MundoBola Flamengo
·24 août 2025
Uma conquista de cinema

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·24 août 2025
Sábado dia 23 de agosto de 2025, um sábado qualquer. Uma final de Mundial com os Garotos do Ninho. Um daqueles dias que você renova sua convicção flamenga e conquista novas mentes e corações.
Eu vivi esse sábado mágico com a minha filha, amigos e com a Nação, e venho contar essa história para a posteridade.
Se eu me ativesse apenas ao fato do primeiro gol da final ter acontecido aos 10 minutos do primeiro tempo, quando a torcida canta em todos os jogos do Flamengo a música em homenagem aos 10 Garotos do Ninho que morreram no trágico incêndio que ocorreu no CT do Flamengo em 2019, isso por si só já daria um filme.
Torcida do Flamengo presente na final do Mundial Sub-20 contra o Barcelona. Foto: Renato Martins
Mas foi muito além disso. Quando aconteceu esse gol feito pelos garotos do ninho, um golaço do jogador Lorran depois de uma tabela com Matheus Gonçalves, a gente ainda não sabia, mas era o prenúncio de mais uma final épica que o Flamengo estava vivendo.
Nesse momento do gol as lágrimas que já estavam carregadas em meus olhos pela emoção de ouvir essa música em um jogo das divisões de base do clube que aprendi a amar desde muito novo, escorreram carregadas de emoção e símbolos que só aqueles que frequentam os estádios de futebol ao redor do mundo podem entender.
Ao meu lado, a minha filha também chorava de emoção, era a primeira final que a gente assistia juntos no estádio. A torcida, após os gritos de gol que fazem parte de uma catarse coletiva, voltaram a cantar a música dos Garotos do Ninho, pois ela havia sido interrompida no momento que a bola bateu na rede.
A plenos pulmões, homenageamos 10 garotos que poderiam estar ali em campo, honrando o Manto Sagrado e deixando a Nação em êxtase absoluto. “...ah como seria bom ter vocês aqui, honrando o manto do Mengão, com raça e paixão...” E foi nesse momento que percebemos que eles estavam ali com a gente, e sempre irão estar.
Muita luta aconteceu nos outros 80 minutos que se seguiram, o Barcelona, aquele time espanhol que tem uma das bases mais fortes do futebol mundial, que formou simplesmente Messi e Yamal, empatou o jogo no segundo tempo.
E nos acréscimos da partida virou o jogo em uma cabeçada do zagueiro espanhol que veio de uma cobrança de corner. A torcida do Flamengo ficou em silêncio, o Barcelona seria campeão mundial Sub 20 em um lance nos acréscimos.
Algumas pessoas começaram a ir embora, possivelmente não queriam viver e experimentar o gosto amargo da derrota. Muitos pais levaram seus filhos pela primeira vez ao estádio nesse jogo, e alguns outros foram ver a sua primeira final.
Garotos do Ninho em campo: talento e emoção em noite histórica. Foto: Renato Martins
Todos sempre querem guardar esse momento como um momento de vitória e não derrota. Mas a maioria ficou. Mostrando que nesse momento o importante é você ter calma e se lembrar que o jogo só termina quando o juiz apita o final da partida, que não podemos desistir antes do fim. O jogo só termina quando acaba.
E lembrar também que existem os predestinados, os fora de série, aqueles que por uma iluminação inexplicável, ou pelo seu espírito competitivo de não aceitar uma derrota diante de 45 mil torcedores que foram torcer a plenos pulmões para o time Sub20 do Flamengo, decidem que irão repetir o que já foi feito por outros predestinados como Rondineli, Zico, Petkovic, Gabigol, entre outros.
“O jogo só termina quando acaba. Ensinamentos que viram pilares para toda uma vida.”
Nesse momento, nós, a Nação Rubro-Negra presente no templo sagrado do futebol, decidimos pagar para ver e ficar até o fim. Juntos. Com os Garotos do Ninho, até o fim.
