
Calciopédia
·23 de outubro de 2025
A Juventus perdeu para Real Madrid na Champions League, mas amenizou a sua crise

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·23 de outubro de 2025
A Juventus voltou ao Santiago Bernabéu em uma noite de Champions League. A última visita havia terminado com vitória por 3 a 1 e eliminação honrosa nas quartas de final de 2017-18 – quando o time ficou a segundos de concretizar uma reação histórica e deixou o gramado com muitas reclamações com a arbitragem. Sete anos depois, o cenário é outro: a Velha Senhora vive uma crise de resultados, e o 1 a 0 para o Real Madrid, pela terceira rodada da fase de liga da temporada 2025-26, soa como um reflexo de seus tempos. Ainda assim, pela primeira vez em semanas, o torcedor juventino pôde ver um time competitivo, concentrado, que soube sofrer. Resta saber se isso é suficiente para reacender algo que parece se apagar e amenizar o momento negativo.
Sem vencer há sete jogos, a Juventus de Igor Tudor foi ao Bernabéu com uma proposta clara: não competir com o Real Madrid em talento, mas em estrutura. Com Di Gregorio no gol, o treinador manteve o sistema de três zagueiros – Gatti, Rugani e Kelly –, apoiados pelos alas Kalulu e Cambiaso, que tinham a difícil missão de conter Vinicius Junior e Mbappé. No meio, McKennie e Thuram se revezavam entre o combate e a transição, enquanto Koopmeiners e Yildiz davam apoio a Vlahovic no 3-4-2-1 inicial. O plano tático, que parecia modesto, ganhou contornos de resistência heroica nos primeiros minutos, quando o time merengue tomou o controle absoluto da posse de bola, após um promissor início italiano.
O time de Xabi Alonso, liderado por um meio-campo que unia técnica e mobilidade – Tchouaméni, Valverde, Bellingham e Güler –, começou empurrando os bianconeri para trás, como quem pressiona uma muralha à procura de rachaduras. Mbappé e Vinicius Junior tentavam criar espaços com diagonais curtas e trocas rápidas, mas encontravam em Gatti e Rugani uma linha firme, que bloqueava e recuava no tempo certo. Cada interceptação era celebrada como um gol pela defesa juventina, que, pela primeira vez em muito tempo, parecia coordenada e solidária, sem a presença e liderança de Bremer.
A Juventus se defendia compacta, mas não desistia de responder. O primeiro grande momento veio aos 27 minutos, num raro contra-ataque: Cambiaso escapou pela esquerda, cruzou rasteiro e, após um desvio, Gatti bateu de primeira, exigindo uma defesa de reflexo absurda de Courtois. Foi o único lampejo ofensivo do primeiro tempo para o time italiano, mas suficiente para mostrar que o plano de Tudor – sofrer, resistir e contra-atacar – tinha lógica e, até certo ponto, eficácia.
Di Gregorio foi um dos destaques da Juventus, com três defesas difíceis na Espanha (Getty)
No restante da etapa inicial, o Real Madrid martelou. Mbappé teve uma chance clara ao receber de Díaz e finalizar sozinho dentro da área, mas Di Gregorio fez a primeira de algumas boas defesas da noite. Pouco depois, Éder Militão arriscou de longe, para fora, mas com algum perigo. O placar em 0 a 0 ao intervalo era menos o retrato de um equilíbrio e mais o reflexo de uma Juventus que, mesmo acuada, reencontrava postura – uma virtude que parecia ausente, como evidenciou a derrota para o Como, na Serie A.
No segundo tempo, Tudor manteve a estrutura, mas a Juventus voltou com outra atitude: menos medo, mais iniciativa. Logo no início, Kelly, ao tentar afastar um avanço espanhol, encontrou Vlahovic, que disparou em campo aberto desde o meio-campo, vencendo Militão na corrida. O sérvio avançou pressionado pelo brasileiro e, frente a frente com Courtois, chutou firme – mas o belga conseguiu desviar para escanteio. O estádio, por um instante, silenciou. A Juventus, que tantas vezes pareceu se contentar com o resultado, fazia o Real Madrid suar.
