Zerozero
·17 dicembre 2025
José Boto vs Luís Campos: final da Intercontinental foi construída em bom português

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·17 dicembre 2025

É já esta quarta-feira, pelas 17 horas de Portugal Continental, no Catar, que se joga a grande final da Taça Intercontinental, que coloca frente a frente o PSG, vencedor da última edição da Liga dos Campeões, e o Flamengo, vencedor da última edição da Libertadores. E o que têm em comum estes dois clubes? Além do sucesso desportivo recente, uma construção feita...em português.
Poderíamos estar aqui a falar dos muitos atletas de elite que o PSG tem, com o grupo composto por Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e Gonçalo Ramos. Ou poderíamos falar da qualidade dos brasileiros que o Flamengo tem. Mas vamos um pouco mais longe, no caso até quem trabalha na construção dos plantéis e no crescimento dos clubes.
É aí que os dois clubes coincidem: ambos têm um português no centro de operações da planificação e construção dos respetivos plantéis. Falamos claro de José Boto, diretor desportivo do Flamengo, e de Luís Campos, em tempos diretor desportivo e agora consultor do PSG.
Dois portugueses a liderar dois dos clubes de maior sucesso atualmente no mundo.
Comecemos por Luís Campos. O dirigente - relembre a reportagem na qual o zerozero foi conhecer as suas origens -, agora com 61 anos, é reconhecido como um dos melhores do mundo nas suas funções e o seu currículo fala por si. Foi treinador - principal e adjunto - durante largos anos em Portugal, mas foi mais longe dos relvados que começou verdadeiramente a destacar-se.
Passou por clubes como Celta de Vigo, Galatasaray e até Real Madrid (como observador), mas o Monaco foi o clube que o atirou para as luzes da ribalta. Falamos claro daquele surpreendente Monaco de Leonardo Jardim, que lançou para os holofotes da fama um tal de Kylian Mbappé, desenvolveu nomes como Fabinho e Bernardo Silva e 'mordeu imenso os calcanhares' ao poderio interno do PSG.
Mordeu de tal forma que, anos mais tarde, Luís Campos juntou-se mesmo aos milionários parisienses. Em 2022/23, foi atribuída ao dirigente a missão de gerir a famosa equipa que contava com Lionel Messi, Neymar, o «seu» Mbappé e até Sergio Ramos. Sim, aquela constelação de estrelas de quem se esperava tudo, mas que acabou por falhar o objetivo principal: a conquista da Liga dos Campeões.
Esse acabou por ser o «ano zero» de Luís Campos. Apesar de colecionar astros no plantel, o dirigente começou a mudar, pouco a pouco, a filosofia do clube, trazendo nomes como Vitinha, Nuno Mendes e Fabián Ruiz. Era a base da estrutura que tanto sucesso teve na época passada.
Na temporada seguinte, a filosofia mudou definitivamente. O PSG abandonou aquela procura incessante pelas grandes estrelas, que marcou o clube na última década e meia e fez mexer centenas de milhões de euros, e começou a construção de uma identidade distinta. Começou pela nomeação de Luis Enrique como treinador, saíram Neymar, Messi e Sergio Ramos - além de nomes como Draxler e Verratti - e a renovação do plantel continuou.
Não é que os milhões gastos tenham propriamente diminuído. Pelo contrário. 380 milhões gastos em 2023/24, 310 em 2024/25 e 103 milhões (até ao momento) em 2025/26. O que mudou, sim, foi o perfil dos jogadores procurados. Atletas jovens, com potencial e com um perfil mais direcionado para o trabalho coletivo, isto para ir ao encontro à filosofia imposta por Luis Enrique (eis a análise à sua forma de jogar).
O sucesso fala por si. A nível interno, desde a chegada de Luís Campos ao projeto, o PSG só não conquistou um dos nove títulos disputados- Taça de França de 2022/23. Mas isto, na verdade, é o esperado de um clube como este.
O que mudou foi o sucesso europeu e internacional. Após o fracassos de 2022/23, chegaram às meias finais em 2023/24 e conseguiram a tão aguardada orelhuda na época passada. O coletivo valorizou as individualidades e os seus jogadores estão, agora, constantemente na luta pelos maiores prémios. Dembélé acabou mesmo por conquistar a Bola de Ouro; elementos como Nuno Mendes e Vitinha surgem na corrida para a próxima.
Do outro lado temos José Boto. Também começou como treinador, embora de forma mais modesta, e também cedo se «mudou» para outras responsabilidades. Mesmo mais afastado dos relvados, continuou a ter impacto na gestão e no sucesso dos clubes.
Foi aí que iniciou a vida ligado ao scouting do Benfica, em 2007/08. E que vida. Apesar de o sucesso desportivo nem sempre ter sido alcançado, a verdade é que o sucesso financeiro em muito se deveu ao trabalho de José Boto e da sua equipa, que ajudaram o Benfica a descobrir futuras figuras do futebol mundial.
Ederson, Jan Oblak, Ángel Di María, Lindelof, Axel Witsel, Nemanja Matic, Ramires, David Luiz, Luka Jovic, Lazar Markovic. Todos jogadores contratados durante os dez anos em que foi scout - e coordenador do scouting, a certa altura - do Benfica e que deram muitos milhões ao clube.
«Muitas vezes, é tão importante quem trazes como quem impedes o teu clube de trazer. Gastar dinheiro com olheiros é economizar dinheiro no final. Também somos o contraponto para as ideias de treinadores que querem trazer os "seus" jogadores e protegemos o clube da influência de empresários. Temos de evitar contratar por contratar», afirmou, recentemente, numa entrevista ao AS.
De seguida, teve também um impacto gigante nos ucranianos do Shakhtar Donetsk, bem espelhado pelo desenvolvimento e venda de Mykhailo Mudryk ao Chelsea, em 2022/23, por 70 milhões de euros- a maior venda de sempre do futebol ucraniano.
Nos últimos anos, teve passagens mais modestas pelo PAOK (Grécia) e Osijek (Croácia), mas o seu histórico foi mais do que suficiente para o Flamengo, há um ano, apostar na sua contratação para novo diretor desportivo do clube. O sucesso foi imediato.
Financeiramente, os clubes brasileiros vivem uma fase de muito investimento interno e o Mengão aproveitou para trazer nomes como Jorginho, o ex-FC Porto Danilo, Saúl Ñíguez, Emerson Royal ou os maiores investimentos deste ano: Samuel Lino (22 milhões de euros) e Jorge Carrascal (12,5M). Mas talvez a maior e mais bem sucedida aposta tenha sido a permanência e paciência no processo do técnico Filipe Luís.
Tal como o seu compatriota, o sucesso fala por si. Campeões cariocas, campeões brasileiros, vencedores da Supercopa Rei e vencedores da mítica Libertadores, frente ao Palmeiras, de Abel Ferreira (0-1). Que ano do Flamengo. Que ano para José Boto.
Agora na final da Intercontinental, quem levará a melhor: Luís Campos ou José Boto?









































