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·2 septembre 2025
Do campo ao caixa: como nosso SPFC quer transformar sua base em potência global

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Do campo ao caixa: como nosso SPFC quer transformar sua base em potência global
por Guilherme Pereira – Gui Tijolo
Quem acompanha o São Paulo sabe: a base de Cotia é um orgulho nosso. É dali que saíram craques que brilharam no Morumbis e no mundo. Mas também sabemos que, nos últimos anos, o clube tem vivido um dilema: ou vende cedo demais, ou vende por menos do que poderia, tudo para fazer caixa e pagar contas que não param de crescer.
Agora, o Tricolor está prestes a aprovar algo que pode mudar esse jogo — e não só no Brasil. É uma operação inédita no futebol mundial: a criação de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) para a base, administrado pela Galápagos Capital. E, antes que alguém caia na conversa de “venderam 30% da base”, vamos manter a maturidade e falar sobre o que é, como funciona e por que pode ser um golaço para o clube.
O FIP é um instrumento coletivo de investimento, regulado pela CVM e dedicado à aquisição de participações em empresas ou ativos com potencial de valorização significativa no longo prazo. Pense no FIP como um sócio minoritário que entra com dinheiro agora para participar de uma fatia das futuras negociações de jogadores que ainda vão chegar a Cotia.
Hoje, quando o São Paulo contrata um jovem de outro clube, muitas vezes precisa ceder porcentagens do jogador para fechar o negócio, porque não tem caixa para comprar 100% dos direitos. Com o FIP, o dinheiro entra antes, e o clube pode adquirir fatias maiores desses atletas, dividindo apenas com o fundo — e não com terceiros ou clubes formadores.
O contrato do FIP deve especificar claramente quais jogadores estarão incluídos (por exemplo, atletas dos times Sub-20 e Sub-17 com contratos formados a partir de 2025), os critérios de computação do valor líquido das transferências e os mecanismos de governança para evitar conflitos sobre decisões relevantes.
Um investidor único normalmente exige (i) retorno com perfil mais agressivo, (ii) garantia de influência direta, e (iii) pouco espaço para decisão autônoma do clube. O FIP, ao contrário, é estruturado para reunir múltiplos participantes (bancos, assets, family offices, investidores institucionais etc.) sob regras claras e aprovadas por órgão fiscalizador (CVM). Isso reduz pressões unilaterais, permite negociar melhores termos e dilui riscos sistêmicos.
Do ponto de vista técnico, o FIP é um veículo de longo prazo, ilíquido e com potencial de remuneração elevado, pois depende da valorização real dos ativos. Isso atrai investidores qualificados dispostos a esperar o ciclo de formação, maturação e venda, algo que é essencial no futebol de base. O retorno financeiro para o fundo estará atrelado à capacidade do São Paulo de revelar, projetar e negociar jovens atletas com preços ascendentes, maximizando prêmio e reduzindo o risco de vendas “de ocasião” impostas pela necessidade de liquidez.
Definir quais atletas, quais contratos e quais operações futuras de venda integram o escopo do fundo evita riscos de exposição excessiva e eventuais litígios com coautores de receitas do clube (patrocinadores, parceiros anteriores etc.).
O contrato deve ter prazo definido (exemplo: cinco anos), com possibilidade de renovação condicionada ao cumprimento de indicadores-chave de performance (KPIs), para proteger os interesses do clube. O clube deve negociar a possibilidade de recompra de participação em condições pré-acordadas, caso deseje retomar totalidade dos lucros futuros.
O clube deve garantir poder de controle sobre as decisões mais relevantes, principalmente no que diz respeito ao uso dos recursos, planejamento esportivo e seleção de atletas para inclusão no fundo. O fundo pode ter direito a informações financeiras e acompanhamento, mas não poder de veto sobre vendas ou promoções de jogadores, para proteger a independência esportiva.
Auditorias periódicas, reportes de resultados do fundo e prestação de contas aos órgãos internos do clube servem para mitigar riscos de fraudes ou má alocação de recursos e alinhar expectativas de todos os sócios.
Segundo as regras da CVM, os FIPs apresentam contabilidade segregada, relatórios periódicos, avaliações a valor justo e seguem padrões rigorosos de prestação de contas. O aporte de capital entra contabilmente como receita não-operacional.
O retorno para o investidor é potencializado caso Cotia continue formando atletas vendáveis internacionalmente. Se conseguirmos segurar atletas valorizados até o momento ideal (por exemplo, após ciclo prolongado no profissional e convocações para seleções), aumentam as chances de “mega transferências” que multiplicam o patrimônio do fundo e, de quebra, garantem bônus extras para o clube.
De fora simplista, é como se o São Paulo tivesse um pomar de laranjas de altíssima qualidade. Antes, para pagar as contas, precisava vender as laranjas ainda verdes e por um preço baixo. Agora, com o FIP, recebe um adiantamento, pode esperar as laranjas amadurecerem e vendê-las no ponto certo, muito mais valorizadas.Se bem estruturado, o FIP de Cotia pode ser um divisor de águas. É dinheiro no caixa agora, mais poder de negociação, menos vendas apressadas e um parceiro que pode abrir portas no mercado internacional.
Não é mágica, não é “venda da base” e não é isento de riscos. Mas é, sim, uma jogada ousada — e ousadia é algo que o São Paulo sempre teve no seu DNA.