Dos relvados no FC Porto até ao mundo da TV: «Entrei nos <i>Morangos</i> e interrompi a bola» | OneFootball

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·2 octobre 2025

Dos relvados no FC Porto até ao mundo da TV: «Entrei nos <i>Morangos</i> e interrompi a bola»

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Ainda na fase inicial da sua carreira de ator, Francisco Fonseca já pode dizer que entrou numa série da Netflix. Para além disso, participou em várias novelas, publicidades e curtas-metragens. Completamente focado na representação, considera que é um mercado de trabalho difícil e que ainda não está na regularidade que pretende.

O curioso aqui é que, esta paixão, só surge na fase mais adulta. Durante a adolescência, o foco estava dentro das quatro linhas, onde chegou a atuar pelos escalões de formação do FC Porto. Foi aí que privou com alguns jogadores - que prosseguiram carreira até ao mais alto nível - e fez amizades para o resto da vida.


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Em conversa com o zerozero, o artista de 32 anos recordou esses tempos, o que falhou para não ter continuado no desporto, o que o levou a passar para o mundo das artes e os maiores apoios que teve nas dificuldades.

O passado nas quatro linhas

«Na minha passagem pelo futebol joguei em vários clubes. Comecei na Academia de Domingos e Rui Barros, em Leça. Eles entenderam que eu tinha algum potencial e levaram-me a treinar no FC Porto. Depois estive no Leixões, no SC Salgueiros e no Padroense. Também cheguei a treinar no Boavista, durante um período, mas depois o Salgueiros não me deu a carta e pronto», começou por explicar ao nosso portal, antes de relembrar os ex-colegas.

«Joguei com alguns jogadores que depois acabaram por singrar. O Sérgio Oliveira era um ano mais velho, enquanto o Gonçalo Paciência era um ano mais novo. O Fábio Martins e o André Gomes eram mesmo da minha equipa. Também treinei com o João Mário. Mas também joguei contra bons nomes, como o Frédéric Maciel», referiu.

Apesar deste ambiente propício ao crescimento e à mentalidade competitiva, Francisco nunca levou a coisa pelo lado sério. Até a sua forma de jogar era descontraída, simbolizando, de certa de forma, a área onde acabou por seguir o seu percurso profissional.

«Joguei a extremo esquerdo, mas fui recuando à medida do tempo. Passei para médio esquerdo e depois para defesa esquerdo. Enquanto jogador, tinha alguma habilidade e centrava-me um bocado nisso, gostava de me divertir com a bola. Era um jogador mais criativo. Na altura, não levava a parte competitiva tão a sério e, olhando para trás agora, vejo que a nível de resultados, não me preocupava tanto, algo que também era sempre preciso. Não é só fazer jogadas bonitas e ter esse prazer», declarou, apesar de ter tido o sonho de ser profissional.

«Por um lado, queria seguir carreira porque gostava muito e acabei por investir muito tempo com os treinos e com os jogos. Mesmo os meus pais acompanhavam-me sempre e isso é algo importante. Eu realmente gostava e dizia que queria ser jogador, mas se for olhar para as coisas agora, realmente não tinha tudo o que era preciso, sobretudo a nível dos sacrifícios e do esforço. A partir de certa altura, comecei a sair à noite e a ter outras distrações. A partir de um momento em que queremos mesmo ser profissionais, é preciso ter um certo tipo de rigor que eu não tinha», admitiu.

A maturidade nas artes

No entanto, a ida para o emblema portista trouxe-lhe algo que nunca irá esquecer: as amizades e as memórias.

«Com seis ou sete anos, estudava na Clip Oporto, onde o filho do Vítor Baía entrou para a minha turma. Somos melhores amigos desde então e a minha ligação ao futebol também vem daí. Comecei a conviver muito com o Diogo [filho de Baía], que me apresentou ao Gonçalo Paciência. Fomos os três para o Algarve, numa altura onde muitos jogadores iam ao Sul passar férias. Mesmo treinadores como o o Capucho, o José Peseiro e até o Jesualdo Ferreira iam. Nesse convívio, havia o grupo dos adultos com as mulheres e outro dos mais jovens com os filhos. Íamos para à noite e eu tirava mais proveito disso, já não tinha o foco e não tinha essa vontade. O Gonçalo fez a carreira que fez, muito por já ter esses cuidados nas férias», contou-nos, antes de comparar a sua dedicação com a do ex-ponta de lança do FC Porto.

«Depois das férias, joguei contra o Gonçalo num encontro de pré-época pelo Salgueiros. Ele estava bem mais preparado que eu. Lembro-me que voltei das férias, onde não tinha pensado muito na pré-temporada. Fiquei muito cansado nesse jogo, ainda por cima tinha de defender o Fred Maciel que era bastante rápido. Depois, veio uma bola e eu era o último defesa, tentei fazer o chapéu ao avançado, mas ele saltou, roubou a bola e saiu disparado na cara do nosso guarda-redes. Por querer dar uma beleza ao jogo, também facilitava um bocado», acrescentou.

Foi na temporada de 2011/12, ao serviço do Padroense, que começou a ingressar no mundo da representação. Nesse ano, nasceu Ivan Bastos, personagem representada por Francisco, na última temporada dos Morangos com Açúcar.

