MundoBola Flamengo
·9 Oktober 2025
Quem é Silvio Matos, CEO da Libra que dividiu futebol brasileiro

In partnership with
Yahoo sportsMundoBola Flamengo
·9 Oktober 2025
O Flamengo vive, hoje, imbróglio envolvendo sua participação na Libra. A nova liga busca negociar, em bloco, os direitos de transmissão, marketing e a estrutura do Campeonato Brasileiro.
Por trás disso, está Silvio Matos, CEO da Libra determinado a transformar o esporte no país, principalmente no que diz respeito a equidade entre os clubes no âmbito de receitas.
Mas os demais clubes atacam o Flamengo como uma ameaça a essa equidade. No entanto, o bloqueio conseguido pelo clube na Justiça mostra o lógico: o suposto documento assinado por Rodolfo Landim não deve aparecer.
Para entender essa briga nos bastidores, é importante conhecer a cabeça por trás da Libra. O MundoBola Flamengo traz tudo que você precisa saber sobre esse personagem que se tornou importante no futebol brasileiro.
Silvio Matos comanda a Liga do Futebol Brasileiro, ou seja, a Libra, desde a sua consolidação. Seu papel é central na construção de um novo modelo de negócios, mas a tentativa vem dando o que falar entre os clubes. São mais de três décadas de experiência no mercado de comunicação.
Silvio Matos se consolidou no setor publicitário e até viveu, estudou e trabalhou em Paris. Ele fez parte do conselho criativo global de grandes agências. FCB, Bates, Young & Rubicam e Grey são alguns nomes que aparecem no seu currículo.
Silvio Matos atuou ainda no grupo WPP, como sócio sênior. Trata-se da maior holding de comunicação do mundo. Silvio passou quase uma década nesse posto.
Na Young & Rubicam, ele ajudou a transformar a agência na maior da América Latina, faturando mais de R$ 1,5 bilhão em negócios de mídia. Em 2007, a MatosGrey Group foi fundada pelo atual CEO da Libra. A holding focava em serviços estratégicos e criativos para branding, design, e mais.
A Black2Black Festival é mais uma criação sua: um evento musical no Rio de Janeiro. Sua experiência se expandiu para o empreendedorismo nos últimos anos: se tornou membro do conselho da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Ela pertence a OHM Research, vinculada ao grupo XP.
Outra fundação de Silvio Matos foi a Matos Projects, que visava desenvolver estratégias, já iniciando sua entrada nas finanças do esporte.
Hoje na Libra, Silvio Matos conduz as negociações dos clubes brasileiros com as televisões. Ele defende a divisão de receitas televisivas em igualdade, desempenho e audiência.
Trata-se de um personagem que transita entre a comunicação e o esporte, buscando auxiliar as negociações com os grupos de mídia. Mas já se envolveu em algumas polêmicas nessa trajetória, inclusive, envolvendo o Flamengo, que hoje vive briga pública com a Libra e os clubes que aderiram ao acordo.
Em abril de 2024, Silvio Matos declarou amor ao Flamengo para convencer o clube a aceitar a proposta da Globo. O acordo, assinado pelo então presidente Rodolfo Landim, fez o Flamengo perder R$ 80 milhões por ano, com valor mínimo garantido por um contrato assinado por Bandeira de Mello, na gestão anterior a de Landim.
Na prática, são menos R$ 400 milhões em cinco anos. O contrato foi aprovado por 218 votos a favor, contra 149 rejeições e sete abstenções. Mas para isso, a votação no Conselho Deliberativo contou com lobby de Silvio Matos, que esteve presente na Gávea.
O MundoBola Flamengo, na época, obteve acesso ao áudio com as palavras do CEO da Libra, que apela para o histórico. Nascido e criado no Rio de Janeiro, ele diz ser torcedor do Flamengo.
“Antes de tudo, eu sou um flamenguista absolutamente da melhor espécie. Cresci aqui na Selva de Pedra [condomínio ao lado do Flamengo], joguei todos os esportes na tentativa de ser alguma coisa perto dos jogadores, fracassei em todos os esportes, mas joguei, nadei, joguei tênis, futebol de salão, tudo aqui na Gávea”, iniciou Silvio Matos.
Ele chegou a apelar para a história pessoal com seus filhos, que foram criados em São Paulo.
