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·16 settembre 2025

Em 2020, minutos – e o PSG – separaram a Atalanta de inédita semifinal da Champions League

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“Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu”: a frase do escritor colombiano Gabriel García Márquez serve para muitas situações, inclusive para a trajetória europeia da Atalanta em 2019-20, que foi encerrada após uma derrota cruel para o Paris Saint-Germain, nos acréscimos, por 2 a 1, nas quartas de final daquela Champions League. O sonho de alcançar a semifinal do maior torneio de clubes da Europa justamente em sua temporada de estreia na competição para dar um pouco de alegria a uma Bérgamo castigada pela covid-19 não se concretizou, mas a semente para o sucesso continental da Dea foi plantada.

A temporada 2019-29 marcou o debute da Atalanta na Champions League e foi, também, a mais atribulada da história do futebol mundial, já que a pandemia de covid-19 obrigou o esporte a parar por meses. Como resultado do terceiro ano da gestão de Gian Piero Gasperini, a Dea foi terceira colocada na Serie A – além de vice-campeã da Coppa Italia – e, devido a seu melhor posicionamento já obtido no Campeonato Italiano, se classificou para a competição continental.


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Como estava reformando o seu estádio e, portanto, não tinha uma casa que obedecesse às normas da Uefa para sediar partidas da Champions League, a Atalanta entrou num acordo com Inter e Milan para mandar seus jogos internacionais em San Siro. Naquele peculiar ano de 2019-20, a Dea vivia iniciou a campanha de forma dramática: três derrotas consecutivas contra Dinamo Zagreb, Shakhtar Donetsk e Manchester City – este, uma goleada por 5 a 1 – pareciam condenar os nerazzurri à eliminação precoce no Grupo C e, para muitos, mostravam que os orobici ainda precisariam comer muito feijão com arroz para disputarem com os grandes de igual para igual.

Entretanto, a equipe de Gasperini encontrou forças para reagir, empatou com os Citizens e depois venceu os dois últimos compromissos, garantindo um improvável segundo lugar no Grupo C – avançou ao histórico mata-mata com 7 pontos, enquanto os ingleses, treinados por Pep Guardiola, somaram o dobro. Nas oitavas em sua temporada como estreante, a Atalanta protagonizou um confronto histórico com o Valencia: vitória por 4 a 1 em San Siro, diante de uma massa de torcedores de Bérgamo, e nova vitória por 4 a 3 na Espanha, com direito a todos os gols anotados pelo xodó Josip Ilicic, selando uma classificação épica com 8 a 4 no agregado.

Enquanto a Atalanta chegava às quartas baseada na força do trabalho coletivo, o endinheirado PSG se escorava em craques, como Neymar (Getty)

A partida de ida das oitavas, no entanto, ficaria tristemente conhecida como “bomba biológica”. Afinal, autoridades públicas e especialistas em saúde consideram que o embate entre italianos e espanhóis em Milão, realizado em fevereiro de 2020, foi um evento-chave para acelerar a propagação da covid-19 na Lombardia. Nenhum caso da doença havia sido confirmado em Bérgamo até então, mas cerca de um terço da população da cidade se mobilizou para viajar até a vizinha Milão para assistir ao duelo no Giuseppe Meazza – outros tantos se reuniram para ver o jogo pela televisão. Semanas depois, a comuna registrava crescimento exponencial de exames positivos, e até o técnico Gasperini foi um dos contaminados; assim como 35% do elenco do Valencia. Em março, a volta, no Mestalla, já foi disputada com portões fechados.

Do outro lado da chave nas quartas aparecia o Paris Saint-Germain, que cumpria com sobriedade a sua campanha europeia. Classificado para a competição na qualidade de campeão da Ligue 1, o time de Thomas Tuchel, Neymar, Kylian Mbappé e companhia liderou o Grupo A de forma incontestável, sem derrotas – e deixando para trás o Real Madrid, que também avançou facilmente, e os sparrings Club Brugge e Galatasaray. Nas oitavas, após perder por 2 a 1 para o Borussia Dortmund no Signal Iduna Park, virou a eliminatória em casa com triunfo por 2 a 0, assegurando um lugar nas quartas.

