
Central do Timão
·12 settembre 2025
Corinthians declara déficit de R$ 60,2 milhões e dívida recorde no primeiro semestre; clube explica números

In partnership with
Yahoo sportsCentral do Timão
·12 settembre 2025
Na manhã desta quinta-feira, 11, o Corinthians deu detalhes de sua situação financeira ao divulgar no site oficial quatro balancetes mensais referentes a 2025, considerando os meses de março a junho. Os números revelam um descontrole das despesas do clube no primeiro semestre, com um déficit acumulado em junho de R$ 60,2 milhões – bem abaixo dos R$ 2,3 milhões de superávit orçados para o período.
Com os documentos em mãos, a Central do Timão realizou uma análise detalhada dos registros declarados pelo Alvinegro, avaliando também a evolução mensal das receitas e despesas, que suscitou alguns questionamentos que foram feitos ao clube – e respondidos, conforme será demonstrado ao final da matéria. Confira a seguir toda a análise das finanças do Corinthians no primeiro semestre do ano:
Foto: Reprodução/Corinthians
Receitas sob controle
As receitas se comportaram conforme o previsto no orçamento, aprovado em dezembro de 2024 pelo Conselho Deliberativo (CD), chegando a R$ 490,4 milhões nos seis primeiros meses do ano, apenas R$ 7 milhões abaixo do projetado. O futebol foi responsável por R$ 449,9 milhões deste total, ao passo que o clube social e esportes amadores geraram R$ 40,4 milhões. Já em relação à receita operacional líquida, ou seja, descontando impostos, o total atingido pelo Alvinegro foi de R$ 468,7 milhões.
O destaque maior para as receitas fica por conta do valor obtido com vendas de atletas, que chegou a R$ 88,6 milhões no período, representando 19% da receita operacional líquida. Já em relação às receitas recorrentes, os direitos de TV responderam pela maior fatia do total (R$ 174,4 milhões), seguido dos patrocínios (R$ 96,2 milhões) e da bilheteria (R$ 63,6 milhões). No clube social, a maior receita foi obtida com as contribuições (R$ 17,6 milhões).
Despesas não ajudaram
Por outro lado, as despesas ultrapassaram em R$ 88,5 milhões o previsto no orçamento, atingindo R$ 439,9 milhões apenas com gastos operacionais (incluindo despesas com transferências), sendo R$ 378,7 milhões do futebol e R$ 61,1 milhões do clube social e esportes amadores. Considerados também os gastos não-operacionais, que inclui juros de empréstimos e refinanciamentos (por exemplo) e atingiu R$ 89 milhões, chega-se a R$ 529 milhões em despesas, culminando nos R$ 60,2 milhões de déficit.
A maior despesa registrada foi com pessoal, batendo os R$ 298,6 milhões. O número surpreende, pois é 36% superior ao previsto no orçamento, em um contexto onde o elenco profissional contou com apenas uma contratação no primeiro semestre – o lateral Angileri, em fevereiro. Em seguida, aparecem as despesas gerais e administrativas (R$ 54,6 milhões), serviços de terceiros (R$ 37,1 milhões) e despesas com jogos (R$ 29,4 milhões).
Endividamento e Arena
Em outro trecho do balancete de junho, o Corinthians atualizou os números de endividamento bruto e líquido: R$ 2,634 bilhões e R$ 1,955 bilhões respectivamente. A dívida bruta registrou alta de 2,7% em relação a dezembro de 2024, enquanto a líquida subiu 4,6% no total. Embora sejam índices recordes, os valores representam um freio na forte alta do endividamento registrado durante o exercício de 2024.
Praticamente todo o aumento registrado diz respeito ao clube, cuja dívida bruta e líquida representa, respectivamente, R$ 1,962 bilhão e R$ 1,28 bilhão. No caso da Neo Química Arena, o valor é o mesmo em ambos os casos: R$ 675,2 milhões. O número chamou atenção, pois representa uma alta de R$ 7,2 milhões (ou 1,1%) em relação aos R$ 668 milhões declarados em dezembro de 2024.
Desempenho mês a mês
Além da leitura do balancete de junho, onde os dados do primeiro semestre estavam consolidados, a Central do Timão também analisou a evolução das receitas e despesas individualizadas mês a mês por meio da comparação dos balancetes mensais desde janeiro. A análise mostrou um cenário de instabilidade financeira, com o Corinthians alternando resultados mensais positivos e negativos durante o período.
Em janeiro, por exemplo, o Timão registrou déficit de R$ 6,2 milhões. No mês seguinte, uma injeção de mais de R$ 50 milhões em direitos de TV permitiu ao clube reverter o cenário, saltando para um superávit de R$ 12,1 milhões – resultado comemorado à época pela gestão Augusto Melo, conforme noticiou a Central do Timão nesta matéria.
Em março, as despesas cresceram além da conta, fazendo o clube fechar o primeiro trimestre no vermelho com R$ 16,4 milhões de déficit. Já em abril, a tendência foi novamente revertida, graças a R$ 58 milhões recebidos com direitos federativos, permitindo ao Alvinegro registrar seu melhor saldo acumulado, um superávit de R$ 14,9 milhões. No entanto, maio chegou e uma alta das despesas em ritmo mais acelerado do que nas receitas levou o clube a novo déficit acumulado, de R$ 12,5 milhões.
A grande surpresa, no entanto, aconteceu em junho, cujos dados individualizados acarretaram em uma grande piora do quadro financeiro do Corinthians. Tanto receitas quanto despesas registraram as menores variações mensais do semestre: 10% e 16% respectivamente. No entanto, o resultado não-operacional subiu 46%, puxado fortemente pela alta nos gastos com juros e encargos de refinanciamento, fazendo o déficit acumulado saltar para os R$ 60,2 milhões já citados anteriormente.