«Chamaram-me para um casting e eu fui. Na altura nem queria ser ator, agora é que estou mesmo a trabalhar na área. Fui por curiosidade e brincadeira, mas depois as coisas acabaram por correr bem e fui selecionado para o elenco final. Entrei na formação de atores na TVI, onde estava a ter aulas de representação. Nessa altura dediquei-me só a isso e fui para Lisboa, interrompendo a escola e o futebol. Mas ainda estava na fase da imaturidade, por isso levei aquilo como diversão. Acabei despedido ao fim de quatro meses e voltei ao Padroense, onde ainda fiz alguns jogos, mas já estava desligado, voltei só por ser uma coisa que eu fazia», explicou.

Essa temporada marcou o pendurar das chuteiras e o início de uma nova fase na sua vida. Com poucas oportunidades em Portugal, emigrou para os Estados Unidos, onde começou a ter noção do que queria.

«Quando cheguei a sénior, acabei por parar de jogar. Estava a tirar uma licenciatura em marketing e aí já começou a entrar outro tipo de responsabilidade. Fui trabalhar para Miami, numa empresa multinacional na parte comercial. Quando estava nos EUA, comecei a frequentar o Miami Actions Studio, um workshop de representação. Uma vez que caí na televisão de paraquedas, decidir ir para espairecer e para aprender melhor a arte. Foi nesse processo que me comecei a apaixonar por representar, até me despedi dessa empresa e decidi mesmo estudar representação. Procurei Faculdades em vários países e acabei por ir com o meu irmão para Barcelona. Tirei uma licenciatura na área aos 28 anos e aí passou a ser a minha profissão. Já não era a brincadeira dos Morangos, já tinha outra maturidade para encarar as coisas como deve ser», esclareceu, sobre a mudança brusca de áreas.

Aprendizagens e desafios

À partida, estes dois mundos são muito distantes, mas, na verdade, o próprio Francisco considera que têm algumas semelhanças, que o acabaram por ajudar na transição.

«No futebol existem as partes de hierarquias e de posicionamento nas mesmas, que é bom para tudo se, principalmente, se praticar desporto em equipa, desde uma idade jovem. Apesar de ainda não nos sabermos mexer muito bem dentro dessas hierarquias, onde se calhar ouvimos ou fazem coisas que nos pode prejudicar e não estarmos a defender o nosso lado. É uma aprendizagem e uma reflexão mais tarde. Acaba por valer para a vida toda», começou por destacar.

«Sempre tentei ser genuíno e ter os meus ideais, mas algumas vezes também é preciso sabermo-nos posicionar e saber quando nos temos de defender, ou estarmos calados quando a batalha não é nossa. No futebol também acabava por ser um bocado rebelde com esses ideais e com o não querer fazer certas coisas. Tinha a minha maneira de estar, mas dentro de uma hierarquia, também é preciso respeitar as outras opiniões e simplesmente obedecer e não opinar», concluiu, sobre o assunto.

Contudo, não foi apenas a falta de vontade e a paixão pela arte que o levaram a abandonar o futebol. Talvez, com outro acompanhamento, a história tivesse sido mesmo diferente.

«Para além da representação, outras coisas também influenciaram a minha decisão de deixar de jogar. Nas camadas jovens, o importante é formar, mesmo que os resultados também tenham peso. Mas formar é o mais importante, quer seja no futebol, quer seja no ser humano. Na generalidade, sentia que não tinha alguém a conduzir-me melhor e dizer, por exemplo: 'olha, o miúdo até tem jeito, só precisa mais disto e daquilo, vamos trabalhar com calma e aproveitar o talento que ele tem'. Não tive muito esse apoio, se as coisas tivessem a correr mal, metiam outro. Portanto, podia ter sido melhor guiado nesse sentido», lamentou, referindo quem foi o seu maior apoio nas alturas de maior dificuldade.

«Domingos Paciência foi um grande apoio para mim. Tive que ir viver para Lisboa, enquanto ele treinava o Sporting. Fomos para Lisboa na mesma altura. Quando sentia aquela saudade de casa, ligava-lhe como se estivesse a ligar ao Gonçalo. Ele ia-me buscar muitas vezes e fazíamos um convívio como se fosse com o Gonçalo. Íamos correr juntos, jantar em casa um do outro e às vezes ficava lá a dormir. Acredito que fomos um apoio um para o outro, estávamos os dois longe de casa. Lembro-me que o Gonçalo estava na minha casa e até parecia que tínhamos trocado de família durante um período», recordou.

No fim de tudo, o que fica são as histórias: «Dava-me mesmo muito bem com o Diogo e com o Gonçalo. Fui ao aniversário do Diogo, à casa dele, e no dia a seguir o Vítor Baía tinha treino, com a equipa que ganhou a Champions. Fomos para o treino, onde ficámos a dar uns toques e vimos o Carlos Alberto no final. Falámos com ele e pedimos um autógrafo, antes de nos contar que fazia capoeira no Brasil. Eu era saído da casca e disse-lhe que conseguia fazer um rodopio com a cabeça no chão, tipo aquele passo de breakdance. Ele parou toda a gente, Mourinho incluído, a dizer que eu sabia fazer isso e acabei no meio do balneário a fazer o passo. Todos se riram.»

Entre os relvados e as câmaras, as brincadeiras e o momento de crescer, Francisco Fonseca encontrou o seu lugar e, acima de tudo, encontrou-se.

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