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·27 de fevereiro de 2024

A quarta geração da família torcendo para o XV de Piracicaba

Imagem do artigo:A quarta geração da família torcendo para o XV de Piracicaba

Ele tem um verdadeiro museu em casa. Guilherme Schmidt Pacheco, o Shime, 27 anos, tem um amor meio inexplicável pelo Esporte Clube XV de Novembro da cidade de Piracicaba, a 160 quilômetros de São Paulo. Tanta paixão acabou fazendo ele ter em sua residência quase 400 itens como camisas, flâmulas, medalhas, bolas, livros, jornais e ingressos sobre a trajetória do clube alvinegro. Para divulgar todo esse acervo ele montou Acervo Quinzista no Instagram, onde apresenta parte da sua preciosa coleção

Shime explica que a paixão pelo XV começou pelo avô, Álvaro. Depois, prosseguiu com o pai, Ruy, e ganhou nele um dos maiores fanáticos pelo Nhô Quim, apelido que o clube ganhou. Agora, ele tenta passar sua entrega pelo alvinegro para a filha Vitória, de seis anos.


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“Hoje, ela frequenta os estádios, vai em caravanas comigo em jogos fora de Piracicaba comigo e com a minha esposa. Então, já é uma paixão que vem de berço e que vem de geração a geração”, diz.

O colecionador conversou com o Última Divisão sobre seu acervo, as SAFs no futebol interiorano e o atual momento do XV de Piracicaba, que disputa o Campeonato Paulista da Série A2.

Última Divisão: Como surgiu sua paixão pelo XV?

Shime: Essa paixão vem de família. Ela passou do meu avô para o meu pai, meu pai passou pra mim e de mim passou pra minha filha. Então, já é um amor enraizado na cultura da minha família também há várias gerações. E eu busco passar isso para a minha filha da melhor forma possível. Hoje ela frequenta os estádios, vai em caravanas comigo em jogos fora de Piracicaba comigo e com a minha esposa. Então, já é uma paixão que vem de berço e que vem de geração a geração. Um amor hereditário.

UD: Qual você considera a maior loucura que já tenha cometido pelo clube?

S: Eu creio que a maior loucura que eu fiz atrás do XV foi ter ido assistir São Paulo de Rio Grande e XV de Piracicaba, em 2017 pelo Brasileirão da Série D, em Rio Grande, Rio Grande do Sul. Ida e volta são mais ou menos 3 mil quilômetros. E nessa época ela tinha acabado de ter a minha filha, eu acho que ela tinha no máximo 15 dias de vida. Acredito que essa seja a maior loucura. A gente retornou num domingo à noite, e na segunda a gente teve de trabalhar. A gente voltou com a eliminação na bagagem. Mesmo ganhando de 4 a 3, o XV foi eliminado. Creio que em termos de acompanhar o XV essa foi a maior loucura até o momento.

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Imagem: Acervo pessoal

UD: Na sua opinião, qual é o maior rival do XV?

S: Eu considero a Ponte Preta. Só que tem outros também que fazem uns jogos mais acalorados aí e isso vem de geração para geração. Existiram confrontos pesados contra o Guarani, o contra o Comercial de Ribeirão. Mas, para mim, se alguém me perguntasse, eu afirmo que a Ponte Preta é nossa maior rival.

UD: Como surgiu a ideia de colecionar camisas do time?

S: A ideia de fazer esse acervo surgiu numa conversa entre o meu pai e eu no começo da pandemia. Isso foi quando estava num momento muito crítico, quando ninguém saia de casa. Eu já tinha algumas camisas do XV, só que eu não tinha ideia da quantidade. Então, eu tinha algumas camisas antigas só que eu nunca tive cuidado com elas, elas ficavam em saco plástico, tal. Foi quando eu tive essa ideia com o meu pai de catalogar todas elas: tirar foto uma por uma, ver o ano, descobrir quando foi usada. Quando a gente deu esse pontapé inicial, a gente já tinha 62 camisas. Então, a gente já era colecionador, mas não sabia. Não era tão aficionado assim. E também não cuidava os devidos cuidados. A partir dessa conversa que surgiu com meu pai com a ideia de ter uma preservação da história do XV para o futuro. O nosso intuito maior é a preservação da história do Nhô Quim. A partir desse dia a gente passou a comprar arara pra camisa, comprar manequim, comprar suporte. E hoje tem os seus devidos cuidados, tudo certinho.

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UD: Quantos mantos você tem da equipe?