Como o futebol europeu parou em março, Atalanta e PSG só foram se encontrar em agosto, quando a situação ficou um pouco mais controlada em alguns países – como Portugal, que sediou o “final eight” da Champions League. Nesse meio tempo, Bérgamo foi dizimada pela doença, sofreu com o colapso dos sistema de saúde e funerário, e chorou milhares de mortos, muitos dos quais sendo transportados em cortejo de veículos militares para outras províncias.

Assim, em Lisboa, no peculiar formato de jogo único em campo neutro imposto pela pandemia, franceses e italianos se encontraram, com portões fechados. A improvável Atalanta simbolizava esperança e alegria, oferecendo aos resilientes bergamascos um raro motivo para sorrir no momento mais sombrio de sua história recente, enquanto o bilionário Paris Saint-Germain chegava em busca de uma afirmação continental que justificasse os robustos investimentos do governo do Qatar no clube.

Em Lisboa, Pasalic abriu o placar para a Dea ainda na etapa inicial (Getty)

Quando entraram em campo na noite de 12 de agosto de 2020, os jogadores da Atalanta não jogavam apenas por eles, por seu treinador e pela sua torcida. Eles eram empurrados pelo sonho de redenção de Bérgamo e atuavam para honrar quatro temporadas de muito planejamento, grandes ideias, boa execução e uma mudança de patamar tão surpreendente quanto esperada. Pelo caminho, entre uma vitória e a vaga entre os quatro melhores times do continente, estava o PSG, com toda sua fortuna e seus craques, como os já citados Neymar e Mbappé.

Sem poder contar com o goleiro Pierluigi Gollini, lesionado, e com Ilicic, que estava lidando com problemas pessoais ligados à depressão crônica, Gasperini escalou sua formação mais próxima ao time ideal utilizado em toda a temporada. Marco Sportiello assumiu a vaga debaixo das traves e Mario Pasalic, o 12º jogador da equipe, ficou responsável por encostar em Duván Zapata no comando do ataque. Por sua vez, o Paris não tinha Marco Verratti, Ángel Di María, Thomas Meunier e Layvin Kurzawa – além de Edinson Cavani, que deixara o clube em fim de contrato, durante a pausa forçada pela covid-19. Mbappé começava no banco, por conta da lesão que sofrera na final da Copa da França, ante o Saint-Étienne.

O jogo começou dentro do esperado, com o PSG tendo mais a bola e a Atalanta pressionando alto, com muita agressividade e intensidade. Logo aos 2 minutos, a Dea teve sua primeira oportunidade, com Remo Freuler ativando Zapata no bico da grande área pelo lado esquerdo. O colombiano arrastou Thiago Silva com ele e Alejandro “Papu” Gómez atacou as costas de Marquinhos para receber a bola e finalizar para boa defesa de Keylor Navas. Logo na sequência do lance, o Paris conseguiu superar os encaixes da Dea: Mauro Icardi recebeu de costas para Mattia Caldara na zona central e passou para Neymar, que saiu cara a cara com Sportiello, mas desperdiçou chance clara ao finalizar para fora.

O jogo continuou num ritmo muito alto, com a Atalanta mantendo sua ideia de marcação por encaixes e perseguições longas, o que limitou o PSG por um lado – visto que Tuchel entrou com um meio-campo de maior força física, com Marquinhos, Idrissa Gueye e Ander Herrera, tendo de abrir mão da capacidade criativa. Sob outra perspectiva, permitiu que Neymar tivesse muitos duelos de mano a mano contra Caldara, que jamais conseguiu controlar o camisa 10 brasileiro. Dentro desse ritmo frenético, aos 11 minutos Gómez recebeu na entrada da área, levantou a cabeça e colocou a bola na cabeça de Hans Hateboer, que cabeceou para uma defesa espetacular de Navas.

Numa atuação de menor brilho e muito sacrifício, Gómez acabou deixando o campo por problemas físicos (Getty)

O cenário do jogo permaneceu o mesmo por toda o restante da primeira etapa: tínhamos uma Atalanta que conseguia incomodar a saída de bola do PSG, levar vantagem na maioria dos embates individuais e ser melhor em campo nos aspectos coletivos. Mas se a equipe francesa tinha muita dificuldade para sair jogando e contava com pouco suporte criativo do seu meio-campo, Neymar foi brilhante em suas participações – o camisa 10 teve noite indecifrável para o sistema defensivo da Dea. Recebia jogo direto, acumulava muitos dribles e oferecia muita fluidez ofensiva para seu time. Para a sorte dos nerazzurri, se estava muito bem gerando jogo, o craque do Paris falhou nas três oportunidades de finalização que teve nos 45 minutos iniciais.

