Filipe Luís, futebol brasileiro e títulos pelo Flamengo: entrevista com Nunes, o Artilheiro das Decisões | OneFootball

O Flamengo possui diversos atacantes marcantes em sua história. Contudo, poucos foram tão importantes quanto o "Artilheiro das Decisões", Nunes.

Neste sábado (26), o campeão mundial pelo Rubro-Negro concedeu entrevista ao MundoBola Flamengo no "Encontro da Nação". O evento acontece todo final de semana na Loja do Museu Flamengo, na Gávea.

Nunes relembrou o primeiro título do Campeonato Brasileiro em 1980 e o bicampeonato contra o Grêmio dois anos depois.

Além disso, o ex-jogador do Mais Querido falou sobre o momento do clube e mostrou sua visão sobre a atual formação de jogadores no futebol brasileiro. Confira:

Final que possui mais carinho de ter decidido pelo Flamengo

Você é conhecido como "O Artilheiro das Decisões". Das finais que o senhor foi decisivo com a camisa do Flamengo, qual você tem mais carinho?

"Todas as decisões eu tenho o maior carinho. Não é fácil na decisão você fazer gol e decidir títulos. Eu levo comigo um jogo muito importante, Flamengo x Atlético Mineiro, que nós ganhamos de 3 a 2. Eu fazia um gol lá e o Reinaldo fazia outro lá. O Zico fazia um gol lá e o Reinaldo fazia outro lá. Eu tive a felicidade de fazer o primeiro e o terceiro. O terceiro já foi o gol do título, então nós entramos para história do Flamengo com o primeiro título brasileiro. Também foi o meu primeiro brasileiro e dos meus companheiros", disse Nunes.

O ídolo do Mengão afirmou que o título também foi importante devido à classificação para a Libertadores, conquistada em 1981 e que possibilitou o título Mundial contra o Liverpool.

"Ali foi onde tudo começou. Porque nós ganhamos o Brasileiro, fomos disputar a Libertadores, ganhamos e fomos disputar o Mundial. Então esse jogo aí eu tenho um carinho, um olhar muito especial para essa decisão entre Flamengo x Atlético-MG", afirmou o ex-atacante.

Novamente decisivo em 1982, com direito a previsão de Zico

Ontem (25 de abril) fez 43 anos do bicampeonato do Flamengo contra o Grêmio, que o senhor também decidiu. Como foi a sensação de decidir novamente, pela segunda vez, na casa deles?

"Foram três jogos. O primeiro jogo aqui, nós empatamos em 1 a 1. O Zico fez aquele gol no final quando a gente estava perdendo de 1 a 0 e empatou. Fomos para o segundo jogo em Porto Alegre. Foi muito difícil, porque naquela época só tinha time bom. Dava um luxo de você ter o seu ídolo e ter outros jogadores ídolos que entraram para história do Flamengo. O segundo nós empatamos novamente e no terceiro foi 1 a 0 gol do Nunes", disse o ídolo.

Além de craque dentro de campo, Zico arriscava o papel de vidente. Segundo o Artilheiro das Decisões, o Camisa 10 da Gávea sonhou que ele faria o gol do título contra o Grêmio.

"Naquele dia nasceu o Vidente, né? Arthur Antunes Coimbra. Ele sonhou que eu faria o gol do título e falou no sábado no Globo Esporte, que seria 1 a 0 com gol do Nunes. Eu não sabia que ele tinha falado isso e ele também não falou que daria o passe. Foi uma coisa maravilhosa, nós conquistamos o segundo título da história do Flamengo. O nosso time era maravilhoso, em todos os sentidos que você imaginar", revelou Nunes.

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"Camisa 9" no futebol atual e formação da base

O senhor, sendo um dos maiores centroavantes da história do futebol brasileiro, acha que a posição de "Camisa 9" regrediu nos últimos anos?

"Ultimamente no futebol brasileiro o 'Camisa 9' está fazendo falta, essa é a realidade. Eu acho que as pessoas que administram tem que olhar muito para a base, para descobrir novos talentos e fazer a formação correta. Uma formação de jogador profissional que tenha o compromisso com o futebol, não como um 'popstar', eu penso dessa maneira. Jogador de futebol é jogador de futebol, popstar é popstar, ator é ator e cantor é cantor. Ele tem que ter essa consciência", opinou o ex-atleta.

Para o Artilheiro das Decisões, um jogador de futebol deve ser preparado não só para a partida dentro de campo, mas também fora das quatro linhas.

"Ele tem que ser preparado para ser um jogador de futebol em todos os sentidos que você imaginar. Na formação de homem, atleta, no respeito ao seu comandante, seus companheiros, ao clube e a camisa que veste. Tudo isso faz parte da preparação para você ter uma formação de um grande atleta", afirmou Nunes.

Jogadores da atualidade possuem diversas deficiências técnicas, disse Nunes

Ainda sobre ataque, como você avalia o atual desempenho do ataque do Flamengo? Principalmente jogadores como Bruno Henrique, Pedro e Juninho.

"Eu não vou entrar no mérito de A, B, C, eu vou falar o que eu vejo. O Flamengo tem um plantel maravilhoso, tem grandes jogadores. Mas esses jogadores têm que provar dentro de campo e, para provar, eles têm que estar bem fisicamente. Então, é importante que o profissional tenha essa consciência, de se preparar nos treinamentos, em todos os sentidos. Tanto no treinamento, como fora de campo, a sintonia com a imprensa e com os torcedores", disse o Artilheiro das Decisões.

