Zerozero
·29 settembre 2025
Sem precedentes: desperdício do FC Famalicão é recordista

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·29 settembre 2025
O jogo que fechou o domingo desportivo da Liga Portugal Betclic ficou marcado por um verdadeiro festival de desperdício. Famalicão e Rio Ave até proporcionaram um bom espetáculo de futebol aos presentes no Municipal, porém, não houve anti-histamínico que resolvesse a alergia que as equipas sentiram aos golos...
No total, foram 3.5 golos esperados (xG) desperdiçados e toda a partida, 2.9 pelo Famalicão e 0.6 pelo Rio Ave, números bem acima do normal na Primeira Liga. Os números incomuns fizeram-nos ir à procura: será que alguma equipa já criou 2.9 xG sem conseguir marcar qualquer golo?
Podemos ver o jogo sem olhar para as estatísticas, mas não podemos olhar para as estatísticas sem ver o jogo.
No futebol moderno, os chamados expected goals (xG) tornaram-se uma das métricas estatísticas mais discutidas e utilizadas por analistas, clubes e até adeptos atentos. Este conceito nasceu da necessidade de ir além do resultado cru - golos marcados ou sofridos - para medir a qualidade real das oportunidades criadas durante um jogo. Em vez de se limitar a dizer que uma equipa rematou um determinado número de vezes, o xG permite avaliar qual a probabilidade desses remates de resultarem em golo, oferecendo assim uma fotografia mais fiel do desempenho ofensivo.
O cálculo dos expected goals baseia-se em modelos estatísticos que analisam milhares, por vezes milhões, de lances anteriores. Cada remate é comparado com situações semelhantes registadas em bases de dados. Varia mediante a posição em campo, o ângulo para a baliza, a distância, o tipo de remate (pé direito, pé esquerdo, cabeça), a forma como a bola chegou ao jogador (cruzamento, passe rasteiro, ressalto) e a posição do guarda-redes.
A partir dessa comparação, atribui-se a cada oportunidade uma probabilidade de ser convertida em golo.
Por exemplo: um remate dentro da pequena área, de frente para a baliza e sem oposição, pode ter um xG próximo de 0,8, ou seja, uma probabilidade de 80% de resultar em golo. Já um disparo de fora da área, de um ângulo apertado e com defensores por perto, pode ter um xG de 0,05, representando apenas 5% de hipótese de sucesso. A soma de todos os xG de uma equipa ao longo de um jogo revela se esta está a criar oportunidades de qualidade ou a depender de remates improváveis.
A métrica ganhou popularidade e palco no espaço mediático porque ajuda a explicar situações em que o resultado não reflete necessariamente o que aconteceu em campo. Uma equipa pode perder por 1-0, mas registar 2,5 xG contra apenas 0,5 do adversário, sugerindo que teve mais e melhores ocasiões para marcar, embora a finalização, a sorte ou a inspiração do guarda-redes tenham ditado o contrário. Assim, o xG tornou-se também uma ferramenta de justiça analítica, que revela tendências de rendimento que os golos, muitas vezes aleatórios, escondem.
Sendo os golos esperados uma métrica relativamente recente na análise, principalmente no campeonato português, a mostra para a análise histórica desta estatística é significativamente reduzida. Ainda assim, permite-nos chegar a uma conclusão: desde o início da temporada passada, nenhuma equipa que não marcou num jogo criou tantos xG como o Famalicão diante do Rio Ave.
Foram 28 remates dos famalicenses - recorde nesta edição do campeonato -, em que apenas cinco deles foram na direção da baliza e dois embateram no poste (não contam como remates à baliza. Este número, aliando aos onze cantos - terceiro registo mais alto do campeonato até ao momento - e aos 58% de posse de bola, mostram que o Famalicão merecia mais desde jogo que um simples empate a zeros.
No capítulo dos golos esperados, este foi o quarto número mais alto deste campeonato. Acima do Famalicão neste jogo, apenas Sporting diante do Casa Pia (2.92 xG) e do Moreirense (4.25 xG) e o Benfica diante do Estrela da Amadora (4.22 xG), sendo que nestes dois últimos existiram grandes penalidades (duas no Sporting x Moreirense, uma no Estrela da Amadora x Benfica), o que faz crescer ainda mais o número porque a grande penalidade tem, normalmente 0,76 xG garantidos.
No final de contas, FC Famalicão e Rio Ave levaram um ponto cada um para casa. Ainda assim, a estatística deixa-nos algumas pistas sobre o momento dos famalicenses: a equipa está num bom caminho na criação e tem de melhorar significativamente na concretização.