Mudança de formato
A análise mês a mês também gerou algumas dúvidas durante a produção da matéria, provocadas especialmente por uma peculiaridade sobre a formatação dos balancetes, que seguia um padrão único entre janeiro e maio para, em junho, mudar totalmente. No entanto, a alteração não foi apenas estética, incluindo também mudanças de entendimento na reclassificação de algumas despesas do Corinthians.
Isso provocou algumas inconsistências que inviabilizou a comparação linha a linha das despesas do clube durante todo o semestre. As despesas com o futebol (jogos e viagens), por exemplo, estava acumulada em R$ 54,2 milhões em maio, valor que recuou para R$ 29,4 em junho – tal recuo é tecnicamente impossível, pois trata-se de um valor acumulado, que só pode aumentar conforme o passar dos meses.
O mesmo ocorreu com as despesas de depreciação e amortização, cujo acumulado caiu de R$ 42,3 milhões para apenas R$ 5,1 milhões no mesmo período (maio e junho). Por outro lado, duas linhas anotaram aumentos muito acima da média: as despesas gerais e administrativas, que triplicaram (de R$ 18,4 milhões para R$ 54,6 milhões), e as despesas com pessoal, que subiu de R$ 217,5 milhões para R$ 298,6 milhões.
Explicações do Corinthians
A Central do Timão procurou, então, o clube, questionando o que motivou a mudança de formato do balancete em junho, causando as reclassificações de despesas; qual a explicação para o salto no déficit acumulado de maio para junho; porque a dívida do Corinthians com a Caixa Econômica pela Neo Química Arena subiu no período, a despeito das amortizações promovidas pela campanha Doe Arena Corinthians; e se o clube faria uma revisão orçamentária – obrigatória por estatuto, mas que não foi feita pelo ex-presidente Augusto Melo em 2024.
Todas as perguntas foram respondidas. Em relação à mudança no formato do balancete em junho, o Corinthians explicou que a motivação foi a necessidade de apresentar “informações gerenciais” necessárias para a análise do fechamento trimestral, como o comparativo entre valores orçados e realizados e gráficos do endividamento.
Além disso, detalhou quais reclassificações foram feitas: despesas de amortização de direitos econômicos foram incluídas em despesas de pessoal; despesas de logística foram reclassificadas como despesas administrativas (demonstradas como “Futebol” no balancete contábil; e despesas de jogos, apresentadas como “Futebol” em maio, foram apresentadas em rubrica especifica no mês seguinte.
O clube ressaltou que tais reclassificações não afetam o resultado final do exercício. No entanto, é importante pontuar que elas acabam por afetar a análise da evolução mensal das despesas individualizadas, pois não há mais base de comparação. Dessa forma, é impossível definir, por exemplo, quantos dos R$ 298,6 milhões registrados como gastos com pessoal representaram uma alta em relação aos R$ 217,5 milhões de maio, e quanto do valor é, na verdade, proveniente de outras rubricas, reclassificadas.
Já sobre a variação do déficit de maio para junho, o clube ofereceu um detalhamento do que provocou o salto negativo. Segundo o Alvinegro, R$ 5 milhões são referentes à diferença entre as receitas e despesas correntes para manter o clube em atividade. Outros R$ 5 milhões representam reconhecimento da gestão a “outras despesas não reconhecidas em períodos anteriores”.
R$ 8 milhões foram gastos com a quitação de acordos e rescisões ocorridas no período com o reconhecimento das verbas rescisórias e de outros elementos (como luvas de atletas não pagas). Por sua vez, outros R$ 18 milhões dizem respeito ao reconhecimento, pelo clube, de encargos sobre dívidas não registradas anteriormente. A resposta do clube não especificou de que gestão anterior se originam estas despesas e encargos não registrados nem reconhecidos até então.
Os R$ 12 milhões restantes fazem referência, segundo o clube, a uma receita de bilheteria não realizada em junho, devido à paralisação dos jogos por conta do Mundial de Clubes da FIFA. A justificativa chamou atenção, pois a aprovação do orçamento alvinegro ocorreu um mês após a CBF anunciar o calendário de 2025, já prevendo a pausa em junho. Além disso, a bilheteria acumulada no semestre foi apenas R$ 2,3 milhões inferior ao orçado. Diante disto, a Central do Timão replicou o clube, fazendo estas ponderações, e aguarda retorno, que será detalhado nesta matéria, por meio de uma atualização.
O Corinthians também explicou que a dívida da Neo Química Arena registrou aumento de R$ 7,2 milhões no semestre pois as amortizações no saldo devedor acontecem trimestralmente, por meio dos quatro pagamentos anuais feitos pelo clube à Caixa, conforme prevê o atual acordo com o banco. Segundo o Timão, os demonstrativos financeiros de julho já refletem os pagamentos realizados, colocando a dívida do estádio na casa dos R$ 645 milhões.
Por fim, o clube informou que a revisão orçamentária está “sob revisão dos órgãos fiscalizadores” e será publicada nos canais oficiais assim que tal análise for concluída. A Central do Timão apurou que o órgão citado é o Conselho de Orientação (CORI), que vem analisando os números das finanças do Corinthians nas últimas semanas.
Veja Mais:
Viva a história e a tradição corinthiana no Parque São Jorge. Clique AQUI e garanta sua vaga!
Sexta e sábado: 10h15 | 12h | 14h45Domingo: 9h20 | 11h | 13h50
Live