AVANTE MEU TRICOLOR
·24 November 2025
ANÁLISE DA COLETIVA: Com os pés no chão, ‘carrasco’ Crespo trata de acabar com qualquer entusiasmo no São Paulo

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·24 November 2025

Para quem ainda não tinha visto Hernán Crespo sorrir, a entrevista coletiva concedida após a vitória sobre o Juventude no domingo (23), na Vila Belmiro, começou com belos risos do treinador argentino.
Não, Crespo não estava feliz pelo resultado final ou o desempenho de seu time. Mas não teve como não achar graça do fato de uma garrafa de água com gás lhe deixar completamente molhado antes de começar a responder os jornalistas.
O fato poderia ser o prenúncio de um clima mais leve, afinal o dia era de triunfo, encerrando o jejum de três partidas de tropeços. Mas logo se viu que basta falar dos problemas do Tricolor para Crespo voltar ao tom direto e sincero. Com claros reflexos em suas respostas. A série de contusões parece ter tirado acima de tudo o otimismo do treinador, que tratou de acabar com qualquer princípio de entusiasmo.
A começar pelos jovens da base. Três deles entraram no decorrer da partida (Lucca, Negrucci e Paulinho, este último estreando nos profissionais).
“Neste momento, eu estou pensando no presente. A realidade é esta. Estou pensando no presente. O presente é agora… é mais cômodo ter o Lucca, ter o Paulinho, ter o Pedro, ter o Maik… não vou esquecer ninguém… Negrucci, claro… neste momento, é mais cômodo, porque eles estão com o ritmo de sub-20, mas pensar em programar, projetar, construir e colocar nas costas deles a responsabilidade do futuro de São Paulo… acho que não é justo. Há todo um processo. Para muitos deles, este é o primeiro ano no sub-20. Normalmente, há que se fazer dois. Então, com calma, neste momento… sim, eles estão jogando porque estão disponíveis para jogar e porque têm ritmo de jogo. Mas pensar, neste momento, o que vai acontecer na próxima temporada, se ele vai ser… nós já sabemos… você não tem que perguntar a mim… nós já sabemos que, se eu puder fazer jogar os meninos de Cotia… a minha admiração por eles, sim, mas não por este motivo. Eles têm que pegar a responsabilidade da próxima temporada. Eles podem ajudar e voltar protagonistas… por que não? Mas com calma. Vamos ver, jogo a jogo”, disse.
“Não, eles não têm que assumir nada (a pergunta falava em ‘assumir certas buchas na próxima temporada’). Eles têm que jogar livremente, têm que jogar e têm que ser livres, porque são jovens. E tentar ajudar, talvez com a esperança de que voltem protagonistas. Então, ajudar… não podemos pensar que um menino em seu primeiro ano de sub-20 vai ser titular e vai ter que jogar com o peso e a responsabilidade de um grande time como o São Paulo. Não. Eles têm que ser livres. Temos que criar uma estrutura sólida, uma base sólida, para entregar a eles a oportunidade de poder demonstrar aquilo que podem fazer. Mas dar a responsabilidade de ser titular do São Paulo? Não. Podem conseguir? Sim, claro que podem conseguir. Com trabalho, podem conseguir. Mas estamos falando de um grupo de jogadores que ainda não acabou seu primeiro ano de sub-20. Acho que é um pouco cedo para dar essa responsabilidade”, completou, quando foi questionado pela segunda vez sobre o tema.
Se o assunto departamento médico já parece até manjado ante a constante movimentação do (Marcos Antônio saiu, mas Ferreirinha entrou), Crespo manteve o tom sóbrio. E sem querer dar detalhes do planejamento para o ano que vem, também foi até certo ponto pessimista para quando tiver todos à disposição, principalmente o trio Calleri, Lucas e Oscar.
