O «menino tímido» que nasceu como refugiado: a história de Samu Aghehowa | OneFootball

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·27 settembre 2024

O «menino tímido» que nasceu como refugiado: a história de Samu Aghehowa

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O início prolífero de Samu no FC Porto vai justificando o maior investimento da nova Era AVB. Aos 20 anos, o avançado já valeu pontos e vai impressionando pelo poderio que apresenta nos vários momentos do jogo.

Embalado pelo arranque promissor, o zerozero foi conhecer as origens do espanhol e conversou com Fernando Almeida e Alberto Soro, antigos colegas de equipa.


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Samu Aghehowa [o apelido Omorodion deixou de entrar no nome desportivo] - quatro golos em quatro jogos, 270 minutos carregados de boas promessas.

Da Nigéria a Melilla por um futuro melhor

A história de superação de Samu começou ainda antes de nascer. Edith, a mãe, deixou a Nigéria e passou a fronteira espanhola sozinha, grávida de oito meses e com um só objetivo: proporcionar uma vida melhor ao filho.

Samuel Omorodion Aghehowa nasceu em Melilla, enclave espanhol situado ainda no continente africano, colado a Marrocos e ao Mar Mediterrâneo. Esta pequena cidade é a porta de entrada para a Europa de muitos outros africanos, em busca de melhores condições. Não raras vezes, em busca da sobrevivência.

«Passámos por momentos muito difíceis, mas tive uma mãe que deu tudo por mim. Sou muito grato pela mãe que tenho, ela sempre lutou pelo nosso bem-estar e, graças a Deus, chegou a recompensa por todo esse sofrimento», disse Samu em março deste ano, ao El Larguero.

Em Melilla, o pequeno - que sempre foi grande - Samu viveu num centro de acolhimento para refugiados durante oito anos, antes de se mudar com a mãe para Sevilha. Na Andaluzia encontrou abrigo no Bairro de La Macarena, zona marcada pelo contraste do turismo com a pobreza. Aí, começou a dar os primeiros passos no futebol organizado, depois de passar pelo, sempre tão enriquecedor, futebol de rua.

«Diziam que não tinha classe»

O agora avançado do FC Porto começou a jogar no Sevilla, mas foi dispensado após um ano e seguiu para o pequeno AD Nérvion. Nesse clube de bairro, onde jogou dos 12 aos 16 anos, tornou-se uma máquina goleadora. O modesto clube sevilhano, perante as dificuldades do jovem, até incluiu um bónus monetário para ajudar Samu a pagar o autocarro para os treinos: por cada golo marcado, o Nérvion dava-lhe cinco euros.

«Ele marcou sempre 25/30 golos por época. As pessoas viam-no e diziam: 'Mas como ele consegue marcar tanto?' Não sabemos o que ele tem, mas ele tem», confessou Javi Lopéz, treinador na formação, ao Relevo.

Apesar disso, em Sevilha, foi sempre mais um. Era um rapaz vistoso, pela altura imponente e capacidade física invulgar para a idade, mas nunca foi resgatado pelos dois grandes clubes da cidade: Bétis e Sevilha. «Diziam que ele era um menino alto, mas que não tinha classe. Sei que o Sevilla se arrependeu de não tê-lo contratado antes de ir para Granada», afirmou Cristo Toro, outro antigo treinador de Samu no Nérvion.

«Mãe, vais poder deixar de trabalhar, vou assinar pelo Atleti»

Sem a atenção dos maiores, o futuro passou por Granada. Ainda na Andaluzia, a cerca de três horas de casa, Samu seguiu o seu caminho num clube mais conhecido, profissionalizado e com melhores condições para o seu desenvolvimento. O resultado? Evolução técnica (e "estética") e um aprimoramento físico.

Uma época de júnior, uma de equipa B e um boom enorme na própria reputação do jogador. Ao início da terceira temporada nos Nazaríes, a estreia na equipa principal e logo com golo. No Wanda Metropolitano, Samu marcou ao Atlético e, uma semana depois... voilá! Os colchoneros deixaram seis milhões nos cofres do Granada e o avançado seguiu por empréstimo para o Alavés, onde acabou por fazer mais oito golos na Liga Espanhola.

