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·26 Juli 2025
Campeão da base ao profissional no Flu, técnico brasileiro traça carreira vitoriosa na África

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Se como jogador, Robertinho fez todas as categorias até chegar ao profissional do Fluminense, como técnico, passou também por várias categorias inferiores até chegar no profissional. E ajudou a revelar muita gente. Se já contamos a história dele como atleta na primeira parte dessa entrevista (clique aqui para ler), agora chegou a hora de falarmos do Robertinho treinador, revelador e campeão nas Laranjeiras e de carreira marcante na África.
Começando pelo Robertinho formador. De caráter, de pessoas, e também de atletas de alto nível. Nos anos em Xerém, o técnico lembrou na nossa conversa de dois casos específicos, o primeiro deles de Diego Souza.
"Diego Souza, ele estava na peneira. Eu pedi para o responsável da peneira para apitar, porque eu já tinha visto algumas boas jogadas ali. O Diego Souza fez uma boa cobertura, roubou a bola, só que a mão dele ficou na grama. Eu senti que ele ficou apertando a mão, mas não falou nada. Aí cheguei perto dele e falei: 'Oi, rapaz, tudo bem? Parabéns pela cobertura. Você não tocou no oponente, recuperou a bola e já iniciou o contra-ataque. Mas o que está acontecendo com a sua mão'? O dedo dele estava fora do lugar, cara. E ele não parou de jeito nenhum. Eu tive que parar o treino, o massagista colocou o dedo no lugar e ele voltou a jogar. Depois, peguei a prancheta e já escrevi: aprovado, excelente futuro, porque tem personalidade, técnica e é guerreiro", contou, antes de falar de Arouca.
"Eu chegava lá na peneira em Xerém, friozinho, tinha sempre um menino sem camisa, sentado no morrinho de barro, vendo o treinamento. Frio para caramba, falei: 'Você não está com frio não, menino?'. Ele falou: 'Estou esperando o professor me chamar, mandou eu aguardar'. 'Mas você está aqui há mais de uma hora'. Fui lá, peguei uma camisa, dei para ele e liguei para o coordenador. 'Dá uma chance para esse rapaz, já não é a primeira vez, ele quer muito. O pai dele é motorista de caminhão, ele desce aqui para levar legumes, verduras, e ele fica aqui esperando a chance, e ninguém deu chance para ele. Faz esse garoto jogar, ele merece'. Olha aonde chegou o Arouca...", pontuou.
Robertinho não deixa de citar, também, Toró, que para ele era o "Pelé de Xerém". "O que eu vi ele fazer lá... Mas escolheu o momento errado para ir para o Flamengo, tinha feito uma cirurgia no joelho", lembrou.
Campeão na base, chegou ao profissional do Fluminense foi um dos responsáveis por levar Romário para o clube, em 2002. "O presidente falou comigo e pediu um ídolo. Falei que era o Romário. Fui lá no hotel, falei com ele, e ele foi meu capitão. Ele foi um exemplo, nunca me criou um problema", enalteceu.
Só que Robertinho não voltou a ter chances na elite do futebol brasileiro depois de sair das Laranjeiras. E isso o incomodou muito. "Ganhei infantil, juvenil, juniores, ganhei um mundial sub-23 na Alemanha com o Fluminense, contra o Dortmund, ganhei no profissional... E ninguém fala. É o sistema. Eu estava triste com isso, e apareceu aqui em casa um rapaz com uma proposta da Tunísia".
Essa história é inusitada: o emissário do clube tunisiano, chamado Cader, recebeu as referências de Robertinho de um funcionário do Fluminense. Sem telefonar, apareceu na casa do treinador com um vestido para a mulher de Robertinho e uma proposta inusitada: ir comandar um clube na Tunísia. Robertinho depois foi jantar com Cader, falou por telefone com dirigentes do clube e aceitou que fosse comprada sua passagem.
O técnico brasileiro ficou seis dias no hotel sem ninguém entrar em contato. No último dia, já preparou a mala para ir embora, quando o Cader apareceu. Foi com mala e tudo se reunir com o presidente do clube, que já tinha entrevistado um técnico português, um sérvio e um holandês.
