Pior classificado interno a levantar troféu europeu? <i>United</i> e <i>Spurs</i> lutam por feito inédito | OneFootball

21 de maio de 2025. O dia de todas as decisões para Tottenham e Manchester United.

314 dias depois - e com 268 jogos disputados na bagagem -, a cortina da Liga Europa encerra-se esta quarta-feira, no mítico estádio San Mamés, com o tão aguardado duelo entre Spurs e Red Devils.

É certo que a final da Liga Europa - ou de qualquer prova europeia - representa sempre um momento de celebração e euforia, capaz de cativar até mesmo os mais incautos. Não obstante, este decisivo embate 'made in England', que fecha a edição 2024/25 da competição, adquire contornos que o tornam um dos mais especiais dos últimos tempos.

Isto porque o derradeiro encontro da prova coloca frente a frente dois conjuntos que realizaram temporadas muito aquém das expectativas em diversos parâmetros. Tanto Spurs como United encontram-se, atualmente, longe da forma ideal e, em última instância, dos tempos áureos.

Considerados membros integrantes dos proclamados 'Big-6' em Inglaterra, a presente época de ambos os clubes afasta essa permissa por completo. Perante as dificuldades apresentadas pelos dois emblemas ingleses, decidimos vasculhar na nossa vasta base de dados e encontrámos um dado que apimenta a disputa em causa.

O pequeno detalhe que torna o encontro um pouco mais emocionante prende-se com o facto de existir uma forte possibilidade de o vencedor desta edição da Liga Europa se tornar o pior classificado a nível interno (competições nacionais) a conquistar uma prova europeia na mesma temporada.

Confuso, caro leitor? Ora, nós explicamos. Embarque nesta jornada de análise, onde serão abordados os possíveis cenários em cima da mesa, bem como as respetivas épocas dos emblemas de Londres e Manchester e duas histórias de equipas que protagonizaram marcas idênticas.

Os possíveis desfechos na classificação

A uma jornada do término da Premier League, tanto Tottenham como Manchester United situam-se nos dois lugares imediatamente acima da linha de água - 17.º e 16.º, respetivamente. Em caso de derrota ou empate para ambas as formações no último jogo para o campeonato, o vencedor da prova europeia fica automaticamente na história como o clube com pior registo em termos classificativos a triunfar na Europa.

Todavia, caso seja o United a levantar o caneco e vença a última partida na Premier League, podendo alcançar, assim, a 14.ª posição da tabela - condição que depende dos desfechos das partidas de Wolves e West Ham -, os pupilos de Amorim igualam o feito em vigor relativamente à equipa que conquistou uma prova europeia estando situada o mais no fundo da tabela de sempre. Curiosamente, os Hammers são detentores desta atípica marca.

Fica, assim, na retina uma pertinente questão: de que forma estão a ser pautadas as temporadas de Tottenham e Manchester United para que os históricos ingleses ocupem posições tão dispares do habitual?

Manchar os pergaminhos de Manchester?

Habituado a serpentear pelos maiores palcos e a conviver no seio dos audazes, o passado recente do Manchester United foi tudo menos condizente com os anos dourados do histórico emblema inglês. Ruben Amorim foi o escolhido para guiar os Red Devils a bom porto, porém foram nítidas as dificuldades encontradas pelo timoneiro luso em águas britânicas.

Mesmo tendo ainda em conta as possíveis oscilações na classificação, esta será a temporada em que o United vai ocupar o pior lugar da tabela na era Premier League, sendo que, para encontrar um registo semelhante, é preciso recuar até à temporada 1989/90, quando os Devils terminaram a Division One na 13.ª posição, com 48 pontos.

A turma de Amorim soma, para já, 18 derrotas - iguala o pior registo desde a época 1961/62 - e somente dez triunfos - o sexto pior número de vitórias na história do clube.

A produção ofensiva dos comandados de Amorim fica também muito aquém do esperado. Em termos ofensivos, o Manchester United anotou apenas 42 golos em 37 partidas, dado que representa o quarto pior registo de sempre pelo conjunto inglês na liga inglesa.

Ainda assim, a presença na final da Liga Europa garante algum alento para o Manchester United, que pode terminar a época com uma conquista europeia,. Desta forma, ainda é possível garantir um lugar na próxima edição da Liga dos Campeões e finalizar o ano desportivo de forma ligeiramente mais risonha.

Tábua de salvação para Ange Postecoglou?

«Normalmente, nas minhas segundas temporadas, conquisto coisas. Olhei sempre para esse caminho.»