Dentro desse contexto, o lance capital da primeira etapa aconteceu aos 26 minutos, quando Zapata recebeu a bola de costas para Presnel Kimpembe e tentou girar, mas foi desarmado. Contudo, Duván venceu o pé de ferro e a bola sobrou na medida para Pasalic finalizar de chapa, no ângulo superior esquerdo, vencendo Navas e fazendo 1 a 0 para a Atalanta. Neymar tentou dar a resposta de imediato, numa jogada individual: canetou o autor do gol italiano, carregou e chutou de fora da área, assustando Sportiello. Se a sua grande jogada por pouco foi recompensada, perto do intervalo, o brasileiro erraria feio: recebeu um presentão de Hateboer, mas desperdiçou a ocasião ao disparar um arremate torto.

Quando as duas equipes foram para o intervalo, a Atalanta estava a 45 minutos de confirmar sua classificação para as semifinais da maior competição de clubes do mundo e continuar vivendo sua temporada dos sonhos. O panorama era positivo, já que – apesar do excelente jogo de Neymar – o duelo tático estava sendo vencido por Gasperini e o começo do segundo tempo ajudou a reforçar essa sensação de que era possível. O PSG de Tuchel voltou repetindo os mesmos erros e a Dea conseguia bloquear as tentativas de criação do time de Paris, se utilizando de faltas, de intensidade e de seu entrosamento.

Mbappé foi a campo aos 60 minutos, mas nem mesmo a entrada da joia francesa, com toda sua velocidade e capacidade de atacar os espaços, teve como resultado deixar o jogo de sua equipe mais confortável. Esse cenário começou a mudar apenas aos 72, quando Tuchel – já sem muita alternativa – trocou Gueye e Herrera por Jürgen Draxler e Leandro Paredes. O time parisiense perdia capacidade física, mas conseguia ajuda para Neymar no setor de criação. Com poucos minutos em campo, o argentino achou um passe vertical belíssimo nas costas de Caldara e o brasileiro teve mais uma chance para empatar a partida.

Esgotada, a Atalanta viu o seu sonho ruir a poucos minutos do fim: Marquinhos iniciou a reação do PSG (AFP/Getty)

Nesse momento, Gasperini já tinha Luis Muriel e Ruslan Malinovskyi nos lugares de Pasalic e Gómez – este último, a propósito, saiu lesionado. Diferentemente do que foi habitual em toda aquela temporada, os dois reservas de luxo do treinador pouco conseguiram agregar ao time. Além disso, como Zapata era bem controlado por Thiago Silva, a Dea foi perdendo mais e mais sua profundidade e poder de fogo, deixando os rivais confortáveis para se soltarem em busca do necessário gol do empate.

O recuo não foi uma estratégia de Gasperini. Não ocorreu como forma de armar uma retranca para segurar o placar, mas sim por conta do esperado cansaço de uma equipe que jogou 14 partidas espremidas em cerca de um mês e meio, em pleno verão europeu, após a retomada da Coppa Italia e da Serie A – competições que foram encerradas antes da disputa europeia. A situação produziu um enorme contraste com o condicionamento físico do PSG, que não jogava desde março, quando o Campeonato Francês foi suspenso, por conta da pandemia. A Ligue 1 foi dada por encerrada em abril, já que a França proibiu manifestações esportivas em seu território até setembro.

Aquela Atalanta dependia totalmente de concentração e intensidade para se defender com destreza, e o desgaste físico a prejudicava em ambos os fronts. A partida tinha muita importância por si só – era o jogo mais significativo da história nerazzurra – e o estresse adicional de ter de marcar uma equipe muito qualificada tecnicamente cobrou um preço para a Dea. Para piorar, Freuler sentiu uma fisgada na parte posterior da coxa após o time bergamasco ter feito suas cinco substituições e teve de ficar em campo apenas para fazer número. Antes disso, a escassez de opções de banco obrigara Gasperini a lançar mão de Jacopo Da Riva, que tinha 19 anos e apenas poucos minutos como profissional – contra o PSG, o meia faria sua segunda e última partida pelos orobici, passando a perambular pelas divisões inferiores da Itália em seguida.

