Esporte News Mundo
·8 Oktober 2025
Descubra como “novo Kaká” se aposentou aos 27 anos

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Apontado como uma das maiores promessas da base do São Paulo no fim da década de 2000, Mirrai Leme Vieira, mais conhecido como Mirray, teve uma trajetória marcada por altos e baixos, por um contraste que ilustra bem o abismo entre a elite do futebol brasileiro e as divisões inferiores.
Desde os tempos de futebol juvenil, o meia se mostrava brilhante e chegou a ser tratado como o “novo Kaká”, mas encerrou a carreira profissional aos 27 anos, em meio a dificuldades financeiras e ao “choque de realidade” de atuar em clubes sem estrutura.
Hoje, com 31 anos, o ex-jogador mora em Guariba, cidade do interior paulista a cerca de 450 km da capital, onde é empreendedor esportivo, dono de uma escolinha de futsal e idealizador de um grupo voluntário de corrida, chamado Pace que Salva.
Mirray também participa de torneios amadores de várzea na região de Ribeirão Preto e até no Paraná. Desta vez, o futebol é praticado puramente por prazer, sem as pressões que marcaram sua juventude.
A joia tricolor começou a brilhar em 2009, época em que as categorias de base do São Paulo foram vitoriosas em torneios internacionais. Naquele ano, a equipe sub-15 conquistou o Mundial da categoria, realizado na Inglaterra. No lendário estádio Old Trafford, do Manchester United, o clube venceu o Werder Bremen, da Alemanha, por 3 a 1, com Mirray balançando as redes duas vezes.
A atuação de destaque lhe rendeu um contrato milionário, com luvas generosas que permitiram, inclusive, realizar o sonho de comprar a casa própria para os pais.
As comparações com Kaká, revelado pelo São Paulo e melhor jogador do mundo dois anos antes, começaram a surgir. Para se ter uma ideia, a multa rescisória do jogador foi fixada em 30 milhões de euros (cerca de R$ 84 milhões à época).
Em entrevista ao Globo Esporte, Mirray contou que “Ser comparado ao Kaká não é para qualquer um. Tinha um valor enorme, mas também uma pressão altíssima. Eu via como algo bom, gostava de ouvir. Tive uma família que me apoiou muito e soubemos lidar”.
O salto das divisões de base para o time profissional, porém, não se concretizou. Integrante da “geração 94” do São Paulo, que também revelou nomes como Rodrigo Caio, Lucas Evangelista, João Schmidt e Lucas Piazón, Mirray nunca conseguiu repetir no profissional o brilho que teve na base.
O jogador, então, começou a acumular empréstimos a equipes menores do estado. Em 2016, o vínculo do atleta com o Tricolor se encerrou, e o jogador conheceu uma nova face do futebol brasileiro.
Ao seguir carreira em clubes de menor investimento, como Vila Nova, Comercial-SP, Luverdense, URT, Goytacaz e Gama, Mirray precisou lidar com salários reduzidos, atrasos de pagamento e falta de estrutura para treinar e jogar. Cansado das dificuldades, optou por encerrar a trajetória profissional ainda jovem.
“É um choque de realidade muito grande. Você sai de um clube gigante e cai em outro sem estrutura, sem a mesma alimentação, sem o mesmo cuidado com o atleta. Precisa ter muita fé e resiliência. Mas é difícil manter isso quando o salário atrasa e você tem família para sustentar. Como vou pagar as contas?”, desabafou.
Mirray se casou e viu o futebol deixar de ser sustentável. Em alguns casos, o meia precisou pagar para jogar, visto que os custos com deslocamento e estadia superavam o valor que ele recebia.
Durante a pandemia da Covid-19, no ano 2021, ele decidiu mudar de vida. “Eu ainda tentava, mas vinha pensando em parar. A pandemia fez a gente olhar para outros projetos, e essa foi a melhor escolha.”
Após a aposentadoria, Mirray passou dos campos de futebol para o empreendedorismo. Longe da rotina de treinos e viagens, ele se dedica a novos projetos ligados ao esporte. Em Guariba, com apoio da família, o ex-jogador administra uma escolinha de futsal e lidera um grupo de corrida solidário, com foco em ações comunitárias.
Porém, o sonho de um retorno ao futebol profissional ainda é presente em Mirray, apesar de ser improvável. “O que me tiraria de casa seria o sonho. Mas hoje não dá para arriscar o que já conquistei. Como vou pagar as contas? A gente não quer milhões, só o combinado. O futebol é maravilhoso, mas também é cruel com quem está fora da elite”.
Mesmo sem alcançar o rumo esperado na carreira, Mirray trata a própria trajetória com muita gratidão. “O futebol é uma caixinha de surpresas, para o bem e para o mal. Sou muito grato. Saí de uma cidade de 35 mil habitantes e fui parar no São Paulo, um gigante. Tive uma multa de 30 milhões de euros, realizei meu sonho, e tudo que tenho hoje é fruto do futebol. Só gratidão.”