso. Fez um acordo com a companhia, que continuou a nos pagar. Mas a gente só treinava e jogava. Isso foi fundamental”, lembrava o ex-goleiro Djair.

O Campeonato Mineiro de 1964 foi disputado entre julho e dezembro, e a filosofia de Yustrich logo mostrou resultado. O Siderúrgica estreou em 5 de julho com uma vitória fora de casa sobre o Democrata de Sete Lagoas: 1 a 0, gol de Jair. A esta, somaram-se mais quatro vitórias: 4 a 0 no Pedro Leopoldo, 3 a 2 no Villa Nova, 2 a 0 no América e 4 a 0 no Nacional de Uberaba.

“Ele observava o modo de jogar do adversário no primeiro tempo. No segundo, mudava tudo. Era outro jogo. No vestiário, Yustrich mudava a maneira do nosso time jogar. Era infalível”, explicou Djair em 2024.

Foram 16 jogos de invencibilidade, com 11 vitórias. A primeira derrota veio em 1º de novembro, quando o Esquadrão de Aço visitou o Cruzeiro no Barro Preto e perdeu por um contestado 1 a 0. “Foi a nossa única derrota. Mas tenho certeza que o gol do Tostão foi em impedimento”, assegurava o ex-goleiro.

Apesar do embalo do Siderúrgica, o título só foi decidido na última rodada. Em 13 de dezembro, foi ao Estádio da Alameda para enfrentar o América, que tinha um ponto a menos (33 a 32) e precisava vencer para ser campeão.

Só que o Siderúrgica não deu chances e foi para o intervalo vencendo por 3 a 0, com gols de Ernane aos 21 minutos, Noventa aos 24 minutos e Aldeir aos 44 minutos. O América ainda diminuiu no segundo tempo, com gol de Jair Bala aos 23 minutos, mas não foi páreo para o time de Sabará.

Na festa, diversos jogadores foram a pé de Belo Horizonte a Sabará para cumprir promessa pelo título. Entre eles, o atacante Noventa, que quebrou o braço ainda no primeiro tempo e só recebeu atendimento médico após o jogo.

As apagadas tentativas de volta

O Siderúrgica ainda participou do Campeonato Brasileiro de 1965, com boa campanha. Estreou nas semifinais da Zona Sul eliminando o Atlético-GO, com direito ao primeiro confronto interestadual do recém-inaugurado Mineirão, e perdeu o título da região para o Grêmio. No Campeonato Mineiro, foi o terceiro colocado, atrás do campeão Cruzeiro e do vice América.

Mas os custos do futebol começaram a se tornar altos para a Belgo-Mineira. O Siderúrgica foi rebaixado no Mineiro de 1966 e perdeu o apoio financeiro da empresa em 1967. O clube optou então por desativar o departamento de futebol profissional, sobrevivendo por muitos anos no amadorismo.

A partir daí, a Tartaruga – como ficou conhecida a equipe – viveu de aparições pontuais e sem brilho em divisões de acesso. Retornou aos gramados em 1993 para a disputa do Módulo II (o segundo patamar do futebol de Minas Gerais) e em 1997 para a disputa da Segunda Divisão (o terceiro patamar), mas acaou eliminada. Repetiu as tentativas em 2007, 2011, 2012 e 2016, caindo sempre na primeira fase.

Curiosamente, o Siderúrgica não venceu um jogo em nenhum dos seis campeonatos citados – um cenário bem diferente do rolo compressor que se viu no Campeonato Mineiro de 1964.

FICHA TÉCNICA AMÉRICA 1 X 3 SIDERÚRGICA

Local: Estádio Otacílio Negrão de Lima (Alameda), em Belo Horizonte (MG) Data: 13 de dezembro de 1964, domingo Público: 8.970 torcedores Renda: Cr$ 4.245.250,00 Árbitro: Doraci Jerônimo Gols: Ernane (SID), aos 21 min do 1º T; Noventa (SID), aos 24 min do 1º T; Aldeir (SID), aos 44 min do 1º T; Jair Bala (AME), aos 23 min do 2º T

AMÉRICA: Davi; Luisinho (Robson), Klebis, Zé Horta, Catocha; Zé Emílio, Nei; Geraldo, Jair Bala, Dario e Sérgio Técnico: Moacir Rodrigues

SIDERÚRGICA: Djair; Geraldinho, Chiquito, Zé Luis, Dawson; Edson Dedão, Paulista; Ernane, Silvestre, Noventa (Aldeir) e Tião Cavadinha Técnico: Yustrich

Ver detalles de la publicación