Zerozero
·16 décembre 2025
Dos recordes ao sólido primeiro lugar: como Farioli <i>revolucionou</i> um FC Porto desacreditado

In partnership with
Yahoo sportsZerozero
·16 décembre 2025

O FC Porto recebeu e venceu o Estrela da Amadora por 3-1 nesta segunda-feira, mantendo a liderança da Liga Portugal Betclic ao fim de 14 jornadas. Trata-se do melhor registo de sempre dos dragões na Primeira Liga à 14.ª ronda, com 13 vitórias e um empate.
Após uma das épocas mais difíceis dos últimos anos, os azuis e brancos ocupam agora a pole position do campeonato, surpreendendo muitos, numa altura em que pareciam partir em desvantagem face aos rivais de Lisboa no início da temporada.
Perante este excelente arranque do FC Porto, o zerozero propõe-se analisar o que faz dos portistas um líder sólido e consistente, que não dá sinais de quebra e que continua a bater recordes.
Para dar início a esta peça, é necessário recuar até ao último Mundial de Clubes, disputado no verão passado. Martín Anselmi não resistiu à série de maus resultados, o que levou André Villas-Boas a avançar para o mercado em busca de um novo treinador. O eleito foi Francesco Farioli, que tinha terminado a sua ligação ao Ajax.
A contratação do técnico italiano levou o presidente dos azuis e brancos a admitir que o clube teria pela frente «o maior mercado de sempre» do FC Porto. Promessa cumprida.
Gabri Veiga, Dominik Prpic, Victor Froholdt, Borja Sainz, Alberto Costa, Jan Bednarek, Pablo Rosario, Luuk de Jong, Jakub Kiwior e Yann Karamoh foram contratados por mais de 80 milhões de euros, elevando significativamente o nível da equipa.
Analisando estes nomes alguns meses depois, percebe-se que praticamente todos os reforços - à exceção de Luuk de Jong, que tem estado lesionado, e de Karamoh - se assumiram como peças fundamentais na equipa orientada por Francesco Farioli.
Prova disso é a utilização destes jogadores: os três atletas mais utilizados em 2025/2026 - em termos de jogos - são Borja Sainz, Victor Froholdt e Jan Bednarek. O avançado espanhol é, inclusivamente, o único elemento do plantel que participou em todos os jogos dos dragões, num total de 23 partidas.
Estatísticas que comprovam o acerto no mercado de transferências e que, para já, têm produzido resultados.
Mas, afinal, que aspetos táticos estiveram na origem desta mudança drástica de resultados? Após alguns meses a utilizar um sistema com três defesas, o FC Porto regressou ao clássico 4-3-3, esquema que tantas conquistas já proporcionou ao museu portista, tendo o meio-campo como principal motor da equipa em todos os momentos do jogo.
Habitualmente, a equipa apresenta-se com um triângulo invertido no meio-campo: o médio mais recuado assume um papel determinante na ligação do jogo durante a fase de posse. Quer seja Alan Varela ou Pablo Rosario, toda a construção dos dragões passa pela posição '6', seja para combinar com os colegas do setor ou para dar largura ao jogo através da lateralização.
Victor Froholdt, por sua vez, cobre várias zonas do terreno, enquanto Gabri Veiga e Rodrigo Mora espalham o seu perfume em zonas mais adiantadas do campo, assumindo-se como peças importantes do ponto de vista ofensivo. O primeiro oferece visão de jogo e qualidade de passe, ao passo que o segundo destaca-se pela técnica e irreverência.
Estes elementos permitem aos azuis e brancos implementar uma pressão asfixiante em toda a largura do terreno frente a adversários teoricamente mais frágeis, sendo o 'forçar do erro' uma constante. Frente a rivais do mesmo nível, a linha de pressão recua ligeiramente; ainda assim, a intensidade na recuperação da bola e no duelo físico mantém-se elevada.
Já abordámos os jogadores numa perspetiva individual e o meio-campo portista, mas falta ainda destacar o principal elemento diferenciador deste FC Porto: a defesa.
Apesar de ser bastante agressiva na recuperação da bola, esta equipa é a melhor defesa do campeonato, com apenas quatro golos sofridos em 14 jogos. Uma realidade relativamente fácil de explicar, tendo em conta que os dragões concedem poucas oportunidades de perigo aos adversários.
No encontro desta segunda-feira, acabaram por sofrer um golo frente ao Estrela da Amadora, mas essa foi, ainda assim, a única ocasião clara criada pelos tricolores ao longo de toda a partida.
E não se trata de um caso isolado. Observando todas as competições, os portistas só sofreram mais do que um golo frente ao Vitória SC, na Taça da Liga, e ao Nottingham Forest, na Liga Europa, o que ilustra bem a dificuldade em bater esta equipa, que somou clean sheets em 14 dos 23 jogos já realizados em 2025/2026.
Jan Bednarek e Jakub Kiwior, centrais polacos, são o principal motivo deste registo, beneficiando da sinergia e da química que adquiriram na seleção polaca. Alberto Costa, por seu lado, oferece uma dimensão diferente quando comparado com João Mário, enquanto Francisco Moura ainda procura a estabilidade desejada no lado esquerdo, face a algumas debilidades identificadas.
É, no entanto, aqui que se destaca a importância de Borja Sainz. O extremo contratado ao Norwich City, para além de contribuir com golos e assistências, é essencial na transição ataque-defesa, uma vez que apoia constantemente Moura ou Zaidu, cortando diversos momentos de perigo ao compensar as subidas de ambos no terreno.
Estes ingredientes compõem a receita de um FC Porto que está a viver o melhor arranque de sempre no campeonato e que se mantém como líder isolado à entrada para a 15.ª jornada, com cinco pontos de vantagem sobre o Sporting e oito sobre o Benfica.
Ainda assim, Farioli mostrou-se cauteloso após alcançar este registo. «É um ótimo começo, mas isso não chega no futebol. O mais importante é como acabamos, e eu sei bem disso, infelizmente», referindo-se à chocante hecatombe que viveu ao serviço do Ajax na temporada passada, quando perdeu o campeonato neerlandês na reta final, apesar da vantagem pontual considerável.
Resta apenas uma pergunta: terá este FC Porto a capacidade para chegar ao tão ambicionado título de campeão?
*com Luís Pereira









