S: Hoje, a coleção conta por volta de 350, 400 camisas. Só que a coleção é composta por outros itens também como medalha de campeão, bola, flâmula, ingresso, luvas, livros antigos, jornais. É uma coleção bem ampla. Mas o foco principal mesmo são camisas.

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Imagem: Acervo pessoal

UD: Qual é o item mais raro ou o xodó da sua coleção?

S: É duro de escolher um. Eu tenho camisa da década de 1970, flâmula da década de 1960. São itens que pra arrumar outro são difíceis, itens que têm um valor histórico e sentimental grande. Tenho uma camisa que é o meu xodó que é a camisa que o meu avô utilizava nos jogos quando íamos com ele no estádio. Era a camisa que ele usava pra frequentar os estádios. Durante um tempo, a camisa andou sumida, e ele acabou falecendo. Até que uma tia minha achou. Daí eu a peguei e com certeza agrega valor sentimental enorme na coleção. Como te falei: um amor hereditário que começou com eles e consegui obter essa camisa que ele ia nos jogos foi um feito e uma alegria muito grande.

UD: O XV foi tido como um dos maiores favoritos da Série A2 de 2024. Mas vem oscilando bons e maus momentos. Como você analisa essa temporada?

S: O XV não vem num bom momento. Conseguimos firmar agora a segunda vitória na competição (1 a 0 contra o Juventus, oitava rodada). Praticamente entramos agora de cabeça no campeonato. Mas o XV pela história que tem, pela camisa pesada que tem, o Nhô Quim tem que entrar forte. Não digo como favorito, mas entrar forte em todo campeonato que disputa. Ele é o maior campeão da Série A2 com seis títulos. Então, o XV tem que entrar não como favorito, mas entrar forte, com investimento bom em todo campeonato que disputa. Assim como na Copa Paulista, onde a gente dois títulos.

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Imagem: Acervo pessoal

Mas o futebol mudou muito. Camisa pesada hoje não ganha mais título, história não ganha título. Se o time não tiver uma gestão boa, um treinamento legal, alguém correndo junto com o elenco, infelizmente não vai. Só a camisa pesada mesmo não vai conseguir o acesso. Eu creio que o XV vindo dessa segunda vitória o time está se encaixando. E eu acredito que a gente possa colher bons frutos no futuro. Tem que dar continuidade no momento de agora. Tem de acreditar, continuar, não pode perder pontos bobos para adversários que estão brigando lá embaixo. É fazer o dever de casa e tirar o máximo de pontos fora. Mas como falei: se não tiver uma gestão ali padronizada, correndo junto com o elenco, infelizmente não vai pra frente. Tem que estar como se fosse uma balança: conciliar os dois lados e colher bons frutos. Mas eu acredito que vai dar certo, se Deus quiser. A gente precisa porque desde 2017 estamos fora da primeira divisão.

UD: O Paulo Roberto parece ser um bom treinador para este tipo de competição. Qual a sua avaliação do trabalho dele?

S: O Paulo Roberto sempre foi um sonho da torcida quinzista – tanto que ele carrega diversos acessos no currículo. Só que não sei se ele está no melhor momento dele hoje. Ele tem o nome, tem a carreira dele. Mas eu creio que vai acabar dando certo. Se você analisar os últimos times dele ,sempre foram times cascudos de mata-mata, de chegar junto no mata-mata. Mas sempre dá aquela oscilada na competição. Então, o próprio São Bento mesmo, teve o Pouso Alegre depois. Os times dele parece que sempre encaixam depois. Mas no decorrer do campeonato, sempre dá aquela oscilada. A torcida está confiante, eu falo por mim: eu confio no trabalho dele. Nas entrevistas dele vejo sendo um cara íntegro, honesto, de trabalho. A expectativa é sempre a melhor possível, né? A gente vai dar a volta por cima, sair dessa Série A2 que é um fantasma que está assombrando a gente faz tempo.

UD: Um fato que repercutiu na imprensa foi a venda de Beraldo para o exterior. O XV como clube formador deve receber um dinheiro alto. Como esse fato repercutiu na torcida? Na sua opinião, qual deve ser a prioridade deste montante?