"Quando fui na agência trocar o bilhete, o Cader aparece. Falei: 'Pô, Cader, você não apareceu para tomar um café comigo. Desculpa, mas vou embora, tchau'. Aí ele: 'Não, o encontro com o presidente está marcado, vamos lá agora, por favor'". Fiquei lá com o presidente, e tinha um outro cara sendo entrevistado por ele. Fiquei lá, com a mala, comecei a pedir tudo lá, croissant, suco, chá, chocolate, etc (risos). Aí ele me explicou, tinha entrevistado um português, um sérvio e um holandês. Mas me escolheu", começou a contar Robertinho, que questionou os motivos da escolha do presidente.
"'É simples, Roberto', ele me falou assim. 'Eu já fui jogador, jogava no meio, e já participei da seleção. O português estava de bermuda e chinelo, não gostei, não tem a postura para trabalhar no meu clube. O outro foi um sérvio, disciplinador, autoritário, não quero esse perfil, porque temos a melhor formação do país e queremos aproveitar isso, deixar eles leves. O holandês foi preparador físico, não tem experiência no time principal. Eu te escolhi porque seu currículo como ex-atleta é invejável, você trabalhou na base, foi campeão e foi para o profissional. E você veio de terno e gravata. Quero você'".
Robertinho ficou três anos no Stade Tunisien. Lançou no time principal Youssef Msakni hoje ídolo do futebol local e capitão da seleção, com mais de 100 jogos pelo país e oito Copas Africanas das Nações no currículo (além de uma Copa do Mundo). "Tiver a honra de revelar esse garoto".
A partir de então, começou uma carreira como andarilho no futebol internacional, passando principalmente por clubes africanos. Trabalhou em clubes ainda de Angola, Ruanda, Quênia, Uganda e Tanzânia. Disputou as principais competições nacionais e internacionais do continente no período.
"Sou o treinador estrangeiro de maior sucesso na África, e por quê? Porque a gente tinha vários 'Pelés' lá? Não, foi pela confiança daquele grupo carente, que estava acostumado a só tomar bronca... Quando pegam profissionais que entendem eles, que respeitam eles, eles vão dar até a vida para te ajudar dentro de campo", ressaltou.
Robertinho conta que o principal problema que enfrentou durante o trabalho no futebol africano, principalmente nos primeiros anos, foi a má alimentação dos atletas.
"Quando comecei em Ruanda, alguns jogadores não se alimentavam bem, o clube não dava aminoácidos, vitamina, não dava suporte. Não só lá, nos outros países também tive que pedir. Alguns clubes que prefiro não falar o nome, apesar de serem fortes no campeonato, não tinham estrutura, não tinha campo para treinamento, tinha que improvisar... Tinha um que eu tinha que pedir autorização do shopping para treinar em um campo deles", começou por contar.
"Em um campeonato desses da África, de 14 times, três ou quatro cumprem e dão boas condições, vitamina, alimentação, etc. Três ou quatro conseguem se aproximar do normal. Os atletas dizem que eles mesmo tem que comprar coisas para eles, às vezes não tem concentração, eles ficam em casa. Será que vão comer? Eu até cansei de comprar fruta do meu dinheiro, comprava para depois do treino e dava para todo mundo. Quando vinha no Brasil, minha esposa comprava no mercado barrinhas proteicas, e eu levava um monte para dar lá", completou.
Até hoje, Robertinho recebe ligações de seus ex-jogadores. Após passagem pelo Rayon Sports, de Ruanda, deve voltar ao futebol árabe para a próxima temporada, onde já trabalhou em Kuwait e Emirados Árabes, dessa vez para trabalhar na Arábia Saudita.
"Existe uma grande chance (de ir para a Arábia Saudita). Apareceram oportunidades boas para ir, meu filho, Rodrigo, cuida dessa área toda para mim, checa tudo, e vamos decidir em breve", arrematou.