O Flamengo precisa parar de glamourizar sofrimento e alimentar narrativa | OneFootball

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·10 août 2025

O Flamengo precisa parar de glamourizar sofrimento e alimentar narrativa

Image de l'article :O Flamengo precisa parar de glamourizar sofrimento e alimentar narrativa
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Vivemos numa cultura que tem, pela falta de palavra melhor, um certo fetiche com o sofrimento. Achamos que coisas conseguidas com mais dificuldade valem mais, nos orgulhamos de jornadas de trabalho opressivas e exploratórias, associamos, com grande frequência, qualquer anseio por uma vida menos cansativa e mais confortável com “vagabundagem”.

Por mais que todo mundo queira, lá no fundo, ter a vida mais fácil possível e ter o mínimo de problemas, parece ser um tabu admitir isso abertamente, como se tudo na vida, pra realmente importar, precisasse ser conseguido de maneira extremamente dramática, sofrida e cansativa. Desde o Uber que se orgulha de não tirar folga até o publicitário que posta foto no escritório nove da noite, passando pelo torcedor que alega que “de virada é mais gostoso”, tudo isso alimenta uma visão de mundo que exalta, em algum nível, o sofrimento desnecessário.


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E sabe quem mais vem exaltando, com grande frequência, o sofrimento desnecessário? O Clube de Regatas do Flamengo, que sob o comando de Filipe Luís, mais uma vez pegou uma partida que, em dado momento, se delineou como tranquila, e decidiu fazer o seu melhor pra que ela se tornasse complicada. Dessa vez em pleno Maracanã e diante de um correto, organizado, mas tecnicamente inferior Mirassol.

Porque o primeiro tempo, apesar de disputado, teve superioridade rubro-negra, confirmada no gol de Léo Pereira, após bela jogada de Samuel Lino, um dos destaques da partida. E ainda que o segundo tempo tenha começado um pouco mais complicado, a qualidade de Arrascaeta conseguiu descomplicar, com um lindo passe que encontrou Plata livre para ampliar o placar.

Mas foi aí que o Flamengo decidiu não apenas investir forte no sofrimento desnecessário, abandonando totalmente o meio de campo, que já se encontrava acéfalo com as presenças do esforçado Éverton Araújo e do amaldiçoado Allan, como também insistir, mais uma vez, no que um amigo meu muito inteligentemente identificou como uma vontade absurda de criar narrativas.

Tomar gol do Gabigol no último minuto? Tomamos. Deixar Neymar decidir partida quando ele mal conseguia entrar em campo? Deixamos. Numa noite em que Rossi estava pegando pênalti, permitir que a glória fique com o goleiro safado do Atlético-MG porque escalamos um moleque pra decidir a classificação? Permitimos e permitimos forte.

Então o que poderia ser um fim de partida tranquilo, com 2x0 no placar, foi transformado em tensos e caóticos minutos finais, graças a um bisonho gol sofrido diante do meia Gabriel, aquele mesmo ex-jogador do Flamengo que em sua passagem pela Gávea teve mais apelidos (“Gabriel Jamal”, “Indiano”, “Quem quer ser um milonário”) do que gols. Porque com o Flamengo, aparentemente, não basta não ser fácil, é preciso ainda por cima contribuir com as mais absurdas historinhas.

Mas no fim, o Flamengo venceu e com isso, segue na liderança do Brasileirão. Só não tem como negar a sensação de com mais sofrimento e mais lei do ex do que qualquer um de nós precisava.

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