O campeão mundial pelo Flamengo completou fazendo uma análise geral sobre o futebol brasileiro. Na visão de Nunes, o Brasil "está muito por baixo" e apontou para erros técnicos de atletas.

"A gente tem que recuperar o nosso futebol, que está muito por baixo. Eu vejo jogos da Série D, C, B e até da A e tem jogador de futebol que não sabe dominar uma bola, domina com a canela e chega na frente do goleiro e chuta no 13º andar. Então, tem que treinar o fundamento, tem que se preparar para poder chegar no campo e desenvolver tudo aquilo que ele sabe. No futebol europeu os caras têm uma personalidade, uma confiança. Chuta para o gol e acerta. A gente não vê os caras lá fora, chutarem no 13º andar, aqui a gente vê toda hora", criticou o ex-atacante.

O "João Danado" completou sobre a preparação física atual do futebol, na qual considera "muito corrida".

"A gente tem que se preocupar com o tipo de treinamento, com os fundamentos, até o preparo físico. Porque, na minha opinião, é muito corrido. A gente tem que fazer a bola correr mais. A gente tem que estar em situações que a gente possa economizar a energia para chegar no final de um jogo aos 30, 35, 40 minutos, com gás para correr e ter disposição", analisou o ídolo.

Filipe Luís na Seleção Brasileira ainda é cedo

O atual técnico do Flamengo, Filipe Luís, é muito comparado ao Carpegiani por conta do contexto de ter se aposentado e assumido rapidamente a equipe profissional. Quais semelhanças você enxerga no Filipe Luis com o Carpegiani?

"Para você escolher um ex-atleta para ser treinador, você tem que saber escolher a pessoa. Se é um cara que tem postura, se tem comando e se é uma pessoa bem aceita. Eu vejo no Filipe Luís uma grande promessa que vai se tornar um grande treinador. Mas tem que deixar o cara trabalhar, sem muita pressão", elogiou Nunes.

O ex-Camisa 9 completou os elogios ao atual treinador do Mais Querido. Segundo Nunes, Filipe Luís não mistura amizade com comando.

"Ele trabalhou com grandes treinadores na Europa e no futebol brasileiro. Tem uma postura muito legal dentro de campo e não está misturando amizade com comando. Esses jogadores que hoje estão jogando no Flamengo foram companheiros dele de profissão dentro de campo. Agora é diferente, ele é o comandante, é importante que ele fale a linguagem dos jogadores e eles tenham ele como tal, não como um 'amiguinho'. Tem que desenvolver o trabalho como treinador, por isso que eu estou dizendo que é uma grande promessa e tem que deixar ele trabalhar com tranquilidade" disse o ex-centroavante.

Após a demissão de Dorival Jr, o nome de Filipe foi especulado no cargo da Seleção Brasileira. Nunes disse ter ficado preocupado quando o assunto surgiu.

"Quando falaram do Filipe Luís para a Seleção Brasileira eu fiquei preocupado, porque é muito cedo. Ele pode sim, se tornar o treinador da Seleção Brasileira futuramente, mas deixa ele trabalhar, pegar cada vez mais confiança para desenvolver o trabalho. Ele é muito inteligente e vejo como uma promessa muito grande para se tornar um grande treinador", elogiou o ex-Camisa 9 do Flamengo.

Time de 1981 e Flamengo atual

Tem algum jogador do elenco atual do Flamengo que você acredita que teria vaga no time de 81?

"Eu não quero fazer essa comparação. O nosso time de 81 é o time campeão, de tudo, em todos os sentidos. Em profissionalismo, conduta, formação, no respeito tanto à imprensa, torcedores e companheiros. Não quero fazer essa comparação do time de 81 com o time atual. O time de 81 'esquece'! Entendeu? Nós já conquistamos tudo, conseguimos tudo que a gente queria. Agora é a vez dos caras, então a gente tem que dar apoio para eles conseguirem os objetivos deles e fazerem a alegria da Nação Rubro-Negra", afirmou Nunes.

Carreira de Nunes no futebol

Nunes começou nas categorias de base do Mais Querido, no entanto, recebeu mais minutagem em outros clubes. Depois dos tempos de base no Rubro-Negro, jogou por Confiança, Santa Cruz, Fluminense e Monterrey.

Após o clube mexicano, retornou ao Mengão em 1980 para fazer história com o Manto Sagrado. Nunes foi decisivo nas finais dos Campeonatos Brasileiros de 1980 e 1982, contra Atlético-MG e Grêmio.

Em 1981 marcou dois gols na final contra o Liverpool no Mundial de Clubes, eternizando ainda mais seu nome na história do Flamengo. No ano, Nunes também foi decisivo no Campeonato Carioca em final contra o Vasco.

A partir de 1983, Nunes teve mais duas passagens pelo Rubro-Negro: 1984 e 1987. O centroavante rodou por outras equipes, como Botafogo, Santos, Atlético-MG e Boavista-POR.

Após atuar pelo Santa Cruz, o Artilheiro das Decisões se aposentou em 1991, pelo Flamengo-MG.

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