
Gazeta Esportiva.com
·10 avril 2025
Chegada ao Corinthians, volta à seleção e mais: mini documentário traz nuances de Memphis Depay

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·10 avril 2025
Memphis Depay, atacante do Corinthians, lançou um mini documentário sobre sua vinda ao futebol brasileiro e os momentos vividos com a camisa do Timão. A produção foi ao ar nesta quinta-feira e está disponível no canal oficial do holandês no YouTube.
A convite do clube, a Gazeta Esportiva pôde assistir ao material produzido por Memphis na noite da última quarta-feira, em evento realizado no anfiteatro do Memorial do Corinthians, no Parque São Jorge.
O mini documentário, de nome “Memphis, Ecos de um Novo Mundo”, é uma produção executiva de Memphis Depay, Gianluca Vitale, Thiago Slovinski e Ulisses Neto. O filme traz nuances um pouco menos vistas do atleta. O holandês é não somente um astro do futebol brasileiro, mas também um músico e estilista que quer dar voz às causas sociais.
O projeto audiovisual é dividido em quatro atos que, apesar de sucintos, cumprem o papel de mostrar as diferentes versões de Memphis desde a chegada ao Brasil. A importância da música para o atacante, inclusive, é explicitamente documentada na produção.
O holandês, então, chega a São Paulo e já se mostra admirado com a grandeza da cidade, o que se prova com as visitas do craque às comunidades. A ida do camisa 10 ao Jardim Santa Cristina, em Santo André, foi amplamente registrada e mostrou um pouco mais sobre quem é a pessoa Memphis.
O documentário, claro, conta com entrevistas exclusivas do jogador alvinegro, que também dá destaque aos seus projetos sociais durante visitas anuais a Gana, na África. O jogador, inclusive, declarou que, em sua visão, o país é muito parecido com o Brasil.
O futebol, que costuma ser o cerne de tudo, aparece em segundo plano nas gravações – o que é um grande trunfo do projeto. A conquista do Paulistão é brevemente mencionada, mas a Fiel Torcida ganha força na produção quando Memphis diz que os torcedores foram os grandes responsáveis por fazê-lo “entender sobre o que é o clube”.
Por fim, o futebol segue em pauta já no fim do curta, quando a seleção holandesa é mencionada. Na última data Fifa, craque voltou a ser convocado pelo técnico Ronald Koeman após oito meses e anotou um gol de pênalti na eliminação da equipe nas quartas de final da Liga das Nações. Durante o torneio, Memphis chegou aos 100 jogos com a camisa da Holanda e foi homenageado.
O documentário não se estende muito em nenhum dos tópicos mencionados acima e deixa Memphis falar por si só. Assim, a produção “Memphis, Ecos de um Novo Mundo” retrata com maestria a personalidade forte do camisa 10, tanto dentro como fora de campo.
Memphis Depay chegou ao Corinthians em setembro do ano passado. O atacante foi peça fundamental na arrancada no Campeonato Brasileiro, da saída da zona de rebaixamento à vaga na Pré-Libertadores. Ao todo, já são 32 jogos com a camisa do Timão, com 22 participações em gols (10 gols e 12 assistências).
Além disso, ao lado dos companheiros e da comissão técnica, Memphis também ajudou o Corinthians a encerrar uma seca de seis anos sem títulos. No último dia 27 de março, o Alvinegro ergueu o 31º título do Campeonato Paulista ao superar o rival Palmeiras.
A Gazeta Esportiva teve o prazer de conversar com Ulisses Neto, diretor do mini documentário que foi ao ar nesta quinta-feira. Peça chave na coordenação do filme, o produtor contou um pouco mais sobre o primeiro contato com Memphis e a organização, inicialmente, de um longa metragem com foco na relação do jogador com Gana e Holanda, seus dois países de origem.
