O reinado instável de Todd Boehly: da <i>febre</i> de compras ao sucesso internacional | OneFootball

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·30 septembre 2025

O reinado instável de Todd Boehly: da <i>febre</i> de compras ao sucesso internacional

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A 29 de maio de 2021, a cidade do Porto serviu de palco para um dos momentos mais marcantes da história recente do Chelsea. Mais de 14 mil adeptos encheram o Estádio do Dragão para a final da Liga dos Campeões, naquele que foi um dos primeiros grandes eventos europeus com público após a pandemia.

Os londrinos, empurrados pela sua massa adepta, derrotaram o poderoso Manchester City, graças a um golo oportuno de Kai Havertz. O conjunto de Pep Guardiola dominava a cena europeia e assustava qualquer adversário, mas naquela noite foi incapaz de superar a muralha azul montada por Thomas Tuchel. O capitão César Azpilicueta ergueu, assim, a segunda Liga dos Campeões da história do clube.


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No entanto, já lá vão quatro anos e o cenário tornou-se dantesco. Entre múltiplas saídas e maus resultados, o paradigma competitivo dos blues diminuiu drasticamente, com as exibições a ficarem muito longe das expectativas dos adeptos. As mais recentes conquistas internacionais deu alguns vislumbres de uma luz ao fundo do túnel, mas continuam a surgir várias inquietações sobre o caminho do atual projeto.

Mas afinal, como tem sido a gestão de Todd Boehly, proprietário de uma das maiores instituições desportivas do mundo? Na véspera do jogo frente ao Benfica, a contar para a segunda jornada da Fase de Liga da Champions, o zerozero foi à procura de respostas.

Chelsea: um Império prestes a colapsar

A reta final de 2020/21 deixava sinais positivos. Os adeptos acreditavam que Tuchel tinha construído uma base sólida para lutar pelo título inglês, algo que não acontecia com consistência desde os tempos de Antonio Conte ao comando. As esperanças cresceram ainda mais com a contratação de Romelu Lukaku, regressado a Londres depois de uma época de luxo no Internazionale. O avançado belga tinha sido peça central na conquista do Scudetto. Saúl Ñíguez também chegou por empréstimo do Atlético, para acrescentar qualidade ao meio-campo.

No entanto, o futebol não é uma ciência exata. Lukaku nunca se reencontrou com o clube que havia abandonado anos antes: o atleta de 32 anos anotou, apenas, 15 golos, numa temporada em que ficou muito aquém do estatuto de estrela. Ñíguez também não passou de um corpo estranho no plantel.

O espanhol somou 23 aparições - quase todas como suplente utilizado. Apesar destas desilusões, a respetiva organização coletiva garantiu um honroso terceiro lugar na Premier League, tendo conquistado, ainda, a Supertaça Europeia.

Se dentro de campo ainda havia margem para acreditar, fora dele surgiu um abalo que mudaria o destino do clube. Em março de 2022, Roman Abramovich, dono do Chelsea durante 19 anos e artífice de uma era dourada, foi forçado a abandonar a direção. As ligações do magnata a Vladimir Putin, em plena guerra na Ucrânia, motivaram sanções da União Europeia e da Premier League. E assim, repentinamente, o império azul ficou sem líder.

Todd Boehly, nome de salvador?

Chegava então a oportunidade perfeita para outro magnata dar um passo em frente. O norte-americano Todd Boehly, em consórcio com a Clearlake Capital, assumiu as pesadas rédeas. Dono de múltiplas franquias desportivas em Los Angeles, o empresário chegou com discurso ambicioso, prometendo devolver orgulho aos adeptos.

Porém, em vez de ajustes cirúrgicos, o célebre empresário promoveu uma autêntica revolução. Num só verão, 20 jogadores abandonaram o plantel, muitos sem contrapartida financeira significativa. O respetivo clube encaixou somente 56 milhões de euros, com a venda de Timo Werner para o RB Leipzig como principal fonte de rendimento. Por outro lado, a perda de atletas essenciais, como Rüdiger, Christensen e Marcos Alonso, a custo zero, revelou-se um duro golpe para aspirações do emblema da capital de Inglaterra.

Enquanto uns saíam, outros profissionais chegavam. O Chelsea gastou mais de 280 milhões de euros em reforços, entre os quais Wesley Fofana, Marc Cucurella, Raheem Sterling, Kalidou Koulibaly e Aubameyang. A estratégia parecia privilegiar quantidade sobre qualidade. As primeiras jornadas da Premier League foram pouco promissoras, já a derrota com o Dínamo Zagreb, na estreia na Champions, encadeou o despedimento de Tuchel.

