Quem é Francesco Farioli, treinador que se prepara para assumir o FC Porto? | OneFootball

Encerrada a 'era-Anselmi', tornava-se imperativo que o FC Porto olhasse em frente e não demorasse a nomear o próximo porta-estandarte do reino do dragão. Assim, Francesco Farioli é o nome escolhido por André Villas-Boas e toda a estrutura azul e branca.

A verdade é que o técnico italiano é um namoro antigo do presidente portista e, portanto, foi com alguma naturalidade que o nome do ex-Ajax surgiu para assumir a 'cadeira de sonho' nesta fase de transição. Nesta peça, o zerozero propõe-se a analisar o perfil do jovem timoneiro (36 anos), que tem De Zerbi e Marcelo Bielsa como as suas maiores referências.

O homem por trás da obra

Francesco nasceu em Barga (Itália), no dia 4 de abril de 1989, e sempre teve no futebol a sua maior paixão. Licenciado em filosofia e ciência desportiva na Universidade de Florença, começou a sua carreira como treinador de guarda-redes no Margine Coperta, uma equipa amadora em Itália.

Seguiram-se três épocas no Fortis Juventus, uma no Lucchese e uma aventura pelo Catar. Esse arrojo de sair da sua zona de conforto e abandonar o seu país natal pela primeira vez deu frutos. Quis o destino que Francesco se cruzasse com Roberto De Zerbi, que acabou por levá-lo para o Benevento - já na Serie A.

O Sassuoulo recrutou De Zerbi no ano seguinte e Farioli seguiu 'de arrasto', sempre como treinador de guarda-redes. No final da terceira temporada, o jovem técnico recebeu um convite para ser treinador adjunto do Alanyaspor. Não satisfeito com o papel secundário e com a certeza de que o conhecimento adquirido em Itália seria suficiente para algo mais, Farioli decidiu arriscar.

Pouco tempo depois, o Karagumruk, outro clube turco, precisou de um treinador e virou-se para o - nessa altura - adjunto do Alanyaspor. Farioli terminou essa temporada e iniciou a seguinte, mas regressou rapidamente a Alanya. Desta feita pela porta grande, como treinador principal. Uma época e meia no clube foram suficientes para o Nice (França) recrutar o jovem técnico, que, ainda antes de chegar à cidade invicta, teve uma passagem marcante pelo Ajax (Países Baixos).

Principais trabalhos: Nice e Ajax

À primeira vista o pensamento é óbvio: «Farioli? O treinador que perdeu o campeonato depois de ter uma vantagem de nove pontos no campeonato?». Não deixa de ser verdade, mas existem outros pontos que merecem ser analisados no trabalho feito pelo italiano. Comecemos por França.

Depois das experiências mais «verdes» na Turquia, foi em terras gaulesas que o menino de Barga teve o seu primeiro teste a sério. Objetivamente: em 2022/23 - pré-Farioli - o Nice acabou a Ligue 1 na nona posição, em 2023/24 - com Farioli - terminou no quinto lugar.

Para que se perceba, a turma do sul de França sofreu a primeira derrota da temporada à 14.ª jornada, já depois de o PSG ter sofrido o primeiro desgosto. O fôlego foi desaparecendo ao longo do campeonato, natural de um plantel inexperiente, mas a verdade é que o objetivo principal foi cumprido: o Nice voltou ao futebol europeu.

Tal prestação fez com que os responsáveis do Ajax - desesperados, depois de uma época tenebrosa em 2023/24 - acreditassem que Farioli seria o homem certo para fazer com que a turma de Amesterdão voltasse a competir frente ao Feyenoord e o PSV. Resultado? Objetivo conseguido. Se ficou um sabor amargo no final da época? Ficou, mas as diferenças de uma época para a outra são gritantes.

Já lá vamos à abordagem tática e às mudanças de sistema, mas atentemos, por agora, apenas aos factos. Em 2023/24 - antes da chegada de Farioli - o Ajax terminou a Eredivisie no quinto lugar a 35 (!) pontos do líder PSV, com 61 golos sofridos e apenas 15 vitórias nos 34 jogos disputados.

Em comparação, no ano seguinte, já com o técnico italiano no comando, o Ajax terminou o campeonato no segundo lugar (com 78 pontos, mais 22 pontos que no ano anterior) a um ponto do bicampeão PSV, com 32 golos sofridos (quase metade do ano anterior) e com 24 vitórias (mais nove do que o ano anterior).

O nosso portal preza-se por ir mais a fundo, não ficando só pela análise superficial e, portanto, importa também lembrar que ninguém esperava que este Ajax tivesse capacidade de competir pelo título neerlandês na primeira temporada de Farioli.

Apesar do menor investimento - face aos rivais - fruto das dificuldades vividas pelo clube e das debilidades óbvias do plantel, importa reforçar que o técnico italiano venceu todos os clássicos que disputou frente a PSV e Feyenoord para o campeonato.

Como jogam as equipas de Francesco Farioli?

Farioli faz parte da nova escola de treinadores - à semelhança de Martín Anselmi -, mas, ao contrário do ex-treinador do FC Porto, é mais apologista do 4-3-3. Ainda assim, já deu provas de ser capaz de se adaptar aos jogadores que tem disponíveis - foi o que teve de fazer nos Países Baixos. Mostrou também ser capaz de implementar as suas ideias de forma rápida, umas das principais críticas dos portistas dirigidas ao ex-Cruz Azul.

As equipas do italiano destacam-se pela coesão defensiva e pela mobilidade e articulação de setores na hora de atacar. Seguidor da escola De Zerbi e Marcelo Bielsa, Farioli, além do uso recorrente do «terceiro homem», é mais apologista da ocupação dos espaços do que da obrigatoriedade de seguir um sistema fixo. Não por raras vezes vemos os defesas a ocupar os espaços dos médios ou os alas a pisar terrenos interiores.

O técnico, de 36 anos, pede aos seus jogadores que «sejam protagonistas» e que arrisquem na tomada de decisão, algo exigido também - no papel - por Anselmi e que muitas vezes colocou a nu as debilidades de vários jogadores do FC Porto. Assim, será interessante perceber que nomes dará a direção do FC Porto ao novo treinador, isto de forma a que os níveis de qualidade, principalmente na primeira fase de construção, subam.

Será este o homem que vai voltar a colocar o FC Porto na disputa pelo título de campeão nacional? Só o tempo o dirá.