Mas bastou um lampejo para tudo ruir. Aos 63 minutos, Vinicius Junior escapou pela esquerda, driblou Kalulu e McKennie para finalizar e acertar o poste. Na sobra, por algum motivo, Kelly abandonou a marcação em Bellingham, que aproveitou para empurrar a bola para o gol vazio. Foi o tipo de gol que o Real Madrid se acostumou a marcar nesta temporada – não pela força coletiva, mas pela inevitabilidade de impedir que suas estrelas brilhem. E foi também o tipo de golpe que a Juventus parece condenada a sofrer: uma pequena desatenção, um castigo imediato.
Atrás no placar, Tudor tentou ousar. Tirou o capitão Yildiz, Vlahovic, Thuram e um desaparecido Koopmeiners, para colocar David, Openda e Locatelli, além de acionar Conceição para dar velocidade pelos flancos. Mas o Real Madrid, confortável, passou a administrar o jogo com muita tranquilidade. Di Gregorio ainda operou dois milagres – um em chute cruzado de Mbappé e outro na sequência, em arremate de Díaz.
A Juve também teve suas chances, mas não as concretizou e acabou amargando derrota para o Real Madrid (Getty)
Os minutos finais tiveram o sabor amargo da frustração e da resignação. Openda ainda teve uma última chance, após uma tabela com David na área, mas hesitou, demorou demais e finalizou em cima da marcação. Os dois, aliás, até este momento, ainda não desembarcaram em Turim. Tudor, à beira do campo, gesticulava mais pela alma do que pelo resultado. No apagar das luzes, Kostic, que substituiu Cambiaso, ainda viu Courtois operar mais uma boa defesa, em chute de fora da área. Quando o árbitro esloveno Slavko Vincic apitou o final do jogo, a Juventus não comemorou, mas também não se envergonhou. Foi derrotada com dignidade – e isso, na fase atual, já é algo.
Com o resultado, o Real Madrid mantém os 100% de aproveitamento no torneio, enquanto a Juventus soma apenas dois pontos em três rodadas, ficando temporariamente fora da zona de classificação ao mata-mata da Champions League. É um retrato cruel de um time que tenta se reerguer, mas esbarra na própria inconstância. A Juve parece estar em um ciclo sem fim: várias partidas já foram consideradas um “ponto de virada” para a Velha Senhora até aqui, e nenhuma foi realmente efetiva. O resultado deste 22 de outubro foi benéfico, dado o momento atual da equipe; porém, este confronto não se tornou um clássico continental apenas pela grandeza de um lado. O pouco não pode ser muito.
A Juventus que enfrentou o Real Madrid em julho, pelas oitavas da Copa do Mundo de Clubes, não evoluiu desde aquela derrota pelo mesmo placar. Na data em que este texto é escrito, os rumores sobre uma possível troca no banco de reservas juventino ganham força e, devido ao histórico recente em Turim, Tudor pode não chegar a 2026 empregado. A reação precisa acontecer até o dia 8 de novembro, quando a Velha Senhora jogará o clássico contra o Torino, antes da pausa para a próxima data Fifa. A última vez que os bianconeri ficaram tanto tempo sem vencer foi entre abril e maio de 2009; naquela ocasião, foram oito jogos.
Para tentar dar um pontapé na má fase, no próximo fim de semana a Juventus visitará uma velha conhecida de seu treinador, a Lazio, na capital italiana. E volta a campo pelo torneio continental no dia 4 de novembro, quando receberá o Sporting em busca de sua primeira vitória europeia, no jogo que antecede o já citado duelo contra o Torino. Já o Real Madrid visitará o Liverpool, também no início de novembro, a fim de manter os 100% de aproveitamento na competição.