“Cresci aqui até os 20 anos, mudei para São Paulo e aí que vem minha declaração de amor ao Flamengo. Eu tive três filhos paulistas. Vocês não têm ideia do que é ter o amor que você tem pelo Flamengo, ir para São Paulo, ter três meninos estudando com aqueles caras que são são-paulinos. São palmeirenses, é uma desgraça”, disse, antes de concluir a fala prévia à defesa do contrato:
“Eu desenvolvi uma técnica que eu só assistia aos jogos Flamengo x São Paulo, Flamengo x Palmeiras, Flamengo x Corinthians com os meus filhos, primeiro tempo ao vivo o jogo real, se o Flamengo estivesse ganhando de lambada eu deixava o segundo tempo, se o Flamengo estivesse perdendo eu meteria um jogo antigo Flamengo x São Paulo, era sempre 2×1, 3×0, 4×1. No dia seguinte meus filhos iam para a escola e era só porrada. ‘Pô, seu time sifu (sic) ontem’. ‘Não, a gente ganhou 2×1.’ E assim eu criei meus filhos que hoje são absolutamente apaixonados e me abraçaram chorando em Montevidéu (na derrota para o Palmeiras na final da Libertadores em 2021)”, concluiu
A manifestação de Silvio Matos irritou alguns presentes. Ele foi chamado de "nosso amigo paulista" por um conselheiro que se mostrava contra o contrato com a Globo.
Além disso, questionou uma fala do CEO da Libra sobre o Flamengo ter sido "magnânimo", abrindo mão de direitos no contrato.
Os conselheiros também se posicionaram contra uma resposta de Silvio Matos, impedindo que ele voltasse a ter a palavra. Isso porque ela deveria, inclusive, ser restrita apenas a dirigentes e sócios do Flamengo - o que não era o caso do CEO da Libra.
Em 2022, quando a Libra ainda se formava e Silvio Matos havia acabado de ser indicado para ser o CEO, a Liga Forte Futebol (LFF) fez ressalvas.
De acordo com o jornal O Globo, ele também causou mal-estar na LFF por ser o presidente da IMM Creative Marketing.
É mais uma polêmica que aponta para Silvio Matos, já que a LFF teria alegado conflito de interesse na indicação do publicitário. Isso porque a IMM Creative Marketing é a ex-IMC, empresa que pertenceu ao conhecido empresário brasileiro Eike Batista.
O fundo Mubadala, dos Emirados Árabes, comprou a empresa, e também tinha interesse em comprar uma participação de 20% na Libra. Isso fez com que a LFF se irritasse, atrapalhando ainda mais a relação entre Libra e LFF.
No ano passado, Silvio Matos, em entrevista à CNN, falou sobre a postura do Flamengo nas negociações. Naquela altura, Rodolfo Landim era o presidente.
"O Flamengo acaba se tornando quase um mito nas conversas. O Flamengo exige isso, exige o melhor que ele pode exigir, mas, para fazer justiça, ele sempre exige aquilo que é melhor para o conjunto de clubes que hoje está na Libra”, disse o CEO da Libra.
Além disso, Silvio disse que o Flamengo foi magnânimo, o que irritou alguns conselheiros, como citado anteriormente, já que isso fez o clube deixar de receber mais do que poderia.
“O Flamengo teve uma postura magnânima ao abrir mão de determinados privilégios que o Flamengo por bem conseguiu ao longo da sua história, contratualmente, em nome do conjunto de clubes que forma a Libra. Então ele não só se tornou líder desse processo como se tornou um influenciador positivo para isso”, concluiu.
Na mesma entrevista, Silvio Matos falou também sobre o processo de criação de uma liga. Ele afirmou, no ano passado, que em algum momento, um clube poderia divergir, algo que acontece com o Flamengo de Bap.
"Não temos ainda [uma única liga]. A Libra, na verdade, ela começa originalmente com 40 clubes, 20 de série A e 20 de série B. Em um determinado momento, não há um consenso sobre as atribuições de algumas decisões que precisavam ser feitas. E naquele momento de divergência, um determinado grupo resolve refletir sobre caminhos alternativos. Absolutamente natural, isso aconteceu em todas as formações de Liga [...] então a Libra hoje representa um conjunto de clubes muito importantes no país", comentou.
Por isso, Silvio Mattos pediu que os dirigentes conversassem tranquilamente, o que não está acontecendo, principalmente, com Leila Pereira no Palmeiras.
"Cabe às lideranças de ambas as partes sentarem cada vez de uma forma mais transparente, correta, ética e tentar amarrar os pontos para que a gente possa consolidar o movimento de Liga. Se ele vai acontecer ou não vai acontecer, depende muito dessas cabeças e das suas intenções. Eu diria que hoje há um espaço mais aberto para que isso ocorra, para que a gente possa aproximar as pontas", finalizou.