No que era quase uma final antecipada, o Flamengo decidiu que não quer antecipar o final | OneFootball

Uma das grandes tendências no esporte brasileiro, na última semana, tem sido acusar o Flamengo de soberba. Querer receber 40% do valor arrecadado quando você é responsável por 40% dos compradores de um serviço? Soberba. Querer que o estatuto de uma associação seja cumprido à risca? Soberba. Não abrir mão de um dinheiro ao qual você pode ter direito por contrato? Soberba, afinal, todos os outros clubes brasileiros operam como ONGS e constantemente optam por não receber grandes quantias, porque são dirigidos por pessoas muito legais e bacanas.

Não que o Flamengo não seja um clube muito familiarizado com a soberba, claro. Temos uma torcida superlativa, uma diretoria que jamais poderia ser acusada de simpatia ou humildade, somos uma nação de pessoas capaz de gritar, em uníssono, que o baiano Obina era melhor que o camaronense Eto’o, e você sabe que no começo podia ser ironia, mas com o tempo a gente se pegou sim acreditando.

Mas é preciso entender que reconhecer uma superioridade ou diferença, quando ela é real, não é uma demonstração de soberba. Uma pessoa de 1,80m dizer que é mais alta que outra de 1,72m não é soberba, é um dado. Dizer que São Paulo é maior do que a cidade de Serra da Saudade, no interior de Minas Gerais, não é soberba, é uma informação. E o mesmo vale pra diversas situações esportivas. Um tricolor não é prepotente ao dizer que o São Paulo é o time brasileiro com mais títulos mundiais, um colorado não é prepotente ao dizer que torce pro time com mais conquistas estaduais.

Então, por mais que talvez essa acusação venha a surgir, não é soberba também dizer que o Flamengo, na noite desta quarta-feira, deixou escapar dois pontos muito importantes diante do Cruzeiro. Afinal, a equipe rubro-negra é a líder do campeonato, tem o melhor ataque, tem a melhor defesa, e jogava dentro de casa. Estamos subestimando o time mineiro? De forma alguma, pois se trata de um postulante ao título. Mas era responsabilidade do Flamengo vencer a partida, um confronto direto, ainda mais depois de perder de forma ridícula no primeiro turno? Com certeza.

Mas o Flamengo errou, e errou muito. Errou passes simples, errou na tomada de decisões, errou com a equipe bem abaixo da média, tendo Samuel Lino como o principal exemplo de alguém errando tanto que provavelmente calçou a chuteira trocada e vestiu a camisa do avesso. Arrasca esteve abaixo, Plata esteve abaixo, até mesmo Jorginho, um dos pilares do time, quase se complicou em dados momentos.

O resultado foi então um empate frustrante, diante do que se sabe que o Flamengo é capaz de jogar e diante da importância que uma vitória nesta noite teria. Não abrimos vantagem diante do Cruzeiro, voltamos a estar virtualmente empatados com o Palmeiras, vamos terminar o campeonato com 1 pontos de seis possíveis diante de um concorrente direto ao título. Não precisa ser soberbo pra achar que existe mais a lamentar do que a comemorar.

Porém no Brasileirão não existe tempo pra ser triste. Se tivemos um empate frustrante dentro de casa na quinta, no domingo já é hora de buscar uma vitória heróica fora de casa, dessa vez contra o Bahia. Não por soberba, não por prepotência, mas porque temos time pra ganhar esse campeonato, e pra isso não tem outra rota além dessa.