“Eu conheci o Memphis quando ele ainda estava no Barcelona. Eu passei uma boa parte do ano em Barcelona também. E naquela ocasião, ele comentou sobre as viagens que ele já tinha feito para Gana, a relação dele com o país de origem do pai dele, que fazia anualmente essa viagem e tinha gravado muita coisa lá. Expliquei para ele o meu trabalho e ele perguntou se eu não queria dar uma olhada no que a gente poderia fazer. Foi assim que começamos a nossa relação. Um tempo depois, em 2023, quando ele já estava mais próximo de se tornar o maior artilheiro da seleção da Holanda, ele me procurou de novo e disse que gostaria de fazer um documentário sobre essa jornada dele, e nós começamos essa produção. Na época, ele já estava no Atlético de Madrid. Foi quando eu e o Thiago Slovinski viajamos para Gana para conhecer um pouco dessas origens do Memphis, e tudo isso deu origem a um projeto de um longa-metragem que ainda está em produção, porque o Memphis ainda não bateu o recorde. Mas o filme não é sobre o recorde em si. É sobre a relação do Memphis com a Holanda e com as origens do país dele, com Gana”, revelou Ulisses.
Ulisses Neto, então, deu mais detalhes sobre a produção do longa, que não foi deixada de lado e ainda está em desenvolvimento. No entanto, com a vinda de Memphis ao Brasil, novas ideias surgiram e os planos mudaram. Na visão do diretor, o projeto divulgado nesta quinta é uma “pequena parte” disso, mas igualmente importante.
“Quando fomos para Gana, em Acra, na capital, começamos a ver alguns traços de coincidências atuais com o Brasil. Vi muitas crianças com camisas de times brasileiros. Até tirei uma foto de um menino com a camisa do Santos, porque sou natural da Baixada Santista. Aquilo me chamou a atenção. Comecei a explorar e vi que tinha uma região chamada de ‘Brazilian House’, com africanos escravizados que foram levados para o Brasil e, quando conseguiram alforria, voltaram para Gana. Eu comentei muito com o Memphis, e ele gostou de saber disso, mas ele ainda jogava no Atlético de Madrid. Depois da Eurocopa, continuamos a produção desse filme. Depois disso, apareceu essa proposta do Corinthians, que foi um negócio surreal para mim, porque eu nunca imaginava que o Memphis ia acabar jogando no Brasil, meu país de origem. Ele gosta muito dos brasileiros, tem muitos amigos daqui. Acabamos desenvolvendo esse curta como parte do projeto do longa. Ele é um extrato do que será esse longa, por assim dizer. Obviamente o Corinthians virou um capítulo importantíssimo, porque é provável que o Memphis consiga alcançar o recorde da Holanda jogando com a camisa do clube”, contou.
Ulisses Neto também comentou um pouco mais sobre como é a pessoa Memphis por trás das câmeras. O diretor destacou o profissionalismo, o comprometimento e o foco do atleta, seja dentro ou fora dos gramados.
“Por trás das câmeras ele é muito tranquilo. Acho até que as pessoas tem uma imagem que não corresponde muito com o dia a dia dele, porque acham que ele é muito de festa, e não é bem assim. Ele é bem profissional, muito focado no trabalho em todos os sentidos. Tanto no trabalho relativo ao esporte como na execução de um documentário. Muitas vezes os atletas não tem esse perfil. Têm uns que gostam mais da religião, têm outros que gostam mais das festas. O do Memphis eu diria que é um perfil bastante profissional. Ele realmente tem momentos de festa, que até aparecem no filme, mas ele tem esse perfil de ser muito concentrado no que ele quer fazer”, afirmou.
Como é possível ver no documentário, Memphis apresenta diversas versões de si mesmo. O jogador decisivo dentro de campo, o artista com cinco álbuns gravados que cria músicas no estúdio, e o ativista social por trás das visitas às favelas de São Paulo e dos projetos em Gana, país de origem de seu pai.
E para um documentarista, é importante que o personagem principal do projeto tenha diversas facetas e versões, de acordo com Ulisses Neto. Foi isso que o diretor encontrou ao trabalhar com Memphis. Não à toa, o profissional classificou a experiência como “muito interessante” e se animou com a possibilidade de produzir algo “mais íntimo”.