O mote para 2024/25 foi dado pelo técnico Postecoglou logo no início da temporada, após a derrota caseira (0-1) frente ao rival Arsenal. Agora, na reta final da época, o australiano tem na sua mão uma oportunidade de ouro para terminar com uma seca de títulos que dura desde... 2008!

Ainda assim, importa salientar que o Tottenham não tem tido vida fácil a nível nacional. Os Spurs ocupam, para já, a 17.ª posição da Premier League e caminham a largos passos para firmar a pior prestação de sempre na competição.

A turma londrina detém já o maior número de derrotas (21!) na era Premier League - os pupilos de Postecoglou superaram a marca negativa de 19 desaires, firmada em 2003/04 - e o número de vitórias (11) é o terceiro mais baixo na história do clube.

Não obstante, existe um condimento que pode alegrar ligeiramente os adeptos dos Spurs. Isto porque Ange Postecoglou é o técnico do Tottenham com a melhor média de pontos registados (2.14 por jogo) em provas europeias em 17 anos, superando a ex-marca anotado pelo atual presidente do FC Porto, André Villas Boas (2.10 pontos por jogo).

Perto da despromoção e vencer na UEFA? Prazer, Inter de Milão

Casos como a final da Liga Europa deste ano são raros, mas não únicos. Para encontrar o primeiro exemplo de uma restrita lista, é necessário rumar a Itália e recuar... 31 anos.

Campeonato italiano de 1993/94. Ao admirar esta longínqua temporada, o primeiro detalhe que suscita curiosidade prende-se com a conquista do campeonato por parte do AC Milan, após ter anotado somente 36 golos(!) e sofrido 15 tentos. Um registo surpreendente tendo em conta o futebol moderno - catenaccio puro no seu esplendor.

Contudo, as premissas surpreendentes não ficam apenas por aqui, já o que o principal rival - Inter de Milão - terminou a temporada no 13.º posto da tabela, com 31 pontos, escapando por uma unha negra à despromoção (havia quatro equipas a descer, do 15º para baixo).

Ainda assim, os pupilos de Giampiero Marini esmeraram-se a nível internacional e deram cartas na Taça UEFA desse ano - destaque, também, para a caminhada do Boavista, que apenas terminou nos quartos.

Com um percurso atribulado - mas meritório -, os italianos bateram Rapid Bucuresti, Apollon Limassol, Norwich City, Dortmund e Cagliari para alcançar a final da competição.

Desta forma, o emblema italiano ficou em posição delicada a nível interno, mas sagrou-se detentor do troféu - com um triunfo diante do Casino Salzburg - e conquistou o acesso à mesma prova no ano seguinte.

Competitividade na Premier League, 'passeio'  na Conference

Outro exemplo de uma equipa que terminou a prestação interna no pelotão inferior e levantou um caneco na mesma temporada foi protagonizado por um velho conhecido de Spurs e United: o West Ham.

O emblema londrino finalizou a edição 2022/23 da Premier League na 14.ª posição, a apenas seis pontos da zona de despromoção, mas adquiriu o direito de participar na Liga Europa, na época seguinte, ao conquistar a Conference League.

A turma orientada pelo escocês David Moyes completou uma imaculada fase de grupos - seis vitórias em seis partidas - e tombou, com alguma facilidade, AEK Larnaca, Gent e AZ Alkmaar no caminho até à final, disputada entre irons e Fiorentina.

No derradeiro embate, Said Benrahma abriu as hostilidades, aos 62 minutos, antes de Giacomo Bonaventura (67') igualar pouco depois. O equilibrado e animado duelo foi somente resolvido na reta final, graças a Jarrod Bowen, que recebeu um passe nas costas da defensiva contrária, arrancou e resolveu a favor dos ingleses. Um golo fundamental para o West Ham colocar as mãos no troféu e adoçar uma época mais amarga na liga.

Ainda assim, visto que nenhum dos exemplos mencionados anteriormente se refere às 15 edições já disputadas da Liga Europa - nomenclatura da prova foi alterada em 2009 -, é seguro dizer que Tottenham ou Manchester United tornar-se-á o pior classificado a nível nacional a conquistar a competição - a atual marca pertence ao Sevilla, que terminou a temporada 2022/23 no 12º posto e sagrou-se vencedor da Europa League nessa mesma temporada.

Os dados estão, assim, lançados e as dúvidas são retiradas a partir das 20 horas.

Postecoglou ou Amorim - qual dos técnicos irá encerrar a temporada um pouco mais sorridente e inserir o nome do seu conjunto nesta restrita lista de vencedores incomuns?