«Não contámos nada à minha mãe sobre o Atlético de Madrid até ao dia anterior à oficialização. Quando tudo já estava feito, liguei-lhe e disse: 'Mãe, vais poder deixar de trabalhar, vou assinar pelo Atleti'. Ela estava no trabalho e começou a gritar, não se acreditava», revelou Samu.

Apesar do empréstimo bastante proveitoso no País Basco, o possante avançado não teve espaço no xadrez de Cholo Simeone, sendo que a política de transferências do clube colchonero também foi reajustada. Julián Álvarez, Connor Galhagher, Sorloth e Le Normand justificaram um gasto de quase 200 milhões de euros, levando à necessidade de vender Samu para equilibrar a balança monetária.

«Possante, vertical e rápido»

Na busca por alguém que conseguisse explicar o fenómeno-Samu, encontrámos Fernando Almeida, jogador do Beira-Mar, que privou de perto com o bom gigante. Há duas temporadas, cruzaram-se na equipa secundária do Granada e fomentaram uma boa amizade.

«É uma pessoa muito sociável, que se integra bem no grupo e com os colegas. Criámos bons laços e mantivemos sempre contacto. Desde a chegada dele ao Porto fomos falando mais, tentei passar-lhe algumas coisas, como seria recebido, como era o clube», começou por dizer Fernandinho, como é conhecido no futebol.

Sobre os tempos em Granada, a resposta é perentória: apesar de ser muito jovem, já lhe reconhecia o potencial para chegar a este nível.

«Demonstrava um grande potencial para aquilo em que se veio a tornar. Era um avançado muito possante, vertical e rápido, que tem um faro de golo muito forte. Vi de perto como ele trabalhava e, de facto, fazia de tudo para agora estar a este nível», disse Fernando, acrescentando que vê esta experiência do amigo com «grande entusiasmo e positivismo».

Como central/médio defensivo, o jovem português bateu muitas vezes de frente nos treinos do Granada: «Era muito difícil travá-lo. Qualquer espaço ou desatenção eram fatais. Ele aproveitava sempre para criar perigo. Muito intenso e potente, à sua imagem.»

Agora no Beira Mar, Fernandinho conta com 11 anos de FC Porto no currículo, desde os oito anos até ao fim da sua formação. Como um conhecedor amplo do clube, aponta para o sucesso de todos os envolvidos. «Conheço bem a casa e acho que o Samu está no sítio certo para crescer e cimentar o seu futebol. Vai crescer muito, dar muito de si ao clube e vai acabar por ser uma boa fusão para as duas partes.»

«Projeto de jogador de topo»

Também Alberto Soro coexistiu em Granada com Samu. O espanhol, que na temporada passada disputou a Primeira Liga pelo Vizela, falou ao zerozero sobre as primeiras impressões que teve de um jogador que se «transforma dentro do campo».

«Recordo-me dele quando chegou à equipa principal do Granada. Era um miúdo muito tímido, mas em campo toda essa timidez desaparecia. Desde o primeiro dia em que treinou connosco vimos que estava ali um projeto de jogador de topo e agora tem conseguido confirmar isso», confessou o extremo espanhol.

Sobre o aparecimento do ponta de lança na equipa principal, Soro diz que a primeira impressão encantou: «Esteve na equipa filial, no Granada B, e começou a treinar acima a meio da época. Acho que surpreendeu a equipa técnica, porque era mesmo bom para o nível que vinha a jogar. Na temporada seguinte ficou logo na equipa A e começou como titular.»

Um ano em Portugal bastou para o ex-Vizela conhecer os pontos fortes da competição, aos quais acha que Samu se enquadra na perfeição. «Joguei na Liga Portuguesa e, pelas características, acredito que vá fazer coisas boas no Porto. É um campeonato muito forte, de procurar o espaço e ganhar segundas bolas. Também há várias ações na área. É forte em todos esses aspetos e tenho a certeza que vai continuar a fazer mossa em Portugal.»

Para já, toda a amostra tem sido perfeita: um golo a casa 50 minutos e três jogos seguidos a faturar. Será Samu a cara do novo Porto de Vítor Bruno?

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