“Além de ser um atleta do futebol, ele também é um artista da música, gosta muito de moda, gosta de ter um lifestyle bem marcante. Tudo isso me interessa. E às vezes as pessoas, principalmente na Europa, não compreendem. Acho que no Brasil nunca questionaram ele sobre isso, mas na Europa e, sobretudo na Holanda, questionam muito a postura do Memphis de ter carros caros, de usar relógios caros, de estilo e tal. Ele tem uma origem que é bem interessante, do Império Ashanti em Gana, que são pessoas que historicamente sempre gostaram de brilhar, de estar em destaque, de cores, de exuberância. Acho que isso influencia muito a personalidade do Memphis. Ele conversa muito bem com a câmera, tem várias camadas que, para um documentarista, são bastante interessantes”, explicou.
“Ele passou por clubes como Barcelona, Atlético de Madrid, Lyon, PSV, Manchester United, pelo Corinthians agora. Atletas dessa estatura sempre nos deixam motivados a trabalhar, porque são atletas que todo mundo tem interesse em conhecer os bastidores, como as coisas funcionam. Fiquei bastante animado. (…) O que me atraiu também de estar nessa relação com o Memphis foi o fato de fazer uma produção um pouco mais íntima. A possibilidade de produzir algo com um jogador com um holofote tão grande num país como o nosso é também, de certa forma, um aprendizado”, complementou.
O mini documentário também é uma forma de levar o futebol brasileiro para o público internacional, conforme revelado por Ulisses. O documentarista afirmou que a projeção europeia pode fazer bem ao Corinthians e ao cenário do futebol brasileiro como um todo.
“Ele traz uma audiência internacional para o futebol nacional. Eu passei muito tempo na Europa, e os clubes brasileiros, o futebol brasileiro não é consumido. O que é consumido é a Seleção, mas o nosso futebol de clubes é relegado a um plano inferior, o que é uma lástima, porque é muito rico. Acho que o Memphis pode e está ajudando nisso. Esse documentário é também um grãozinho de areia nessa construção de fazer com o que o nosso futebol tenha mais relevância midiática no cenário europeu. Acho que esse papel que o Memphis está cumprindo é muito forte, e para o Corinthians é maior ainda. O Corinthians é um clube muito grande e às vezes o público internacional não tem dimensão disso. O Memphis está apresentando isso. A torcida, o estádio, a cidade. O filme reforça bem esses aspectos para o público internacional ver. É um filme direcionado para o público brasileiro, mas também para o internacional, então ele acaba prestando esse serviço”, disse à Gazeta Esportiva.
O curta-metragem também é importante porque mostra uma tentativa de provocação de Memphis ao “se envolver com várias camadas da sociedade brasileira”, nas palavras do diretor. O holandês conversa com a atriz corintiana Alessandra Negrini, presenteia o cantor Jorge Ben Jor, além de trocar ideia com as pessoas que vivem nas comunidades.
Memphis Depay ainda possui dois projetos sociais em Gana, país com quase 34 milhões de habitantes onde o craque se reconecta com suas raízes africanas. O jogador financia uma academia de boxe e, além disso, criou a Memphis Foundation, uma organização sem fins lucrativos que ajuda crianças com deficiências auditivas e visuais.
“Acho que o Memphis se mostra como um ativista social por conta das origens dele. Pelo fato do pai dele ser um imigrante africano que conheceu a mãe, uma europeia, que nunca tinha visto uma pessoa negra na frente dela antes do pai do Memphis. É uma loucura se for ver mesmo a história da origem do Memphis. Até por isso que ele tem muito dentro de si essa relação com as causas sociais, porque ele cresceu em áreas não tão privilegiadas assim na Holanda, então ele sabe também o que é uma quebrada. Na Holanda o contexto é diferente do brasileiro, claro, mas ainda assim são áreas que têm suas privações. Ele tem vários amigos que também são de origem mais humilde na Holanda, mas de novo, dentro do contexto europeu, que não se compara ao que temos no Brasil. Mas ele sempre teve essa conexão com o diferente. Acho que isso impulsiona essa relação dele com as causas sociais. Tudo isso já faz parte do perfil dele há muito tempo, e acho que é até natural essa reação dele de chegar no Brasil e ter interesse de conhecer o que o país tem, não só as coisas muito boas, mas também as dificuldades que existem no país”, finalizou Ulisses Neto.
Título: Memphis, Ecos de um Novo Mundo Duração: 18 minutos Direção: Ulisses Neto Produção executiva: Memphis Depay, Gianluca Vitale, Thiago Slovinski e Ulisses Neto