Coube a Eric-Maxim Choupo-Moting sair do banco para estar presente nos dois gols que deram a vitória e a classificação ao PSG. Aos 90, o camaronês recebeu pelo lado direito, cortou para o centro do campo e, com a perna esquerda, achou um lindo passe por elevação para Neymar. O brasileiro bateu prensado na bola, mas acabou achando o compatriota Marquinhos, que completou para o fundo da rede. Menos de 180 segundos depois, o atacante brasileiro recebeu pelo lado esquerdo, levantou a cabeça e achou um passe de cinema para Mbappé, que atacou as costas de José Luis Palomino e rolou para Choupo-Moting virar a partida. Ambos os gols ocorreram na pequena área, muito mal ocupada por Icardi durante 79 minutos.

Nos acréscimos, uma grande jogada de Neymar e Mbappé terminou no gol de Choupo-Moting e na eliminação da Dea (Getty)

Era um castigo muito grande para uma equipe que estava com a vaga na mão até os 45 minutos do segundo tempo. Um castigo muito grande para uma formação que foi superior em termos coletivos por mais de uma hora. Mas também um alerta de que por mais que o trabalho de grupo da Atalanta fosse qualquer coisa de espetacular, o seu elenco poderia ser um pouco mais profundo. Ainda serviu de lembrete: ter um extraclasse como Neymar (naquela versão) sempre deixa o seu time um ou dois passos à frente dos demais.

Mesmo falhando em finalizações importantes e sem receber o suporte ideal em boa parte do jogo, o brasileiro jamais deixou de tentar – de novo e de novo e de novo. O atacante terminou a partida com 16 dribles completados, cinco passes para finalização e uma assistência. E isso tudo diz muito sobre a grandeza daquela equipe da Atalanta e sobre como Bérgamo tinha motivos de estar orgulhosa desse grupo. Nas quatro temporadas anteriores ao duelo, a Dea gastou aproximadamente 170 milhões de euros em contratações, enquanto o PSG, apenas com Neymar e Mbappé, desembolsou um montante de 400 milhões. O salário do craque verde e amarelo, aliás, era superior a toda a folha nerazzurra.

O início desse texto poderia ter sido inspirado num escritor italiano, mas recorremos a um clichê colombiano, vindo da prateleira dos maiores ícones da literatura mundial – o que pode não ser tanta coincidência, visto a idolatria que os cafeteros Muriel e Zapata construíram na Atalanta, chegando ao grupo dos maiores artilheiros da equipe. Ao fim dele, repetimos: “não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu”.

O que Gasperini realizou com essa Atalanta e o que esse grupo entregou em contrapartida foi algo que sua torcida e todos os fãs do futebol italiano jamais irão esquecer. Sobretudo por ter ocorrido num ano tão duro para Bérgamo e a Itália, assoladas pela covid-19. O sonho da Dea foi interrompido pelo Paris Saint-Germain, que terminaria como vice-campeão ao perder para o Bayern de Munique na final. Mas continuou com um time mais experiente e cascudo, potencializado por um trabalho duradouro e bem feito, que foi recompensado com outras campanhas históricas na Serie A e na Coppa Italia, além de novas vagas na Champions League. E, principalmente, com o inédito título da Liga Europa, em 2024, com vitória sobre um (até então) imbatível Bayer Leverkusen.

Atalanta 1-2 Paris Saint-Germain

Atalanta: Sportiello; Rafael Toloi, Caldara, Djimsiti (Palomino); Hateboer, De Roon, Freuler, Gosens (Castagne); Pasalic (Muriel), Gómez (Malinovskyi); Zapata (Da Riva). Técnico: Gian Piero Gasperini. Paris Saint-Germain: Navas (Rico); Kehrer, Thiago Silva, Kimpembe, Bernat; Gueye (Paredes), Marquinhos, Herrera (Draxler); Sarabia (Mbappé), Icardi (Choupo-Moting), Neymar. Técnico: Thomas Tuchel. Gols: Pasalic (26′); Marquinhos (90′) e Choupo-Moting (90 + 3′) Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra) Local e data: Estádio da Luz, Lisboa (Portugal), em 12 de agosto de 2020

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