“A coisa importante é isso que eu falei. Nós já sabemos que, para o próximo ano, muitos estarão voltando de lesões graves. Então, para ser claro, se você monta um time, como na temporada deste ano, com Oscar, Lucas Moura e Calleri, por exemplo, e eles não estão durante toda a temporada… com este elenco assim, nós chegamos aos 45 pontos a cinco rodadas do fim. Podemos pensar que eles são o futuro? Não. Eu acho que, se o Calleri voltar a ser o Calleri… porque não sabemos, porque ele tem um problema de ruptura (de ligamento) do joelho. Sabemos se o Lucas Moura vai voltar a ser o Lucas Moura? Sabemos se o Oscar vai voltar a jogar? Não sabemos. Então, a construção passa por este elenco. Onde podemos (palavra inaudível) este elenco? Se depois, durante a temporada — em janeiro, fevereiro, março… — o Calleri voltar a ser o Calleri, o Lucas Moura voltar a ser o Lucas Moura… talvez… tomara que o Oscar volte a ter saúde… vão ser reforços. Para mim, isso é assim. Nós temos que melhorar o elenco atual. Sem estas três grandes peças, o elenco atual chegou aos 45 pontos faltando cinco rodadas. Então, nós temos que trabalhar muito para melhorar, se não quisermos repetir esta temporada”, apontou.
Nesse clima de incertezas, que como o próprio Crespo faz questão de ressaltar, “sempre teve muita sinceridade por parte dele”, o futuro são-paulino o próprio Brasileirão é tratado como incógnita. O sonho de ainda se classificar na Copa Libertadores continua. Mas o treinador, extremamente realista, faz a opção de não fazer promessas para a já machucada esperança da torcida. Essa, aliás, cujas vaias também foram entendidas pelo argentino.
“Você já sabe quais são as dificuldades. Nas últimas coletivas, eu fui muito claro. Todas as dificuldades… e ainda temos mais, de que nós não falamos. A realidade é esta aqui. Temos que adaptar, fazer o melhor possível e tentar pontuar. A ideia é sempre tentar jogar de um certo jeito. Hoje, não aconteceu. Não jogamos como pretendemos e desejamos, mas era um momento muito delicado. Sabemos que ainda temos três jogos para acabar esta temporada e tentarmos chegar o mais acima possível”, explicou.
“Você me fala de programação. Difícil… vamos tentar fazer o melhor possível. Quando acabar essa temporada, vamos ver o que fizemos. Eu falei… é muito difícil. Tudo aquilo que foi programado quando nós não estávamos aqui não aconteceu durante a temporada. E chegamos aqui em um momento muito difícil, complicado. Falava-se em rebaixamento… é muito difícil vir aqui, colocar a cara com todas as dificuldades que o São Paulo tem… nós chegamos aqui igual… então, pretender demais… não… sim, vou pretender para a próxima temporada, isso sim. Para esta temporada, eu sabia que tinha que lutar e brigar. No primeiro jogo que jogamos, contra o Flamengo, eu falei: ‘Vamos ter que lutar até o fim. Até dezembro.’ Nós chegamos aos 45 pontos cinco rodadas antes (do fim do campeonato). Não dez rodadas antes. Só cinco. Com parâmetros claros para aquilo que devemos fazer na próxima temporada”, apontou.
“Temos que abraçar o espírito amador, e não pensar que são profissionais. Neste momento, temos que pensar que temos que jogar com o coração, com aquilo que temos. Como falei sempre: vamos alcançar? Não sei. Hoje [ontem] alcançamos, assim (faz gesto de ‘garra’). Mas alcançamos. Podemos jogar melhor? Claramente (sim). Nós já demonstramos que podemos jogar melhor. Mas, neste momento, é assim. Então, o que temos, vamos entregar. Tudo. Vai ser suficiente para ganhar os jogos? Não sei. Mas vamos colocar o suficiente de energia que temos. Faltam três rodadas. Abrimos três pontos de diferença na nossa competição com o Bragantino. Esperamos que amanhã o Cruzeiro nos dê uma mão com o Corinthians (na verdade, o jogo foi depois, e o Cruzeiro deu essa mão, vencendo por 3 a 0). Vão restar nove pontos (em disputa), e teremos três de diferença, se correr tudo bem. Este é o campeonato que temos que jogar nestas três rodadas que faltam”, concluiu.









































