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·15 November 2025

Somos Flamengo-Flamengo: 130 anos de volta às origens

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O dia 15 de novembro de 2025 marca os 130 anos de fundação do Clube de Regatas do Flamengo. Um século e três décadas desde aquele encontro de jovens remadores na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, que decidiram criar um clube para remar — sem saber que estavam lançando ao mar algo muito maior do que um barco.

Hoje, espalhados pelo mundo, milhões de flamenguistas continuam remando. Cada consulado, cada grupo, cada bandeira rubro-negra pendurada num bar distante é, de certa forma, a extensão daquela primeira travessia. É por isso que, para mim, as comemorações dos 130 anos têm um sabor ainda mais simbólico: celebrar o Flamengo, aqui em Bruxelas, é como celebrar o retorno do nome ao seu ponto de partida.


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Sim, porque o nome Flamengo nasceu de Flandres.

Pouca gente lembra que a Praia do Flamengo recebeu esse nome por causa dos flamengos — os holandeses que, depois da ocupação de Pernambuco no século XVII, acabaram se instalando no Rio de Janeiro. “Lá na praia dos flamengos”, diziam os moradores. O tempo passou, o nome ficou, e dali nasceu o clube que hoje move as nossas paixões.

Quando no mágico 2019 fundei a Fla-Bruxelas, o consulado oficial do Flamengo na capital da Bélgica, percebi o quanto essa coincidência histórica era poderosa. Estar em Flandres — a terra que deu nome ao Flamengo — é mais do que uma curiosidade geográfica; é quase um reencontro espiritual. É como se o clube estivesse completando o ciclo, voltando às suas origens, mas agora com a bagagem de sua treze décadas e glória, paixão e pertencimento.

E foi assim que entendi que o nosso consulado não é apenas mais um consulado rubro-negro: ele é o consulado Flamengo-Flamengo. Um Flamengo ao quadrado. Porque aqui, pela primeira vez, o gentílico e o sentimento se confundem — Flamengo é o gentílico de Flamengo. Somos flamengos por origem e por escolha, por geografia e por alma. Um tipo de coincidência que só o destino — e talvez o futebol — consegue escrever.

João do Rio, aquele cronista genial da Belle Époque carioca, escreveu em 1916 que o Flamengo foi “o núcleo de onde irradiou a avassaladora paixão pelos sports”. Naquela época, o esporte ainda era visto com desconfiança — coisa de jovens inquietos, de gente que preferia o sol e o mar aos salões e às academias. O Flamengo foi o clube que transformou essa rebeldia em cultura, que ensinou que o corpo também pensa, que o suor também é poesia.

É bonito pensar que, mais de um século depois, essa mesma energia atravessa oceanos.

Aqui em Bruxelas, quando a gente se reúne para assistir a um jogo — com um grupo grande de brasileiros que representam a síntese da nacionalidade rubro-negra, proveniente de muitos estados brasileiros — eu sinto que estamos refazendo, à nossa maneira, aquele gesto fundador de 1895.

Criar um clube é criar um laço, uma comunidade, um sentido de pertencimento. Um identilidade stendhaliana: o vermelho e o negro somos nós.

Walter Oaquim, ex-vice-presidente do clube, costumava dizer que sua “segunda seleção era a Holanda”, porque sem os holandeses o Flamengo não teria nome. Eu entendo perfeitamente esse sentimento. “A minha segunda seleção também é a Holanda”, dizia ele. Mas, por extensão, eu o consertaria, também, a Bélgica. Porque sem Flandres, talvez o Flamengo nunca tivesse existido. E sem o Flamengo, nós não seríamos quem somos.

Nesses 130 anos, o Flamengo tem sido muito mais do que um clube. É o espelho de um país, o abrigo das alegrias e das dores de gerações. Símbolo de superação, de resistência, de beleza popular. Voz da arquibancada, o grito do gol que estremece corações de Manaus a Tóquio, de Lisboa a Londres, do Rio a Bruxelas.

Quando o hino toca por aqui, quando o bar inteiro se levanta para cantar “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”, algo mágico acontece. O frio da Bélgica se dissolve por um instante, e parece que o sol do Rio volta a brilhar sobre nós. É como se as águas da Baía de Guanabara tocassem o Mar do Norte. Como se o barco de 1895 tivesse cruzado o Atlântico e ancorado novamente na praia dos flamengos — agora, literalmente.

Nesses 130 anos de hisória, ser Flamengo-Flamengo, em qualquer canto do planeta, é isso: seguir na correnteza da história, cruzar distâncias, produzir identidade, transformar saudade em encontro. É saber que, mesmo longe, a gente nunca deixou de estar em casa.

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