S: A questão da venda do Beraldo é como se fosse a cereja do bolo pro XV. Porque nunca na história do clube se ouviu falar em tanto dinheiro assim. Eu creio que seja por volta de 19 ou 20 milhões. É muito dinheiro. Sei que o XV tem dívidas, tem valores para acertar. Eu creio que o mínimo de tudo é o clube ter um CT, ter um centro de treinamento. Pegar um exemplo: o Mirassol pegou acho que 8 milhões na venda do Luís Araújo quando foi vendido. O CT que o Mirassol fez é de primeiro mundo, o nível deles lá é absurdo. Então, é quase que um terço do valor que o XV vai receber. Lógico que a prioridade é quitar as dívidas, deixar o clube zerado. Mas pra mim o mínimo é ter um CT, um centro de treinamento com academia, campos para treinar. O básico é esse. A gente tem que ficar esperto, controlar e ver para onde será destinado esse dinheiro. Porque é muito dinheiro. Pelo menos no XV nunca se ouviu tanto dinheiro assim.

UD: Existe alguma camisa ou item do XV que sonha em ter na sua coleção?

S: Então, existem algumas lacunas na coleção. Mas uma camisa que eu sonho conseguir um dia é a camisa de 1967 quando o XV foi campeão em cima do Bragantino. Pra você ter ideia, eu nunca vi essa camisa. Essa camisa tem uma história muito forte, da época aqui que o (Humberto) D’Abronzo era presidente do XV. Também tem outras da década de 1970 ou da própria década de 1980 também que são itens difíceis de conseguir. Quem sabe um dia a gente consiga ter essas para agregar tanto na coleção como na questão da história do XV. Uma coisa que eu busco há muito tempo é a medalha de campeão da Série C de 1995. Essa daí eu ainda estou na luta para conseguir.

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Imagem: Acervo pessoal

UD: Muito se discute no futebol hoje em dia de clubes tradicionais tornarem-se SAF. Mas vamos na Série A2 casos como do Monte Azul e do Primavera não foram tão bem sucedidos. O São José parece que sim. Na sua opinião, essa pode ser uma alternativa para o XV e outros times tradicionais?

S: Essa questão de SAF, eu acho muito pessoal de cada um. Eu, não aceitaria, de maneira nenhuma o que foi feito no Bragantino ser feito no XV. Pra mim, matou o Bragantino, sabe? Perdeu a identidade, escudo, trocou tudo. Teoricamente o Bragantino não existe mais. Isso eu não aceitaria no XV de forma alguma. Só que em contrapartida a gente vê boas SAFs como no caso Mirassol, Novorizontino, o próprio São José. Então, eu acho que esse deva ser o futuro das equipes ter um algum investidor por trás, alguém comandando. Mas não vender pra qualquer um. Ter uma pessoa por trás do clube pra poder gerir isso da melhor forma possível. Tem outros casos de SAF que não deram certo: o Gama, o Botafogo de Ribeirão, a própria Ferroviária. Eu creio que tiver uma pessoa com boa índole por trás dessa SAF eu creio que seja um caminho correto a se seguir. Mas agora se for apenas para fazer lavagem de dinheiro, aí o buraco é mais embaixo. Então, o XV tenha que ter alguém por trás mesmo. O Nhô Quim hoje no momento, o documento está OK. O XV é uma SAF, está autorizado para receber as propostas. Ele é uma SAF aguardando as propostas. Eu acho que esse deva ser o futuro dos clubes.

UD: O XV não terá uma competição de nível nacional no segundo semestre. Como você analisa isso? Você acredita que a Copa Paulista ajude os clubes menores?

S: O XV não jogar um Brasileiro no segundo semestre é muito deficitário, é ruim, é horrível na verdade. Primeiro porque você vai fazer contrato com o jogador. Você acha que o cara quer fechar contrato para jogar Série A2 e Copa Paulista? O cara não quer. A Série A2 tem uma vitrine enorme, muito maior do que diversos estaduais. O jogador atua uma Série A2 num nível OK, no segundo semestre ele vai ter um calendário, ele vai ter uma Série C pra jogar.

Pra mim, a Copa Paulista é legal porque movimenta os clubes que não tem divisão. Só que eu acho que é uma competição muito deficitária. Tem diversos clubes ali que entram por entrar, jogam só pra jogar, não tem objetivo maior. Você pode perceber que sempre são três, quatro clubes que estão destinados, com o objetivo de chegar até a final, querer a vaga. O XV ano passado como eu falei pra alguns amigos: uma competição tão importante foi tratada de uma forma tão amadora aqui. Eu estive presente em 13 dos 14 jogos que o XV fez, só não consegui justamente ir em Araraquara por um compromisso pessoal que eu tive com a minha filha. Mas o resto eu fui.

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