Kiwior voltou a ser utilizado à esquerda: opção de recurso ou solução? | OneFootball

*Com Luís Pereira

O FC Porto venceu o AFS por 2-0, esta segunda-feira, na 17.ª jornada da Liga Portugal Betclic, mantendo-se na liderança da prova, agora com cinco pontos de vantagem sobre o segundo classificado.

Samu assinou os dois golos do triunfo portista, que poderia ter sido ainda mais dilatado face ao volume ofensivo apresentado pelos dragões ao longo do encontro.

Nesse contexto de controlo e domínio do jogo, e já nos últimos quinze minutos da partida, Francesco Farioli optou por retirar Francisco Moura devido a um ligeiro problema físico, voltando a colocar Jakub Kiwior na posição de lateral esquerdo.

Com Zaidu a disputar o CAN 2025 ao serviço da Nigéria, o jogador contratado na época passada ao FC Famalicão passou a ser a única opção de raiz no plantel para uma posição que tem sido apontada como possível alvo de reforço no mercado de transferências de janeiro.

Neste artigo, o zerozero propõe-se analisar a exibição de Kiwior no lado esquerdo da defesa, as nuances exigidas por Farioli e perceber se esta poderá ser uma solução a longo prazo ou apenas uma resposta circunstancial.

Lateral ou médio?

Tal como já referido, já com o resultado em 2-0 frente ao AFS, Francisco Moura foi substituído aos 75 minutos por Alan Varela, que assumiu a posição de médio mais recuado. Pablo Rosario voltou a baixar para central, enquanto Jakub Kiwior ocupou o flanco esquerdo, uma função que tem desempenhado pontualmente sob a orientação de Farioli.

Francisco Moura é um lateral de grande capacidade física, uma verdadeira locomotiva no corredor, envolvendo-se com frequência nas ações ofensivas da equipa e recorrendo ao cruzamento como uma das suas principais armas.

Em contrapartida, as tarefas atribuídas a Kiwior nessa posição são substancialmente diferentes. À semelhança do que acontece com Zaidu, a sua principal valência está no momento defensivo. Contudo, enquanto o internacional nigeriano é muitas vezes visto a progredir no terreno com corridas longas pelo corredor esquerdo, o defesa polaco revela-se bem mais contido nas suas ações.

Diante do AFS, em organização ofensiva, foi recorrente ver Kiwior a ocupar zonas interiores do meio-campo, libertando o flanco para Angel Alarcon. Com exceção de uma ou outra diagonal para arrastar marcações e permitir que o extremo espanhol recebesse com espaço, o polaco raramente assumiu comportamentos típicos de um lateral 'clássico'.

Na prática, Kiwior chegou mesmo a formar um duplo pivot com Alan Varela, oferecendo maior segurança na construção e permitindo que Gabri Veiga surgisse mais solto em zonas de criação, próximo da posição dez.

Experiência começou no Arsenal

O internacional polaco já havia sido utilizado como lateral por Mikel Arteta no Arsenal. Ainda assim, era percetível algum desconforto nessa função, sendo frequentemente exposto perante extremos mais rápidos e tecnicamente evoluídos, como aconteceu frente a Francisco Conceição nos oitavos de final da Liga dos Campeões de 2024, frente ao FC Porto.

Aliado ao contributo ofensivo limitado - essencialmente através do passe longo ou entre linhas -, a utilização de Kiwior como lateral acabava por ser, para Arteta, uma solução de recurso.

Com Farioli, o enquadramento tático é diferente. Kiwior aparece regularmente em zonas interiores, o que lhe permite sentir-se mais confortável e potenciar melhor as suas características. Defensivamente, cumpre ao fechar o corredor, e o facto de não ser constantemente solicitado a percorrer todo o flanco contribui para a sua maior eficiência na função.

Essa movimentação do lateral esquerdo para zonas interiores reforça a importância do corredor central na fase de construção do FC Porto. Os médios - Victor Froholdt, Gabri Veiga ou Rodrigo Mora - beneficiam da presença de Kiwior no eixo, permitindo combinações mais rápidas e eficazes em espaços curtos, aspetos em que são fortes.

Não obstante, é importante recordar que Martim Fernandes iniciou a época como titular na lateral esquerda, frente ao Vitória SC (3-0), na jornada inaugural. Nesse jogo também foi visível a tendência do jovem português para atuar por dentro, numa função semelhante àquela que Pep Guardiola atribuía a João Cancelo no Manchester City, mostrando que o FC Porto de Farioli valoriza a interiorização do lateral como recurso ofensivo e defensivo.

Reforço a caminho?

Quando Kiwior atuou como lateral esquerdo, como aconteceu frente ao Moreirense (1-2) - a única ocasião em que desempenhou essa função num contexto em que o FC Porto procurava alterar o resultado -, a equipa acabou por perder profundidade e capacidade ofensiva no flanco.

Os laterais têm um papel fundamental na dinâmica ofensiva da equipa, sobretudo através dos movimentos de sobreposição que permitem aos extremos fletir para o meio e criar oportunidades de finalização. Com Kiwior nessa posição, essa dimensão ofensiva fica naturalmente limitada, apesar da equipa ganhar algum equilíbrio defensivo no corredor esquerdo.

Até ao momento, o internacional polaco quase não foi testado neste papel em situações de maior exigência ofensiva ou quando a equipa não estava em vantagem no marcador, o que torna difícil avaliar se o FC Porto sai claramente beneficiado com ele a lateral.

O próprio Francesco Farioli confirmou esta ideia, admitindo a preferência do jogador por atuar no eixo defensivo.

«É uma possibilidade, jogou aí frente ao Moreirense. Prefiro - e ele também - que jogue mais no centro. Se for preciso, é uma solução que avaliamos», afirmou o técnico italiano após a vitória frente ao AFS, deixando claro que a utilização de Kiwior como lateral surge sobretudo como alternativa de recurso.

Tudo indica, assim, que Kiwior continuará a ser encarado prioritariamente como central, ficando a opção de atuar como lateral reservada para contextos pontuais e de necessidade.