Última Divisão
·4 août 2025
A volta do Norte de Minas à elite do Campeonato Mineiro

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·4 août 2025
Por Nathan Sacchetto Madureira
O futebol do Norte de Minas Gerais volta em 2026 a respirar os ares da elite estadual. Com o acesso do North Esporte Clube no Módulo II do Campeonato Mineiro de 2025, a cidade de Montes Claros — maior polo urbano da região — encerra um longo jejum, recolocando todo o cenário esportivo norte-mineiro entre os grandes de Minas Gerais, encerrando um jejum de 15 anos de ausência na primeira divisão.
O feito ganha ainda mais peso por se tratar de um clube jovem, fundado em 2022, que já apresenta um projeto consistente como clube-empresa, comandado pelo Grupo 3F e pelo presidente Victor Oliveira. Depois de bater na trave em 2024, os Gladiadores sacramentaram o acesso em 2025 após uma boa campanha na primeira fase, integrando o Grupo B, e encerrando o triangular do acesso como líder do Grupo D. Desconsiderando a disputa da final, foram 14 jogos disputados, com seis vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, além de 18 gols marcados e 14 sofridos.
A confirmação da vaga demorou um pouco para ser comemorada, já que dependia de um julgamento no TJD-MG (Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais). A Patrocinense havia ingressado com um recurso para impugnar a partida em que foi derrotada por 2 a 1, alegando interferência externa em um dos lances de gol. Os auditores do Tribunal, no entanto, indeferiram o pedido por unanimidade, sacramentando a classificação histórica do North.
Antes, o último clube da região norte-mineira a disputar o Módulo I havia sido o Funorte Esporte Clube, em 2011. Fundado a partir de um projeto esportivo acadêmico vinculado a uma das principais faculdades de Montes Claros, o clube começou no futebol amador e universitário.
Mas você conhece a trajetória do último representante da região na elite?
Entre 2003 e 2006, o time se firmou como uma força local nas competições universitárias. Em 2007, com forte apoio da universidade e incentivo por meio de patrocínios, deu um passo decisivo: filiou-se à FMF (Federação Mineira de Futebol) e ingressou oficialmente no futebol profissional.
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A ascensão do Funorte foi meteórica. Logo em sua segunda participação na Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, em 2008, o clube conquistou o título e garantiu o acesso ao Módulo II. Já em 2009, mesmo sem obter a vaga para o Módulo I, demonstrou competitividade ao encerrar a competição na quarta colocação.
O acesso à elite finalmente veio em 2010, após uma campanha sólida no quadrangular final. Inicialmente fora da zona de classificação, encerrando a fase como vice-líder de sua chave, o Formigão foi beneficiado por uma decisão dos tribunais, que puniu o Mamoré por escalar um jogador de forma irregular. A infração resultou na perda de pontos do clube de Patos de Minas, que havia ficado à frente do Funorte na classificação. Com isso, o time montes-clarense foi declarado vice-campeão do Módulo II, garantindo sua inédita vaga no Módulo I, uma vez que as duas primeiras colocações asseguravam o acesso à elite do futebol mineiro.
O ano de 2011 marcou a estreia — e também a despedida — do Funorte na elite do futebol mineiro. Em campo, os desafios se mostraram maiores do que o clube conseguia suportar. Em 11 jogos, o time somou apenas uma vitória, dois empates e oito derrotas – entre elas, 2 a 1 para o Atlético e 3 a 0 para o Cruzeiro. Foram 10 gols marcados e 26 sofridos. A lanterna da competição e o consequente rebaixamento tornaram-se inevitáveis para o Formigão.
A experiência serviu como aprendizado, mas também expôs as dificuldades estruturais enfrentadas por clubes do interior de Minas Gerais, especialmente os mais distantes do eixo central do estado. A longa distância entre Montes Claros e a Região Metropolitana de Belo Horizonte sempre foi um entrave logístico e financeiro. Para se ter uma ideia, o Unaí — localizado no Noroeste mineiro — chegou a se desfiliar da Federação Mineira e se vincular à Federação de Futebol do Distrito Federal, devido à maior proximidade com a capital federal.
No ano seguinte, em 2012, o Tricolor de Montes Claros disputou o Módulo II, mas novamente terminou na última colocação de seu grupo, sem nenhuma vitória sequer, e acabou rebaixado à terceira divisão estadual. Em 2013 e 2014, o Funorte ainda tentou se reerguer e brigou pelo acesso, mas acabou ficando pelo caminho. Desde então, o clube nunca mais retornou ao cenário profissional e só mantém as suas categorias de base.
Nesse mesmo período, outro time da cidade buscou retomar o seu próprio protagonismo: o Montes Claros Esporte Clube, que conquistou o acesso ao Módulo II em 2013 após o vice-campeonato da Segundona Mineira. Curiosamente, a vaga foi obtida confrontando com o próprio Funorte, desde a fase de grupos até a disputa do Hexagonal Final. A classificação veio por apenas um ponto de diferença em relação ao rival local.
A busca pela ascensão não teve o mesmo desfecho para o “Bicho”. O Montes Claros Esporte Clube até chegou a brigar pelo acesso à elite em 2014, liderando seu grupo na primeira fase do Módulo II, mas terminou apenas na quinta colocação no Hexagonal Final. Em 2015, veio o rebaixamento: o clube não venceu nenhuma das dez partidas que disputou naquela edição. O retorno ao terceiro escalão só aconteceu em 2018, naquela que seria a última participação da equipe no cenário profissional pelos anos seguintes.
Quinze anos depois da participação do Funorte, o futebol norte-mineiro retorna ao Módulo I pelas mãos do North Esporte Clube — um projeto que chamou a atenção desde sua fundação, ao nascer já como uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Com planejamento bem estruturado e resultados rápidos, o North segue uma tendência crescente no futebol mineiro, semelhante aos recentes casos de sucesso do Itabirito e do Athletic Club.
O tempo e a solidez do planejamento dirão o que o futuro reserva aos Gladiadores na elite em 2026. Mas o fato é que o Norte de Minas — com seu povo humilde, fiel e acolhedor — está de volta ao lugar que merece no futebol mineiro.