Falei para um amigo ali no calor do momento, que não era pra gente ir embora porque os aprendizados não acontecem só na vitória. A derrota também tem muitos aprendizados, e que se fosse para a gente assistir uma derrota doída como estava sendo aquela, a gente deveria ficar para aprender junto com nossos filhos.
Era importante a gente mostrar para os nossos filhos que não vivemos só de vitórias, a derrota educa. Só que esse pensamento, que virou duas ou três trocas de palavras entre nós, durou pouco mais ou pouco menos de dois minutos. E o que a gente estava prestes a viver, sem ter a menor ideia, é que a gente não iria levar para casa naquela noite a lição de saber perder e seguir em frente.
Nosso aprendizado era o de não desistir antes do fim, nunca desistir antes de terminar. Ensinamentos que viram pilares para toda uma vida.
Enquanto vários pensamentos ainda pairavam sob a cabeça de uma torcida apaixonada de amor incondicional, os Garotos do Ninho seguiram firmes no propósito e na convicção de uma vitória.
Especialmente na cabeça de um atleta daqueles que não deve aceitar uma derrota nem no par ou ímpar, o nome dele é Iago, e ele é zagueiro. Para o Iago, a derrota não era uma opção, ele não tinha nada para aprender com essa derrota, ele queria vencer. Como nos ensina o hino do Flamengo: vencer, vencer, vencer, uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.
Explosão da Nação Rubro-Negra após o gol de Iago nos acréscimos. Foto: Renato Martins
E movido por essas convicções e outras que desconheço, ele se lançou ao ataque no último lance do jogo, entendam bem, todos no estádio, em casa e nas cabines de transmissão da partida sabiam que aquela era a última bola da partida.
E em uma atitude que alguns chamam de desespero e outros chamam de iluminação, ele pede a bola que está nos pés do lateral direito Daniel Salles, antes do meio campo. Nosso lateral direito repete o gesto que o Diego Ribas fez em 2019 e faz um lançamento de 40 metros, para a área adversária.
Naquela ocasião o Diego procurou o atacante, o artilheiro, o Gabigol. E todos sabemos o resultado desse lance que ocorreu em Lima. Já o Daniel não tinha um Gabigol para procurar, mas ele viu o seu companheiro de zaga, e capitão do time, correndo em direção a área adversária para tentar o impossível.
Daniel tinha nesse momento poucas opções e escolhas para fazer, ele dá mais dois toques na bola, se ajeita, e bate com força e precisão na bola em direção ao seu companheiro. Quando essa bola e alçada na área, nessa situação crítica de última bola, o que o Daniel está dizendo para o Iago é: Vá e Vença! E o Iago foi.
Correu o máximo que pode e pulou alto para uma cabeçada dentro da grande área, mas longe do gol, e ainda disputando a bola com o jogador que havia feito o primeiro gol do Barcelona e incomodado a zaga durante 90 minutos.
Uma final que ficará marcada para sempre na memória do Flamengo. Foto: Renato Martins
Só que o Iago sabia exatamente o que estava fazendo, e venceu o goleiro do Barcelona que foi encoberto pela bola que morreu no fundo da rede. A torcida desabou em mais uma catarse épica de um gol improvável feito nos últimos minutos de uma final de campeonato, que nem os roteiristas mais inspirados conseguem imaginar.
Depois desse jogo que fez a torcida do Flamengo relembrar a final épica da Libertadores de 2019 na busca do bicampeonato, dessa vez com os Garotos do Ninho, ficou claro que não podemos desistir nunca. Seja qual for o placar adversário você estiver vivendo na sua vida, o jogo só termina quando acaba.
Obrigado Iago! Obrigado pais do Iago, por terem ensinado ele a acreditar até o fim.
Obrigado Flamengo!
Obrigado filha, por me fazer sempre acreditar, até o fim.