Graham Potter, treinador sensação do Brighton, assumiu o cargo com a esperança de alavancar o projeto. A realidade, porém, foi dura. Em 31 partidas sob a sua alçada, o Chelsea obteve apenas 12 vitórias. A equipa revelava falta de ideias e uma clara previsibilidade ofensiva. O 12.º lugar no campeonato não condizia com os elevados investimentos feitos, nem com a grandeza do próprio clube.

No inverno, a obsessão pelo mercado voltou a falar mais alto. Enzo Fernández chegou do Benfica por valor recorde - 121 milhões de euros -, a par de Mykhaylo Mudryk e Benoît Badiashile. O perfil das aquisições manteve-se: jovens com muito talento, mas com pouca experiência nos maiores palcos.

Para tentar diluir os substanciais custos, os dirigentes recorreram a contratos de longa duração, como o de Mudryk (oito anos e meio), de forma a que os pagamentos fossem espaçados. Todavia, a UEFA, atenta a esta falha no protocolo, rapidamente tomou medidas, limitando o período de amortização.

O retorno (triste) de um velho conhecido

Numa tentativa de resgatar a identidade, os blues trouxeram de volta Frank Lampard - lenda do clube inglês, que já havia comandado a equipa entre 2019 e 2021. Todavia, o antigo jogador não conseguiu estancar a hemorragia. Em vários jogos, o coletivo parecia desmotivado e incapaz de reagir.

No final, Super Frank angariou, apenas, uma vitória ao leme, num retorno pouco digno: um 14.º lugar na Premier League e eliminações precoces em todas as taças nacionais. O Chelsea vivia um dos períodos mais baixos na sua história moderna.

Com a temporada 2023/24 à porta, esperava-se contenção e reflexão. Uma abordagem fresca, que contrariasse os fantasmas do passado. No entanto, o histórico emblema voltou a liderar a lista de mais gastadores: Moisés Caicedo esvaziou em 116 milhões os cofres, juntando-se a um camião composto por Roméo Lavia, Nkunku e Cole Palmer, entre outros jogadores.

As saídas de Havertz, Mount, Kovacic e Koulibaly ajudaram a aliviar o plantel, mas o défice manteve-se nos 200 milhões de euros.O excesso de atletas tornou-se caricatural, com o novo técnico a ser vítima deste cenário inusitado. Mauricio Pochettino, ex-Tottenham e PSG, admitiu desconhecer elementos do plantel, um notório sinal da desorganização instalada. Dentro de campo, os sinais também não eram melhores: apenas uma vitória nas seis primeiras jornadas, o pior arranque do Chelsea em 45 anos.

Apesar das dificuldades no arranque da campanha 2023/24, o Chelsea acabou por garantir um assento nas competições europeias, pela porta da Conference League. O conjunto londrino também alcançou a final da Carabao Cup, porém, o golo solitário de Virgil van Dijk, já no prolongamento, assegurou o triunfo do Liverpool em Wembley. Um verdadeiro ano de transição.

E de repente, eis que surge o sucesso internacional

O modelo de gestão implementado por Boehly não sofreu significativas mudanças. O plano, tal como foi referido anteriormente, era simples: contratar, contratar, contratar e esperar pelo melhor. Durante a temporada transata, chegaram mais caras novas, muitas delas portuguesas: Pedro Neto (60 milhões de euro), João Félix (50 milhões de euros), Renato Veiga (14 milhões de euros) e Dário Essugo (22.27 milhões de euros).

Se o quarto lugar no primeiro degrau do futebol inglês mostrou um claro progresso, a conquista da Conference League ditou o regresso do emblema de Stamford Bridge ao caminho dos troféus. Na fase a eliminar, os comandados de Enzo Maresca ultrapassaram FC Kobenhavn, Legia Warszawa e Djurgarden, antes de seguirem para Polónia para a grande final da prova.

O Chelsea entrou com o pé esquerdo na partida decisiva diante do Real Betis, sofrendo um golo precoce. Todavia, a equipa britânica arregaçou as mangas e foi à luta. Com uma exímia prestação no segundo tempo, os blues deram a volta à situação, acabando por vencer o duelo com uma margem confortável (1-4). Despontava, assim, a primeira equipa com um set completo dos troféus da UEFA.

A respetiva época teria um capítulo ainda mais memorável. Cole Palmer & Companhia deslocaram-se em junho ao Estados Unidos da América e limparam o Mundial de Clubes. No MetLife Stadium, o PSG, atual detentor da Liga dos Campeões, foi surpreendido por uma entrada fulgurante do adversário. Benfica, Palmeiras e Fluminense também foram alvos do novo Chelsea, um clube que respira bem melhor recentemente.

Recorde-se que as águias terão uma oportunidade de se vingarem dos blues na próxima terça-feira, em Stamford Bridge. Será que o grupo de Londres vai conseguir fazer uma nova gracinha, desta vez na maior montra do futebol europeu? Seria o 'fim da picada'.

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