Calciopédia
·23 Desember 2025
David Neres decidiu contra o Bologna e o Napoli faturou sua terceira Supercopa Italiana

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·23 Desember 2025

Para fechar um 2025 brilhante, o Napoli volta da Arábia Saudita como tricampeão da Supercopa Italiana. Em Riade, capital do país do Oriente Médio, os atuais campeões da Itália venceram um irreconhecível Bologna por 2 a 0 e levantaram um troféu que não ia para o centro de treinamentos de Castel Volturno havia 11 anos. A final foi decidida pelo brasileiro David Neres, que já havia castigado o Milan nas semifinais: o ponta formado no São Paulo devolveu a taça aos azzurri com dois gols. Um deles de manual, o outro através de oportunismo.
O cenário, ainda que grandioso, tinha algo de irreal. O Al-Awwal Park permaneceu silencioso durante boa parte da noite, com grandes estruturas de lona cobrindo as arquibancadas para disfarçar a baixa presença de público – algo corriqueiro nos torneios caça-níqueis que a Liga Serie A tem produzido em solo saudita. Ainda assim, sob os arranha-céus de Riade e a milhares de quilômetros do Renato Dall’Ara, o Bologna viveu um capítulo impensável para sua história recente. Devido ao título da Coppa Italia, obtido após 51 anos de jejum, os rossoblù disputavam a Supercopa Italiana pela primeira vez. E, talvez por isso, tenha sucumbido.
Afinal, decisões não se alimentam só de simbolismos. Vence quem faz mais gols. E David Neres quis que esta tivesse sua assinatura. O primeiro veio aos 38 minutos, e não foi um tento qualquer. Foi a quintessência do arremate colocado, tal qual os de Del Piero – que via tudo da tribuna de honra, ao lado de outros grandes nomes do futebol italiano, como Roberto Baggio e Vieri. Mas, se o ídolo da arquirrival Juventus era destro, o canhoto brasileiro bem que pode ter se inspirado no napolitano Insigne. Sua obra de arte, que tranquilamente teria a capacidade de ser um autêntico “tiraggir” de Lorenzinho, não deu chances a Ravaglia. Neres se livrou da marcação, mirou o ângulo e bateu com precisão cirúrgica, estufando a rede.
David Neres, melhor jogador da Supercopa Italiana, abriu o placar com um golaço (Getty)
O gol abriu a noite e libertou o protagonista. A partir dali, Neres passou a desfilar dribles e não se furtou a participar de recomposições defensivas, impressionando os cerca de 18 mil sauditas presentes. Mas, se o público se encantou com o primeiro gol, Antonio Conte saberia apreciar ainda mais o segundo. Aos 56, o brasileiro pressionou Lucumí, aproveitando o passe curto de Ravaglia dentro da pequena área e fechou a jogada com um delicado toque por cobertura. Um tento mais “contiano”, nascido da agressividade, da leitura e da obsessão por recuperar a bola. Foi os sexto do brasileiro na temporada e o terceiro na Supercopa Italiana. Uma taça que teve muito de sua assinatura.
O segundo gol foi a síntese da partida. O Napoli venceu a Supercopa pela forma como ocupou o campo, como fechou os espaços e como transformou o Bologna em um time desconfortável desde o primeiro passe. Conte aplicou uma lógica antiga, quase didática: abrir mão da posse para controlar o jogo. O treinador orientou os seus comandados a deixarem a bola circular longe da zona de risco e atacar o adversário no momento em que ele tentasse respirar. Os azzurri empurraram os laterais para frente, comprimiram o campo e forçaram os emilianos a construir por onde não queriam. Miranda e Holm sofreram, as saídas foram previsíveis, e a equipe partenopea criou sequência de chances ainda no primeiro tempo, com Højlund e Elmas chegando perto do gol.
Ravaglia sustentou o Bologna enquanto pôde. Evitou que o jogo se abrisse cedo demais e manteve o placar administrável até o intervalo, embora não tenha sido perfeito no salto no chute de David Neres e tenha estragado tudo mais tarde. Na retomada, o roteiro não mudou: o Napoli continuou chegando, empilhou oportunidades e acabou premiado quando o erro apareceu. O segundo gol nasceu desse contexto, não de um lampejo isolado.
O brasileiro anotou uma doppietta sobre o Bologna e somou três gols na campanha do título azzurro na Supercopa Italiana (Getty)
Entre os destaques individuais do Bologna, Heggem chamou atenção. Vindo de um percurso improvável no futebol europeu, o norueguês conseguiu limitar Højlund mais do que outros defensores que tentaram a mesma missão, ainda que com falhas pontuais – e num momento de crescimento do dinamarquês, que vem somando boas atuações e havia engolido o Milan na semifinal. De resto, porém, a equipe de Vincenzo Italiano ficou devendo, pela apatia, pela dificuldade de encontrar soluções fora do script e por ter aceitado muito facilmente o domínio napolitano. Nota negativa especialmente para aqueles de quem se esperava condução e personalidade: Orsolini, Castro e Odgaard passaram pela final sem deixar marca.
Ainda assim, o Bologna não volta de mãos vazias no sentido simbólico. Italiano errou a leitura da partida e sentirá o peso de mais uma final perdida, mas o caminho até Riade diz mais sobre o projeto do que o placar final. Em pouco mais de seis meses, foram duas decisões disputadas depois de meio século longe desse tipo de palco. Tirando a Copa Intertoto de 1998, a torcida não cultivava memória recente de jogos desse calibre. Para o treinador, foi a quarta derrota em cinco decisões, mas também a confirmação de um trabalho que recolocou os rossoblù entre os protagonistas do futebol nacional.
O Napoli, ao contrário, volta com a mala pesada. Dois jogos controlados, poucos sustos e um título construído com clareza de ideias. Højlund deu lastro ao ataque protegendo a bola, David Neres decidiu com talento e intensidade, e a defesa saiu ilesa, sem sofrer gols em toda a Supercopa Italiana. A presença do treinador foi constante, visível nos detalhes. Conte já havia lembrado, antes da final, que decisões encantam por suas histórias, mas só os vencedores permanecem na memória. Em Riade, ele acrescentou mais uma taça do torneio à coleção, alcançou o décimo troféu da carreira e confirmou que ainda pode conduzir um time oscilante a conquistas pesadas. Agora, tentará reagir na Serie A e na Champions League.









































