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Nosso Palestra

·4 juillet 2025

Esse sentimento maldito chamado esperança

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Criada pelos deuses, Pandora foi a primeira mulher a existir, segundo a mitologia grega. Seu intuito era punir a humanidade. Por isso, Zeus deu a ela uma caixa (na verdade, era um jarro, mas tudo bem) que não deveria ser aberta, em hipótese alguma. É claro que Pandora não resistiu à curiosidade e abriu a tal caixa. Dela saíram todos os males que afligem a nossa espécie: a pobreza, a doença, a inveja, a desavença, a morte. Assustada, a Pandora fechou a tampa e manteve apenas uma única entidade presa lá dentro: a esperança.

Esse mito é alvo de múltiplas interpretações. A mais comum é de que, mesmo diante de todas as mazelas, ainda retemos a expectativa de dias melhores. Uma outra é de que a própria esperança, por estar na caixa, é um mal em si.


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Quando o Palmeiras conquistou o direito de participar da primeira Copa do Mundo de Clubes, ao levar a Libertadores de 2021, o pensamento óbvio foi o de que seria quase impossível vencer o novo torneio. Se levar o Mundial anual, em uma partida contra o campeão da Champions League, já era dificílimo, quem poderia esperar o triunfo num torneio recheado de equipes da elite europeia?

Por isso, acredito que falo pela maioria dos palmeirenses quando digo que encaramos o certame da seguinte forma: é preciso passar pela primeira fase, até por estar em um grupo acessível, e ir o mais longe possível no mata-mata. Mas pouquíssimos acreditariam, com sinceridade, que esse “longe” poderia ser a final ou mesmo a semifinal.

Eis que numa segunda-feira nublada e sem graça (ao menos aqui em São Paulo), dois gigantes caíram em questão de horas. À tarde, a Inter de Milão, vice-campeã europeia, sucumbiu diante do Fluminense. À noite, o poderoso Manchester City, melhor time do campeonato até então, foi eliminado pelo Al Hilal na prorrogação. No caminho do Palmeiras até a final ficaram, além dos vencedores, o Chelsea.

De repente, ao nos aproximar da montanha, ela se mostrou bem menor do que parecia esse tempo todo – para usar a analogia batida destes dias de Copa.

Diferentemente do que acontecia até pouco tempo atrás, agora é possível topar, nas redes sociais ou na vida real, com manifestações variadas de palmeirenses. Alguns relatam sensações “esquisitas”, quase indefiníveis. Outros já admitem que as chances de chegar à decisão são razoáveis, como o cara que passa na minha rua vendendo pamonha (sério mesmo!). E há aqueles que amaldiçoam o fato de que a descrença outrora dominante começa a dividir espaço com ela, sim, a esperança. Justamente o sentimento irmão da frustração.

Vamos aos fatos. O Fluminense, com todos os méritos, eliminou uma Inter de Milão física, mental e moralmente esfacelada. O Al Hilal fez um feito gigantesco, mas é uma equipe de investimento altíssimo, cheia de jogadores que até há pouco tempo jogavam no mais alto nível do futebol mundial. Ou seja, há atenuantes em ambos os casos.

Os mesmos atenuantes estão presentes no confronto entre Verdão e Blues. O elenco do Chelsea passa longe de outros da sua história pós-Abramovich. Até agora, não exibiu um grande futebol e chegou a perder para o Flamengo na primeira fase. Para completar, um dos seus jogadores fora de série, o equatoriano Moisés Caicedo, está suspenso por ter levado o segundo cartão amarelo.

Tudo isso corrobora a sensação de que . Mas os desfalques de Gustavo Gómez e Piquerez, igualmente suspensos, nos ajudam a manter os pés no chão. Principalmente o do lateral-esquerdo, até aqui um dos nossos melhores jogadores na competição. Some-se a lesão do Murilo e teremos uma linha de defesa quase toda reserva no jogo mais importante dos últimos anos.

O contexto – opa pendendo para um lado, ora para outro – só reforça essa confusão de sentimentos que se digladiam em nossos estômagos nessa espera interminável até sexta-feira à noite. Não fazia parte dos planos a chance de acreditar, pra valer, que seria possível e chegar às fases mais agudas. E, chegando lá, brigar pelo título.

No fim das contas, cada experiência é individual. Falo de nós, torcedores, um grupo que envolve milhões de pessoas, como se fosse uma multidão homogênea, mas não é. Todos lidamos de forma diferente com a súbita mudança de cenário.

Porém, podemos tirar uma conclusão do advento dessa esperança que agora ousa dar as caras no calor da Filadélfia e no frio do Brasil. Mesmo quem amaldiçoa esse vislumbre ou quem se apega a ele pode ter a certeza de que o Palmeiras vive um momento muito especial em sua história. Que sorte a nossa.

Luiz Andreassa, é palmeirense e jornalista

Próximo jogo do Palmeiras

  1. Palmeiras x Chelsea – Copa do Mundo de Clubes – 04/07 (sexta-feira), 22h (de Brasília)
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