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·19 novembre 2025
Flamengo reforça combate ao racismo com educação e nova cláusula do Estatuto, diz Camila Nascimento

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·19 novembre 2025

O seminário realizado pelo Flamengo no Muhcab reuniu clubes e agentes do esporte para discutir educação, representatividade e o enfrentamento ao racismo. Nesse contexto, o MundoBola Flamengo ouviu Camila Nascimento, gerente de Responsabilidade Social, que explicou as ações internas do clube e por que a mudança cultural é prioridade.
Camila explicou que o Flamengo desenvolve há três anos um programa contínuo de letramento racial, que serve de base para todas as ações do clube. A atualização do Estatuto, que agora inclui a cláusula antirracista, aparece como mais um passo dentro dessa estrutura, mas o foco segue sendo a formação permanente.
"Existe um sistema, um canal de denúncia, sim. Mas o que se aposta mesmo é num processo educativo da educação antirracista. A gente acredita muito no poder da educação como arma da luta antirracista", afirmou.
A emenda incluiu no Estatuto dispositivos que vedam discriminação por raça, gênero ou condição social, além de prever ações educativas e preventivas. O texto também estabelece punições específicas para casos envolvendo associados, funcionários ou prestadores de serviço, que podem ir de suspensão à exclusão ou demissão.
A gerente de Responsabilidade Social explica que o trabalho atual do Flamengo nasce de um acúmulo de formações internas e do entendimento de que o combate ao racismo precisa atravessar todas as áreas do clube.
"Há alguns anos a gente vem apostando na educação antirracista. A gente percebeu que o racismo perpassa a educação, a sustentabilidade, a inclusão. O racismo transversaliza", disse.
Essas formações alcançam modalidades olímpicas, categorias de base, comissões técnicas, funcionários, prestadores e professores de projetos sociais parceiros. O processo é desenvolvido em colaboração com a Central Única das Favelas (CUFA), a Secretaria Municipal de Cultura do Rio e o Ministério da Igualdade Racial.
Segundo Vitor Matos, coordenador-geral de Ações Afirmativas na Educação no Ministério da Igualdade Racial, o trabalho combina vivências individuais com metodologias como o letramento narrativo.
"A gente trouxe uma metodologia que a gente acabou desenvolvendo durante esse processo que se chama letramento narrativo. Consta basicamente de construção de uma história com um grau muito profundo de verossimilhança com o território do Rio de Janeiro para poder produzir identificação, que seja pessoal ou familiar, para então trabalhar os conceitos", comentou Vitor durante o painel no seminário.
A ideia central, segundo Camila, é criar massa crítica dentro do clube. Ela explica que o processo busca estimular reflexão e autonomia para reconhecer situações de racismo no dia a dia.
"Quando a gente dá conhecimento e possibilita consciência crítica, não é só sobre denunciar. É sobre entender que não é possível, é intolerável."
Ao fim da conversa, Camila Nascimento ressaltou que o objetivo é consolidar um modelo permanente de educação antirracista: "A ideia é disseminar esse entendimento. A gente entendeu que, com a grandeza do Flamengo, a gente pode fazer muito na luta antirracista se atuar nesse campo da educação."
Segundo Camila, o engajamento dos atletas do Flamengo foi imediato, assim como esperado. Jogadores, jogadoras e treinadores demonstraram familiaridade com o tema e participaram ativamente das atividades de letramento racial.
"Eu diria que foi muito bem recebido. Eles já têm muito conhecimento, já há um letramento neles. Eles são muito engajados, muito aderentes à nossa fala", contou.
Nesta terça-feira, o evento contou com a presença de Lorrane Oliveira, Giovanna Santos e Gui Deodato. Atletas de sucesso do Rubro-Negro, que compartilharam experiências e a visão para um futuro mais igualitário.
Para Camila, o seminário realizado no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira não foi um evento isolado. Ela avalia o encontro como a culminância de um ciclo de formações internas que o Flamengo vem desenvolvendo nos últimos anos.
"O evento é a culminância de uma série de formações que a gente deu no clube. Hoje é um dia muito feliz para a gente, para celebrar", afirmou.
Ela destacou ainda o peso simbólico de realizar o evento no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, localizado na Pequena África. Reunião de bairros do Rio que constitui o território que recebeu mais de um milhão de africanos escravizados no Rio de Janeiro, e futuramente se tornou um local que preservou a cultura.
Para Camila, realizar o seminário nesse espaço reforça a conexão entre a luta antirracista e a memória histórica da comunidade negra: "Estamos na Pequena África, um lugar de resistência, muito simbólico. Muito nos orgulha estar aqui."
A presença conjunta de clubes rivais, como Flamengo, Athletico Paranaense, Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo e Vasco, no seminário foi vista por Camila Nascimento como demonstração de maturidade e consciência coletiva do esporte brasileiro. Ela aponta que, nessas discussões, a rivalidade esportiva perde espaço para uma pauta que exige cooperação.
"No combate ao racismo, acho que todos estão unidos. Não se trata de clubismo. Racismo é desigualdade, racismo é injustiça, então ninguém pode ser a favor disso", concluiu a gerente de Responsabilidade Social do Flamengo na entrevista ao MundoBola Flamengo.
Para ela, a união interclubes fortalece metodologias e acelera transformações. A colaboração também amplia o alcance das formações antirracistas e tende a beneficiar todo o ambiente esportivo.









































